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A história do coronel Affonso Heliodoro: Os 100 anos do fiel escudeiro de JK

Brincalhão, Heliodoro se diverte contando as histórias de Juscelino e de Brasília - Affonso Heliodoro faleceu 

 

"A história do coronel Affonso Heliodoro, amigo de infância e principal assessor de Juscelino Kubitschek, confunde-se com a de Brasília. Morador da cidade que ajudou a construir, ele celebra hoje um centenário de vida"

 

Sessenta anos atrás, Juscelino Kubitschek começava a escrever a história de Brasília, assinando o documento que pedia ao Congresso Nacional a mudança da capital para o Centro-Oeste. Seis meses depois, a construção da cidade tinha início. Da equipe de assessores do presidente que participaram dessa bem-sucedida aventura, apena um está vivo. Fiel amigo e uma espécie de anjo da guarda de JK, o coronel Affonso Heliodoro completa 100 anos hoje. Morando há 35 na cidade que ajudou a tirar do papel, leva uma vida ativa, cercado de amigos e familiares.

 

Heliodoro nasceu em 16 de abril de 1916, mas os pais o registraram só dois dias depois, em 18 de abril. Por causa do atraso, os três dias são sempre festejados por ele, com muitas risadas e histórias — de JK e de Brasília. A amizade de ambos vem da infância na terra natal deles, Diamantina (MG).

 

Aos 6 anos, Heliodoro andava pelas ruas de pedra da cidade mineira carregando pesados tabuleiros de doces, da fábrica onde eram produzidos para as padarias. Aos 7, no dia do aniversário, perdeu o pai durante uma investigação policial em Salinas, no norte do estado. O pai era delegado. A partir de então, a mãe criou, sozinha, os oito filhos.

 

Ainda na infância, Heliodoro teve como professora a mãe de JK, Júlia Kubitschek. Começava ali sua relação com o futuro presidente da República. “Desde então, a nossa convivência foi integral e permanente. JK era uma figura humana excepcional, um administrador incrível e um patriota sem igual. Ele era fantástico. Um exemplo de vida”, ressalta o coronel.

 

Já como integrante da Polícia Militar de Minas Gerais, Heliodoro assumiu o Gabinete Militar no governo do estado, quando Juscelino se elegeu governador. Ainda na esfera mineira, dirigiu o Serviço de Verificação das Metas Econômicas do Governo e o Serviço de Interesse Estadual. Em seguida, participou ativamente da campanha eleitoral de JK para a Presidência.

 

Em BrasíliaHeliodoro esteve ao lado de JK em todos os momentos cruciais da vida do presidente. O coronel fazia parte da comitiva que, na madrugada de 18 de abril de 1956, em uma modesta casa à beira do aeroporto de Anápolis (GO), testemunhou a assinatura do documento pedindo ao Congresso Nacional a mudança da capital para o Centro-Oeste e a criação a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).

 

O coronel também caminhou ao lado de Juscelino na primeira visita do presidente ao sítio da nova capital, em 2 de outubro de 1956. “Isso aqui não era nada. Mas nunca duvidei do sonho de JK. Ele era um homem diferente. Gostava dos desafios e do progresso. E não media esforços para isso. Eu acordava o presidente e apagava a luz do quarto dele todas as noites. Ele era incansável, trabalhava como um louco pelo país”, conta.

 

Para Heliodoro, apesar de toda trabalheira, Brasília é o que de melhor fez na vida. “Nós trouxemos a civilização e o progresso para o Centro-Oeste”, ressalta. O militar da reserva acredita que JK conseguiu cumprir a promessa de transferir a capital porque, entre outras coisas, tinha objetivos claros. “Ele cumpriu todas as metas do plano de governo. Desde então, que administrador brasileiro teve metas claras? Nenhum”, afirma.

 

No exílioMas os planos de Juscelino, de acordo com Heliodoro — que ocupou o cargo de subchefe do Gabinete Civil no governo federal, de 1957 a 1961 —, contrariavam muitos interesses, em especial os norte-americanos. “Eles não tinham interesse no desenvolvimento do país e, por isso, eram visceralmente contrários a Juscelino”, defende.

 

O coronel se lembra da terça-feira em que a ameaça de golpe militar se tornou realidade. “Estava com JK no apartamento dele no Rio de Janeiro. Ficamos atordoados com a notícia, mas ainda não tínhamos noção do alcance daquele atentado à democracia”, destaca. Outros companheiros do ex-presidente acompanharam, assustados, a chegada das tropas à capital fluminense. Os amigos mais próximos temiam pela segurança de JK, pois as intimidações eram constantes.

 

Dois meses depois do golpe, em 3 de junho, Juscelino, então senador, fez o último discurso no Senado. “Na previsão de que se confirme a cassação dos meus direitos políticos, que implicaria a cassação do meu direito de cidadão, sinto uma perfeita correlação entre a minha ação presidencial e a iníqua perseguição que me estão movendo”, frisou. Nove dias depois, ele teve suspenso o mandato e rumou para o exílio, em Paris.

 

A derrubada do então presidente João Goulart foi apenas um pretexto para impedir a segunda eleição de JK à Presidência, diz Heliodoro. “Antes dele, o país importava até caneta esferográfica. No fim do governo, com Brasília construída e estradas abertas, estávamos exportando automóveis. Isso incomodou muita gente”, argumenta. Ele destaca que, em Paris, JK morava em um apartamento pequeno, em um bairro nada glamoroso. “Fiquei um bom tempo com ele lá. Temia pela vida do presidente”, frisa.

 

Em famíliaEm Brasília, entre os anos de 1983 a 1996, Heliodoro assumiu o zelo pelo Memorial JK. Depois, passou a presidir o auditório do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF), do qual, hoje, é o presidente de honra. Na entidade, vai receber homenagens de amigos e familiares, nesse dia do seu centenário. “Heliodoro foi o mais importante braço de Juscelino Kubitschek. É uma pessoa absolutamente correta e agradabilíssima. É um garoto de 100 anos”, destaca Márcio Cotrim, integrante do IHG-DF.

 

Na casa onde mora, no Lago Sul, Heliodoro preserva incontáveis fotografias, livros e documentos sobre o período em que acompanhou JK. Viúvo, pai de três filhos, tem 15 netos e sete bisnetos. Por meio deles, Heliodoro mantém forte vínculo com Diamantina e Belo Horizonte.

 

Para ler  - Livros de autoria do coronel Affonso Heliodoro: » JK — de Diamantina ao Memorial. Brasília: OFF SET Editora Gráfica e Jornalística. » JK — Exemplo e Desafio. 2ª Ed. Brasília: Thesaurus, 1991. » Rua da Glória — histórias de um menino. Brasília: Editora Thesaurus, 1993. » O Memorial JK — um monumento e centro de cultura. Brasília: Verano Editora & Comunicação Ltda, 1996. » Um copo de cerveja. Brasília: Verano Editora, 2001. » Luas de minha caminhada. Brasília: Verano Editora, 2001. » O dragão da lua e a ninfa Sirinx. Brasília: Thesaurus, 2008.


Fonte: » Renato Alves – Foto: Carlos Vieira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense.



4 Comentários

  1. Eu tive a grande honra de ser presenteado com uma conversa com este grande cidadão. Me emocionou ver o patriotismo que ele possui e seu amor incondicional ao Presidente Juscelino. Uma pena o nosso País não dar tanta importância a estas pessoas que são história viva de Brasília e de um Brasil que conheci apenas por livros. Que possamos nos espelhar e inspirar nestes grandes Homens Públicos que o Brasil um dia teve e fazer de nosso País um lugar melhor para se viver.

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  2. Eu tive a grande honra de ser presenteado com uma conversa com este grande cidadão. Me emocionou ver o patriotismo que ele possui e seu amor incondicional ao Presidente Juscelino. Uma pena o nosso País não dar tanta importância a estas pessoas que são história viva de Brasília e de um Brasil que conheci apenas por livros. Que possamos nos espelhar e inspirar nestes grandes Homens Públicos que o Brasil um dia teve e fazer de nosso País um lugar melhor para se viver.

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  3. Tive a honra de ser presenteado com um linda conversa sobre Brasil e JK através deste grande brasileiro chamado Affonso Heliodoro. Tive contato com um Brasil que só conheci pelos livros escolares. É uma pena que nosso País quase sempre não tem o devido reconhecimento para com estes homens que são verdadeiras histórias vivas do nosso Brasil. Vida longa, Coronel Affonso Heliodoro, você merece todas as honrarias e, em seus sonhos com o Presidente Juscelino, diga a ele que nosso País sente falta de Homens Públicos iguais a ele.

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  4. Pois é, Chiquinho, excelente o seu relato. Mas tem um reparo, infelizmente: meu "pai adotivo", que é como ele me trata (porque sempre estive junto com ele, uma espécie de ajudante de ordens do Presidente, tanto no Clube dos Pioneiros quanto no Instituto Histórico, para onde ele me levou e me fez Conselheiro), está morando em Belo Horizonte há três anos, levado por sua filha, que não tinha condições de, morando lá, cuidar dele aqui - especialmente depois da morte de Sãozita - que é como o nosso tão querido Coronel Affonso Heliodoro chamava a esposa dele. Dizem alguns amigos que ele não gostou... rsrs Fazer o que?

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