Atenção, caros leitores, tirem as crianças da sala,
pois tratarei de um tema altamente obsceno, pornográfico e atentatório à moral
e aos bons costumes. Vocês adivinharam: é a nossa Câmara Legislativa. Parece
que as excelências locais não se intimidam com a Operação Lava-Jato. Pelo
contrário: aproveitam as atenções concentradas na crise política e ética
nacional para cometer mais disparates contra o interesse público e em benefício
próprio e de grupos.
Na virada do ano, a deputada distrital Telma Rufino
apresentou a chamada Lei da Grilagem, que obriga o GDF a fazer notificações,
aplicar multas e cobrar prazos de contestação antes de promover derrubadas. O
processo pode se estender até mais de 1 ano. Imagine o que isso representa em
termos de escalada do crescimento desordenado e da destruição do meio ambiente.
Reportagem de Maryna Lacerda, publicada em Cidades,
mostra que em sete dias a área da Expansão do Itapoã, de 40 hectares, foi
tomada por 937 barracos. A invasão ocorreu dentro da APA de São Bartolomeu e a
mata fechada foi destruída.
Quer dizer, a proposta aprovada pela Câmara
significa o paraíso para a indústria da grilagem de terras públicas.
Felizmente, o MP do DF entrou com uma ação para derrubar essa lei desarrazoada Mas, de
qualquer maneira, é incrível que essa malandragem tenha partido de uma Casa que
deveria precisamente zelar pelo interesse público e não estimular a baderna. A
situação urbana de Brasília já está suficientemente caótica para que suas
excelências acrescentem mais bagunça da maneira mais irresponsável.
É com essa política populista que se elegem. Os
efeitos da degradação ambiental podem ser avaliados em nosso cotidiano. No ano
passado, no período da seca, a temperatura elevada e o abafamento não cederam
sequer na madrugada. Comprei uma dúzia de bananas de manhã e, quando voltei
para casa, elas estavam podres.
Em primeiro lugar, não cabe à Câmara legislar sobre
as terras públicas. Essa é uma responsabilidade do Executivo. Para fazer essa
mutreta, os distritais extrapolaram e atropelaram suas atribuições. Como se não
bastasse, eles propuseram um projeto de lei para emperrar a desobstrução da
orla do Lago Paranoá e dificultar a retomada da área para desfrute público.
Eles querem que os moradores sejam consultados sobre qualquer iniciativa do
governo. A proposta é descabida, pois, com todo o respeito, os moradores ocuparam
área pública.
E, para fechar, a coluna Eixo Capital, de Ana Maria
Campos, informa que o deputado Robério Negreiros (PSDB) embarca em 15 de maio
para uma semana na Itália. “Vai com passagem aérea em classe executiva e seis
diárias pagas por nós, contribuintes”, informa a colunista.
Deve ser pelos bons serviços prestados nas áreas da
gestão de terras públicas e do meio ambiente. Por essas e por outras, a Câmara
Legislativa é uma das maiores vergonhas de Brasília.
Por Severino Francisco – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog-Google