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Poder pelos ares

A esta altura dos acontecimentos, a residência do vice-presidente Michel Temer virou lugar de peregrinação de políticos e empresários, desde que passaram a enxergar ali a tal luz no fim do túnel irradiando seu brilho encantador. O assédio mudou de endereço.

Hoje, mesmo ainda no cargo, a presidente Dilma experimenta a temida solidão do poder. Tornou-se pata manca ainda na metade do seu segundo mandato. O que restou a presidente e ao seu cada vez menor núcleo de aliados, foi o marasmo de longos e tediosos dias pela frente. Com o vagar das horas modorrentas, sobra tempo para, ao menos, conspirar.

Reunida, na segunda-feira, no Palácio do Planalto com Lula, Stédile (MST), Boulos (MTST) e Vagner Freitas (CUT), seus amigos de ocasião e de presumíveis infortúnios no futuro, o quarteto fantástico arquiteta meios de precipitar o dilúvio sobre a cabeça dos infiéis, minando o terreno por onde passará a caravana do governo Temer.

Reconhecida a derrota iminente no Senado, resta a tática da sabotagem, tramada dentro do edifício oficial. O que difere reais combatentes de simples arrivistas é o fato que, diante da morte inevitável, caem de pé. Os antigos costumavam dizer que não basta viver com dignidade, é preciso também saber morrer com dignidade.

Enquanto a senhora Rousseff vaga pelo palácio fantasma, seu vice se prepara para o que deve ser o maior desafio de toda a sua vida. Qualquer um que vier a herdar a administração do país pós-Dilma terá pela frente desafio maior do que os doze trabalhos de Hércules.

Pelo prólogo anunciado, Temer começou bem ao prometer auditoria profunda nas contas dos bancos públicos. Essa auditoria, tipo pente-fino, deverá se estender aos demais órgãos do governo, principalmente nas estatais e nas grandes obras públicas, tocadas por empreiteiras enroladas com a Justiça.

Fazer auditoria significa desarmar bombas de efeito retardado, deixadas para trás. Ou Temer cuida de desarmar essas minas terrestres, ou seu governo vai pelos ares também.

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A frase que foi pronunciada:
“Sabe o que eu quero de verdade? Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma...”
(Clarice Lispector)


Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

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