De todos os diálogos de Lula, captados pela Polícia
Federal e que vieram agora ao conhecimento da população, nenhum é tão
significativo e sintomático quanto a confissão feita por ele à presidente Dilma
de que estaria “sinceramente assustado com a república de Curitiba”.
A alusão à República do Galeão de 1954, que antecedeu e, de certa forma,
catalisou os acontecimentos que levaram ao suicídio de Getúlio Vargas, é clara,
mas objetiva e historicamente imprecisa e falsa. Trata-se aqui, mais uma vez,
do tradicional método leninista de falsificar os fatos, moldando acontecimentos
do passado a imagens do presente, distorcendo a verdade e dando-lhe roupagem
nova, feita sob medida para induzir o público a erro de avaliação.
A insistência de Lula em fundir sua imagem à do ex-presidente Getúlio
Vargas é recorrente e tem como pano de fundo apenas uma estratégia marqueteira
de reforçar a imagem populista e real de pai dos pobres, conferida a Vargas,
mas que, em absoluto, se encaixa no perfil do petista. Comparar Vargas com Lula
beira a sandice. Quem se interessa por história reconhece nessa comparação
apenas mais um estelionato.
Já para quem se interessa por psicanálise e, de algum modo, quer
entender um pouco sobre o senhor Lula, um bom começo é assistir ao filme Zelig,
de Woody. Nessa história, Leonard Zelig, sofre de estranho distúrbio de
personalidade que o leva a se comportar como camaleão. Recorrendo à mentira
sistemática, o personagem se faz passar por outras pessoas.
Esse comportamento decorre de vontade inconsciente de se sentir
pertencente e ser aceito pela sociedade e, de certo modo, se ajustar à vida em
seu redor. Dentro da teoria do coitadismo, o que o ex-presidente pretende e
tenta passar adiante, de fato, na nomeada “república de Curitiba” é a sua própria
versão de que existe uma perseguição movida pelas elites odiosas contra sua
pessoa, seu governo e seu pretenso legado em prol dos menos favorecidos.
Na verdade, o que assusta Lula na república de Curitiba é justamente a
desconstrução de sua imagem moldada com esmero pela máquina de propaganda
personalista, azeitada com muitos milhões de reais e cujos artífices estão no
catre, aguardando companhia. O problema com ídolos de pés de barro é que, na
intimidade, à luz iconoclasta da verdade, eles são apenas fantasmas.
***
A frase que foi pronunciada
“A Justiça tem numa das mãos a balança em que pesa
o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a
balança é a força brutal, a balança sem a espada é a impotência do direito.”
(Rudolf
Von Jhering)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido – Ari Cunha- Correio Braziliense - Foto/Ilustração: Blog - Google