David Elshout e a dupla Eru
& Emu em ação: obras recentes e antigas farão parte da mostra
Dois artistas do Distrito Federal
participam de exposição internacional que tem como proposta conectar diferentes
tipos de tendências na área. Dois holandeses, duas japonesas e um jovem
indígena também mostrarão manifestações de várias partes do mundo
Miguel Molina veio de uma
família de músicos e mora no Córrego do Urubu
Um grafiteiro brasiliense
integrará uma exposição que reúne renomados artistas internacionais. A mostra
multicultural Cruzamentos DF — ou Crossings in DF — desembarca em Brasília em 4
de maio, no Museu Nacional Honestino Guimarães. Aos 24 anos, Miguel Molina
dividirá espaço com dois artistas holandeses, David Elshout e Paul Börchers; e
com as irmãs japonesas Eru & Emu. A exibição também contará com quadros de
dois aprendizes: um morador do Recanto das Emas e um jovem indígena do Alto
Xingu.
A ideia é reunir o trabalho de artistas de todo o
mundo, que atuam em diferentes vertentes. Nasceu pelas mãos de um holandês,
David Elshout, 39 anos, que acredita no potencial das artes plásticas e resolveu
unir talentos distintos, mas notáveis. Vivendo na capital há três anos, ele
chegou aqui por conta da esposa, que é brasileira. Ainda se acostumando com a
língua portuguesa, considera que Brasília tem um ar especial para esse tipo de
evento. “Esse lugar conecta todas as tribos. Gente do interior e da cidade
grande se encontra aqui”, considera.
Elshout explica que a exposição trará obras
inéditas, entre quadros recentes e antigos. “Uma das coisas que mais chamarão a
atenção é um quadro de 7m de altura. Ele foi feito em Nova York e, em 2008”,
conta. Apaixonado pelas manifestações artísticas genuinamente brasileiras, o
holandês entrega o que mais o atrai nas obras do brasiliense Molina. “Ele reúne
vários aspectos interessantes da cultura visual do Brasil e revela realidades
pouco vistas”, detalha.
Nascido em uma família de músicos e vivendo na zona
rural do DF — o Córrego do Urubu —, Miguel Molina sempre se declarou apaixonado
pela arte. Ainda pequeno, se utilizava dos desenhos para externar sentimentos
ainda desconhecidos. Na adolescência, teve contato com o grafite e, ali,
encontrou novas possibilidades. “Percebi a chance de interferir no meio
público, levar algo meu para a rua e propor mudanças”, conta. A partir daí,
começou a desenvolver um trabalho mais crítico e impactante — razão pela qual
obteve destaque nacional e internacional.
“Gosto de imagens pesadas, com as quais a maioria
das pessoas não costuma ter contato”, explica. Inconformado com as diferenças e
pressões sociais, ele afirma querer quebrar tabus e falsas representações que
ainda povoam a sociedade. “A gente vê pelos outdoors um padrão de vida e beleza
que não condiz com a realidade. Levo imagens carregadas de sentimentos fortes
que podem ser um tanto agressivas e perturbadoras, mas são necessárias”, diz.
Para Miguel, o diferencial da mostra é o fato de reunir culturas, técnicas e
poéticas diversas. “Cada artista que está ali tem uma vivência pessoal e um
modo diferente de se expressar”, pontua. O brasiliense, que sempre pintou quadros
por hobby, destaca os maiores desafios de migrar das ruas para os museus. “A
rua é algo bem livre e bastante imediatista. No caso dos quadros, tenho que me
dedicar por semanas e até meses”, aponta.
Do Recanto
Entre 5 e 8 de maio, quem for à exposição também poderá conferir a
construção de uma obra coletiva que contará com o auxílio de todos,
incluindo-se os aprendizes — artistas iniciantes que farão parte dessa vivência
para treinar. O artista plástico e morador do Recanto das Emas Luciano Rincon,
22, é um dos dois aprendizes brasileiros selecionados. Ele conheceu o curador
da exposição em uma viagem a Alto Paraíso, em Goiás. Desse encontro, a
oportunidade surgiu. “Eu fiquei imensamente feliz”, lembra. Surpreso e
realizado, Luciano já concretiza o estilo de trabalho que desenvolve. “Eu parto
do princípio da arte geométrica. Daí em diante, deixo a imaginação ocupar todo
o espaço.” Ele adianta o que público pode esperar da mostra: “As pessoas vão
encontrar muitas cores e formas. Vai ser uma exposição criativa e cheia de
vida”, garante.
O estilo de cada artista
»Miguel Molina — Com raízes urbanas, se utiliza de cores fortes e traz desenhos
com forte crítica social
»David Elshout — Desenho fluente com elementos gráficos e fotográficos
»Paul Börchers — Desenho com toques vintage e japonês em quadrinhos
»Eru & Emu — As gêmeas japonesas se utilizam da linguagem fantástica, que
vislumbra um universo entre o mundo que conhecemos e um outro, utópico
Exposição
Cruzamentos no DF
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Onde: Museu Nacional Honestino Guimarães
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Quando: entre 4 e 31 de maio, sempre de terça a domingo
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Horário: das 9h às 20h30
» Visitação gratuita
Fonte: Correio Braziliense