Quaisquer que sejam as análises políticas após a
decisão da Câmara dos Deputados de encaminhar o pedido de impeachment ao
Senado, um fato é inconteste: o grande vitorioso nessa peleja — se isso é
possível, em se tratando de uma crise sem precedentes —, foi o deputado e
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha PMDB-RJ).
A ele se devem as intrincadas articulações e todo o tipo de costura
política que resultou no impedimento de dona Dilma. É certo que a empáfia da
presidente, ao abrir uma frente contrária de dezenas de descontentes e
humilhados, também ajudou.
Ciente das imensas responsabilidades e dos perigos que lhe recaíam sobre
os ombros, diante de um país cindido e de um adversário tenaz, o presidente da
Câmara em momento algum alterou seu comportamento. Foi coerente do princípio ao
fim das votações.
A frieza do parlamentar, mesmo sendo atacado e difamado diversas vezes,
diretamente em sua honra, não permitiu tirá-lo de seu objetivo maior: sepultar
a carreira política da presidente Dilma e, por tabela, de seus seguidores.
Para alcançar o que os adversários chamam de vingança, Eduardo Cunha se
preparou com esmero, arquitetando a estratégia pacientemente, como uma aranha.
Os conchavos de bastidores e as articulações que continuaram pela noite adentro
aqui na capital, formam capítulo à parte desse episódio, armado com precisão de
relojoeiro suíço.
Fato notório também é que nenhum assessor próximo da dona Dilma, capaz
de alertá-la para o imenso perigo que era ter Eduardo Cunha como inimigo, se
iguala em expertise ao presidente da Câmara.
O que se viu foi que seus adversários, na impossibilidade de lhe fazer
frente no plano das ideias e das artimanhas engenhosas, partiram para o ataque
pessoal (ad hominem) com xingamentos e outros impropérios, numa demonstração
real e indefesa de desespero.
Embora seja alvo de sérias denúncias e investigações na Polícia Federal
e no Ministério Público, a ninguém é dado o direito de ofender o presidente da
Câmara, seja por sua função na República, seja por se tratar de um ser humano.
Nem mesmo a justiça e os tribunais mais rigorosos assacam ataques
pessoais aos condenados à sua disposição. A verdade é que Eduardo Cunha, no que
pese seus débitos para com a justiça, pode se colocar como aquele personagem,
dentro dessa imensa trama, que praticamente sozinho derrubou uma camarilha que
há mais de uma década vem infestando esse país.
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A frase que não foi pronunciada
“Qual foi a dificuldade em entender a mentira? Foi ruim?”
(Tiririca pensando em fazer a pergunta para Lula)
Por: Circe Cunha – Coluna:”Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google