No espaço, os visitantes podem conferir como o artista trabalhava. Estão
expostos estudos dos painéis que marcam a arquitetura de Brasília
Mostra Acervo: recortes, em exibição até 23 de abril na galeria da
Fundação Athos Bulcão, exibe documentos, projetos e plantas do artista
Parque da cidade, Igrejinha, Câmara dos Deputados. Diversos são os
pontos que abrigam painéis, azulejos e peças de Athos Bulcão, o artista
pioneiro que marcou a história da capital. É quase impossível não conhecer ou
não ter visto alguma obra dele pela cidade. Pouca gente, no entanto, sabe
detalhes do processo que levou à criação das imagens que decoram Brasília. É
essa oportunidade que a mostra Acervo: recortes apresenta ao público até 23 de
abril na galeria da Fundação Athos Bulcão.
“Nós
mostramos um pouco do fazer mais antigo de Athos. Temos algumas peças do
primeiro jeito que ele fazia, de como pensava o trabalho que produziu”, conta a
curadora e secretária administrativa da Fundação, Valéria Cabral. Os visitantes
terão acesso, por exemplo, às primeiras versões e ao estudo dos painéis do
Parque da Cidade. O artista inicialmente projetou os azulejos em amarelo e laranja;
a versão final, porém, está em preto e branco (veja quadro).
“Ele se divertia muito, gostava muito de desenhar. Depois da convivência
com Portinari, a sensibilidade dele com a cor ficou muito forte e ele
experimentava muito”, conta Valéria. Plantas e desenhos de outros painéis, como
os da Torre de TV e do Brasília Palace Hotel, também fazem parte da exposição,
além de réplicas dos azulejos — produzidas pelo mesmo fabricante que fornecia
ao artista.
A mostra com os trabalhos prévios de Athos é a primeira a expor o acervo
que a fundação pretende exibir em sua totalidade até o fim de 2016. “Como temos
uma galeria pequena, dividimos o grande acervo que temos em várias mostras. A
intenção é mostrar tudo durante o ano”, explica a curadora.
Tecnologia
Na exposição, o público poderá ver algumas fases do trabalho do artista,
evidenciando a passagem histórica e os avanços que ocorreram no modo de
produzir de Athos. Mudanças provocadas pela evolução tecnológica, por exemplo,
ficam explícitas com os projetos disponibilizados. “No início, ele usava papel
cartão do tamanho do azulejo, pintava e fazia os experimentos para os painéis.
Com o tempo, ele passou a já imprimir o azulejo e, então, a fazer os testes”,
explica Valéria.
A carioca
Ana Isis, 48 anos, professora e programadora visual, aproveitou a visita a
Brasília para conhecer de perto o espaço dedicado à obra do artista. “Eu também
trabalho com padrões, então, admiro muito Athos, a obra, o que ele faz usando
os padrões é perfeito”, comenta Ana, que tem obras de Bulcão em uma parede de
casa. Marido de Ana, o advogado Agnelo Rossi, 54, se considera um mero
admirador de arte, mas arrisca comentar o trabalho de Athos. “Eu acho
fantástico o modo como ele utiliza essa aparente falta de formas para
justamente criar uma forma maior e incrível”, diz, e, logo, pergunta à mulher
se está falando alguma bobagem. “Ela é que entende de arte, eu só aprecio”,
justifica, com bom humor, o advogado.
O
economista Aloisio Gomes, 48 anos, aproveitou para levar a filha Bárbara, 6,
para conhecer as obras. “Acho fundamental para o desenvolvimento cultural delas
levar as crianças desde cedo para ter contato com obras de arte”, acredita. No
caso de Athos, ele considera também o conhecimento histórico que pode ser
passado à filha. “É uma forma de conhecer melhor a cidade, ele foi um pioneiro,
tem uma ligação muito grande com Brasília, que é fundamental transmitir a ela”,
expõe.
O
economista reclama apenas do espaço reduzido que é destinado à mostra e à
fundação. “Um trabalho tão importante merecia estar em um lugar maior, em uma
galeria mais ampla. Governo e empresas poderiam se unir para isso”, observa. A
curadora Valéria Cabral explica que dividir o acervo em várias pequenas mostras
foi a forma que a fundação encontrou para driblar a falta de espaço: “Já que
não temos uma galeria maior, vamos mostrar o acervo um pouco de cada vez”. Se a
ideia de expor todo o acervo até o fim de 2016 não for possível, Valéria
garante continuar. “Se não der tempo de mostrar tudo, no ano que vem
continuamos.”
Anote - Mostra Acervo: Recortes
» De segunda a sexta, das 9h às 18h. Sábado, das 10h às
17h - Entrada gratuita Fundação Athos Bulcão — CLS 404,
Bloco D, Loja 1- Nós
mostramos um pouco do fazer mais antigo de Athos. Temos algumas peças do
primeiro jeito que ele fazia, de como pensava o trabalho que produziu”- (Valéria
Cabral, curadora e secretária administrativa da Fundação Athos Bulcão)
Processo criativo
Parque da cidade
» Os conhecidos azulejos em preto e branco do Parque da Cidade foram
pensados inicialmente por Athos Bulcão para terem também as cores laranja e
amarelo
Brasília Palace
» Na planta desse projeto, o artista pensou em
azulejos de 11cm². Pela dificuldade em encontrá-los na época, foi preciso
utilizar peças de 15cm².
Torre de TV
Torre de TV
» A planta que deu origem ao painel na Torre de TV
faz parte da mostra. Os visitantes podem comparar com réplicas dos azulejos
prontos expostos ao lado do projeto.
Fonte: Alexandre de Paula
- Especial para o Correio Braziliense – Fotos: Zuileika de
Souza/CB/D.A.Press -