A boa posição da capital não
significa que ela não esteja exposta a impactos ambientais
Estudo aponta necessidade de
adaptação de obras de mobilidade por causa das constantes mudanças climáticas
vividas pelo planeta no último século. Mesmo em uma situação confortável,
Brasília precisa tomar cuidados a fim de evitar problemas
As mudanças climáticas estão no dia a dia dos
moradores das cidades brasileiras. Na mobilidade, a ligação torna-se ainda mais
sensível — nos dias de tempestades, o trânsito para; nos de intenso calor, a
malha asfáltica pode deformar e, com o tempo, deixar o fluxo mais lento. Diante
desse novo cenário, é preciso levar em conta as modificações no clima para os
projetos urbanísticos futuros. Por isso, um grupo de pesquisadores elaborou um
estudo intitulado Adaptação às mudanças climáticas na mobilidade urbana, que
será apresentado hoje na sede do Ministério das Cidades. Ele vai nortear as
políticas públicas nos municípios do país.
O Instituto de Políticas de Transporte e
Desenvolvimento (ITDP Brasil) elaborou o estudo, que coloca Brasília em uma
posição confortável entre as cidades menos vulneráveis à adaptação da
mobilidade urbana em relação ao clima. A capital do país perde somente para
Belo Horizonte. Entre as capitais que merecem atenção especial da população e
do poder público estão Salvador, Maceió e Porto Velho.
A situação de Brasília não diminui os cuidados que
a cidade deve tomar com os impactos ambientais, alerta o estudo. Assim como em
outros lugares, o ir e vir dos moradores vem sendo, sistematicamente,
prejudicado pelas mudanças climáticas. As chuvas fora de época e a grande
estiagem do fim do ano são exemplos disso. O brasiliense passou a conviver com
tesourinhas inundadas e carros submersos, além de alagamentos como o da Vila
Cauhy, no Núcleo Bandeirante, no início deste ano.
Daniel Orbeling, responsável pelo estudo, explica
que a capital federal sofre os impactos ambientais, porém, a capacidade da
cidade de se adaptar faz com que ela suba posições no ranking dos municípios
menos vulneráveis. “Brasília adapta-se por causa da renda e da estrutura
institucional. Há uma finança pública mais favorável do que em outras cidades”,
comenta. Orbeling destaca que o estudo é um norteador, mas que as autoridades e
a população locais poderão entender melhor as necessidades próprias.
No caso de Brasília, os caminhos longos, com média
de viagem de 39 minutos, e o intenso uso do carro, em detrimento a transportes
coletivos, como metrô e ônibus, deixam os deslocamentos mais vulneráveis. Mesmo
assim, não é atingida com intensidade semelhante, como ocorre no Rio de
Janeiro, em Salvador e em Manaus, por exemplo. “Qualquer tipo de perturbação
cria transtornos, mas aqui isso acontece em nível menor do que em outras
cidades brasileiras”, afirma Orbeling.
Adaptação
Embora a capital tenha 24,5% dos domicílios em
áreas irregulares, como o terreno é plano, há poucas enxurradas e
deslizamentos. “No Rio de Janeiro, por exemplo, as invasões são em morros. Uma
tempestade pode gerar deslizamentos e impedir a mobilidade”, defende Daniel
Oberling. Para o pesquisador, o Distrito Federal deve se apropriar da
capacidade de adaptação. “Brasília tem que buscar entender as vulnerabilidades
e atacar problemas pontuais, para evitar problemas maiores.”
Os índices elaborados pela pesquisa não são
estáticos e devem ser atualizados com o tempo. Orling explica que o
planejamento deve ser feito pensando em um futuro de temperaturas mais altas e
eventos climáticos extremos. “Hoje, as obras públicas de drenagem de trilhos e
de asfalto são pensadas levando em conta a série histórica climática. Temos que
trabalhar sob outra perspectiva. Nos últimos 10 anos, registramos as
temperaturas mais altas desde o início dos estudos. A pesquisa foi patrocinado
pelo Ministério das Cidades e pela Embaixada Britânica.
Índice de vulnerabilidade
Capitais
menos expostas
1. Belo Horizonte
2. Brasília
3. Curitiba
4. Palmas
5. Vitória
Capitais mais
expostas
1. Salvador
2. Maceió
3. Porto Velho
4. Belém
5. Manaus
Fonte: Flávia maia – Foto: Heliomonteferre/Esp.CB/D.A.Pres
– Correio Braziliense