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#PATRIMÔNIO » Descaso com Burle Marx - (Trabalhos assinados pelo paisagista, sofrem com a falta de cuidado e manutenção)

Trabalhos assinados pelo paisagista, como a Praça das Fontes, no Parque da Cidade, e os jardins da Universidade de Brasília (UnB), sofrem com a falta de cuidado e manutenção. A exceção na capital federal é a Praça dos Cristais, no SMU

                   Na UnB, os jardins do ICC estão tomados pelo mato alto: descuido
       A Praça das Fontes Parque da Cidade tem falhas em toda a estrutura: abandono
A praça localizada no Setor Militar Urbano está tão preservada que atrai noivas e debutantes para ensaios em meio à vegetação bem-cuidada
Os amantes da arquitetura que visitam Brasília não estão interessados apenas nas linhas e curvas de Oscar Niemeyer ou no urbanismo modernista de Lucio Costa. A intervenção paisagística pensada por Roberto Burle Marx também foi decisiva para que a capital figure entre os expoentes arquitetônicos mundiais. Porém, a obra de um dos maiores paisagistas do século 20, por vezes, chega a passar despercebida diante do escasso cuidado que muitas delas recebe.

Um dos casos mais evidentes é a Praça das Fontes, no Parque da Cidade, um dos principais cartões-postais de Brasília. O Correio visitou o local na tarde da última quarta-feira e não havia ninguém por lá. O jardim suspenso, dividido em três grandes plataformas, tem todos os artifícios para ser exuberante, mas está abandonado. Há mato alto e grama seca. Os poucos bancos não permitem a contemplação, pois foram depredados. O mesmo acontece com os paralelepípedos. As fontes, que dão nome à praça, não funcionam.

A Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer informou, por meio de nota, que solicitou à Novacap, responsável pela poda dos jardins das áreas públicas de Brasília, uma avaliação sobre o espaço. Após esse resultado, a Administração do Parque da Cidade tomará as medidas necessárias para recuperação e melhorias da Praça das Fontes, tendo em vista a complexidade e o custo do serviço.

Outro ponto que chama a atenção pela falta de zelo é o Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB). As únicas plantas que mantêm o viço são aquelas adaptadas ao clima seco. Porém, a maioria delas carrega um aspecto ocre e dividem espaços com palhas secas espalhadas pelo câmpus. Os alunos reclamam que, até o semestre passado, os jardins do local eram bem cuidados, mas, que, desde o início do período letivo de 2016, não há mais funcionário algum tomando conta do local.

O estudante de serviço social Antônio Aurélio, 26 anos, acredita que a redução dos terceirizados na instituição é responsável pelo descaso. “Eles não tiveram o contrato renovado neste semestre. O trabalho que vem sendo feito é precário e não dá conta da necessidade”, lamenta. Para Giovana Guarese Borges, 18, também do serviço social, a sensação é de abandono. “Aqui era lindo. Agora, a gente tem a impressão de que ninguém se importa.”

O diretor do Decanato de Terceirização, Júlio Versiani, explica que o pregão para a contratação de uma empresa para ficar responsável pelos jardins da UnB está em andamento, mas ainda não é possível determinar quando o trabalho de manutenção voltará a ser feito. “Já existe o edital, mas esse processo é demorado e estão sendo analisadas as propostas das empresas”, detalha.

Para a arquiteta Carolina Nathair, os casos revelam desleixo com a história da cidade. “Não é só o jardim, já que ele está dentro do projeto arquitetônico e urbanístico. O patrimônio de Brasília fica sem cuidado, e ela inteira fica malvista”, avalia. E isso não afeta somente o olhar. Segundo ela, Burle Marx usava espécies do cerrado e da Mata Atlântica para criar suas paisagens (leia Para saber mais). “Sem a devida preocupação, ainda temos um problema de desvalorização das espécies. E não é apenas isso: o paisagismo imaginado por Burle Marx também ajuda a amenizar o clima seco. Sem esse cuidado, lugares como o Parque e a UnB parecem abandonados”, queixa-se.

Elogios
A Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano (SMU), é um dos poucos trabalhos de Burle Marx em bom estado. As árvores, a grama verdinha e as flores multicoloridas ajudam a compor o cenário perfeito para ensaios fotográficos. Justamente por isso o local costuma receber debutantes e noivas, sempre acompanhadas dos fotógrafos. É este o caso de Rosana Amorim, 30 anos. A estudante, que se casará em maio, não conhecia o lugar. “O jardim daqui é muito bonito, estou adorando”, conta.

A fotógrafa que a acompanhava, Clau Mione, 35 anos, conta por que escolheu o local para realizar o ensaio. “Aqui é seguro, e a vegetação está superconservada. Agora mesmo a grama estava sendo molhada. É tudo muito bonito”, diz. A professora Martina Monteiro Martino, 28, estava de passagem pelo SMU quando resolveu sair do carro e prestigiar a beleza do jardim. “Aqui é lindo. É uma pena que seja mal aproveitado, pois não há divulgação e poucas pessoas sabem. Eu mesma só conheci esse lugar há cinco anos, quando uma amiga organizou um piquenique”, lembra.

Para saber mais - Arte nos jardins
Roberto Burle Marx (foto) pensava em jardins como telas de pintura. O paisagista trouxe para as suas obras públicas e particulares a mata nativa, antes desprezada pelo exotismo das plantas que não faziam parte da vegetação brasileira. A obra não se resumia à beleza do resultado final: havia cuidado com a topografia, a arquitetura e o meio ambiente, em trabalhos que estão no Brasil e em mais de 20 países. Entre aqueles que mais destacam sua genialidade com a matéria-prima viva estão os jardins interno e externo do Itamarary, o celebrado paisagismo da 308 Sul e os jardins do Teatro Nacional e do Tribunal de Contas da União.



Fonte: Rafael Campos – Fotos: Helio Montferre/Esp.CB/D.A.Press – Licia Nara/Divulgação – Blog- Google- Correio Braziliense

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