Tiago Coelho e Cristina Segatto anunciaram a
antecipação da vacinação de crianças menores de 5 anos e gestantes. Esses dois
grupos poderão se proteger a partir de 25 de abril. Executivo local tem em
estoque 162 mil doses do imunobiológico e aguarda mais 130 unidades do
Ministério da Saúde
Nos três meses do ano, a gripe já matou três
pessoas. O DF teve 26 casos confirmados e 85 estão sob investigação. Diante do
quadro, que só não é pior do que o de 2009, o governo decidiu antecipar a
campanha de imunização dos grupos de risco
O Distrito Federal decretou estado de alerta para o
vírus H1N1. A Secretaria de Saúde está temerosa com o avanço e a letalidade do
germe. Ao todo, três pessoas morreram, 26 estão doentes e há outros 85 casos em
investigação. Esta é a primeira vez — exceto em 2009, ano da pandemia de gripe
suína — que a cidade registra esse volume de infecções e óbitos nos três
primeiros meses do ano. Para tentar conter o avanço da doença, o Executivo
local antecipou a vacinação dos grupos de risco, como o Correio adiantou na
edição de quarta-feira. O estoque está abastecido com 162 mil doses do
imunobiológico — 25% do total. O Ministério da Saúde programou cinco repasses
do insumo ao DF.
Cinco casos de H1N1 ocorreram em crianças menores de 5 anos. Outras 19
situações em adultos de 20 a 59 anos e duas infecções em idosos acima de 60
anos. Entre os adultos, três são gestantes — uma delas está internada há mais
de 20 dias. Ao todo, 22 pessoas tiveram complicações e precisaram ficar
hospitalizadas.
O subsecretário de Vigilância à Saúde, Tiago Coelho, garante que não há
motivo para desespero, mas que a situação requer cuidados pelo nível de
letalidade e alto volume de contaminações. “Os números estão atípicos. Três
mortes e 26 contaminações nas 13 primeiras semanas do ano chama a atenção”,
disse o médico. Em todo o ano passado, não houve registros da doença no DF. Em
2014, 21 pessoas se contaminaram e quatro morreram. Durante a pandemia de gripe
suína, em 2009, a Secretaria de Saúde registrou 10 mortes e 668 casos
confirmados de H1N1.
As vítimas do H1N1 em 2016 moram em Águas Claras, no Paranoá e em
Vicente Pires. Todas as mortes ocorreram em mulheres — uma idosa de 80 anos e
duas adultas entre 30 e 49 anos. Um óbito está em investigação. Na
quinta-feira, a morte do assessor parlamentar Ivo Nogueira Romualdo, 36 anos,
foi atribuída à doença. Por telefone, a família confirmou ao Correio a suspeita
e disse que o tratamento estava sendo para a gripe suína. Ivo estava internado
na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital São Mateus desde a semana
passada.
Como circula tanto em humanos como em porcos e aves, o vírus tem mais
organismos vivos para serem alternados. Os outros tipos de gripe não causam
quadros tão graves porque o nosso sistema de defesa já teve contato com eles.
“A circulação do vírus começou antes do seu período sazonal e tem se
disseminado rapidamente, mas não há motivo para alarde”, avalia a diretora de
Vigilância Epidemiológica, Cristina Segatto (leia Quatro perguntas para).
Vacinação adiantada
A Secretaria de Saúde recebeu, ontem, 162.950 mil
doses da vacina trivalente — contra as gripes H1N1, H3N2 e Influenza B. A
capital federal antecipou para 25 de abril o início da campanha de imunização,
antes prevista para o dia 30. Caso a pasta receba outras 130 mil doses do
insumo, a data pode ser alterada para o dia18 deste mês. Crianças menores de 5
anos e gestantes são o alvo neste primeiro momento. A eficácia varia entre 60%
e 90%, dependendo da faixa etária do paciente e de outros fatores, como presença
de infecções e doenças crônicas, a exemplo de diabetes, asma e outros males
respiratórios. Em média, a vacina leva de 30a 60 dias para começar a fazer
efeito.
O GDF pretende imunizar pelo menos 600 mil pessoas. São 203 mil idosos
acima de 65 anos, 33 mil gestantes, 180 mil crianças menores de 5 anos, 90 mil
doentes crônicos, além de outras 73 mil pessoas entre presidiários e
profissionais de saúde. “Percebemos que as crianças e as gestantes têm uma
incidência maior de letalidade nos casos observados até o momento. O sistema
imunológico desses grupos está prejudicado nessa fase da vida”, explicou o
subsecretário.
No ano passado, o Executivo local se viu obrigado a prorrogar o prazo de
vacinação. Apenas 57% do público-alvo havia procurado os postos de imunização.
No fim da campanha, 523.452 pessoas receberam doses da vacina. Segundo a
Secretaria de Saúde, 93,5% dos idosos se vacinaram. Já os grupos de crianças e
gestantes não atingiram a meta de pelo menos 80%.
"Percebemos que as crianças e as gestantes têm uma incidência maior
de letalidade nos casos observados até o momento. O sistema imunológico
desses grupos está prejudicado nessa fase da vida”
(Tiago Coelho, subsecretário de Vigilância
à Saúde)
Aedes ainda preocupa
A tríplice epidemia das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti ainda
preocupam autoridades sanitárias. O Ministério da Saúde divulgou, ontem,
balanço parcial da segunda etapa de visitação de imóveis para controle da
reprodução do mosquito. Na capital federal, 188.732 domicílios receberam a
visita de agentes de vigilância epidemiológica. O índice representa 20,2% do
universo de 930.622 casas. O documento mostra que em 34.117 endereços houve
recusa ou estavam fechados. Ao todo, 22% dos domicílios não tiveram os focos
debelados. Em apenas três meses, o DF registrou 98% dos casos de dengue
notificados em todo o ano passado. A Secretaria de Saúde apontou 10.218
infecções — 1,3 mil em moradores do Entorno. Em 2015, a marca alcançou 10.338
pessoas. De acordo com o mais recente Boletim Epidemiológico divulgado pelo
Executivo local, 40 casos de zika estão confirmados — sendo 11 em gestantes. Em
65% das situações, a infecção ocorreu na cidade. Há ainda, 41 casos de
chicungunha confirmados. Amanhã, as estações do Metrô estarão fechadas para o
combate ao Aedes a partir das 16h. A ação, com aplicação de veneno do fumacê,
começa na unidade de Águas Claras. A iniciativa é uma parceria da Secretaria de
Saúde com apoio do Metrô.
Quatro perguntas para Cristina Segatto,
diretora de Vigilância Epidemiológica;
O que fazer neste momento para diminuir o risco de contaminação?
A primeira coisa a ser feita é a prevenção
higiênica, ou seja, lavar as mãos sempre, evitar tocar nariz, olhos e boca,
usar lenços descartáveis para espirrar e tossir, evitar locais aglomerados,
manter boa alimentação e ingerir muito liíquido ao longo do dia. Assim que os
sintomas aparecerem, é preciso procurar o médico. E não deixar de se vacinar,
sobretudo os grupos assistidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O uso de máscaras ajuda?
Isso é para quem está doente. A máscara faz uma
proteção mecânica, que evita a disseminação do vírus a partir de uma pessoa que
está tossindo e espirrando. É importante também para diminuir o contato com
outros micro-organismos e agravar um quadro clínico.
Os cuidados caseiros, como suco de laranja, chás e remédios
antigripais, ajudam?
Quando falamos em aumentar a hidratação, é válido o
suco. Mas o recomendado é a água, por ser mais saudável. Qualquer coisa que se
vá fazer o uso, como vitamina C efervescente, é bom pedir a recomendação médica
para verificar se há a necessidade.
Quando procurar o médico?
O paciente que tiver sintomas de gripe e febre alta
deve procurar assistência médica nas primeiras 24 horas. Os antivirais são
recomendados somente nas primeiras 48 horas. É importante detectar a gripe H1N1
precocemente para se evitar casos agudos e internações. O médico vai prescrever
a medicação para evitar agravos. A indicação é muito específica do caso e das
complicações do momento.
Fonte: Otávio Augusto – Foto: Renato Araújo-Agência
Brasília – Correio Braziliense