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De Diamantina a Brasília

O presidente da Casa de JK, Serafim Jardim
De Diamantina a Brasília

Como os leitores devem ter observado nas colunas anteriores, nesta semana, estive em Diamantina, terra onde nasceu Juscelino Kubitschek de Oliveira. Entre aquelas montanhas e ladeiras preservadas, aquele casario colonial, o menino humilde, filho da professora de ascendência tcheca, que ficou viúva ainda com os filhos pequenos, a gente sente a cada esquina, a cada rua, que a história do homem que se tornou presidente da República continua viva na memória de cada morador, orgulho esse que é passado por gerações e gerações. Sempre com aquela forma cerimoniosa e respeitosa que toma conta de todos, ao pronunciar o nome de seu filho mais ilustre.

Ainda impregnada por tudo aquilo que, pela segunda vez presenciamos, na bucólica Diamantina, ao sobrevoar o entardecer e o acender gradativo das luzes de Brasília, que certa vez, descrevi como o abrir de uma caixa de joias cujos brilhantes reluzem sob uma luz forte, veio-me de imediato uma sensação incômoda e emocional, que até hoje, uma semana depois, não consegui definir ou classificar. Só sei que deixar a terra de JK e chegar a sua grande obra e paixão, ali, reluzindo sob nossos olhos, cresceu em mim um misto de nostalgia e até saudade.

Saudade, sim, dos tempos em que tivemos um médico, um prefeito, um governador e um presidente, que só pensava (e trabalhava) para o povo, na qualidade de vida e no futuro de seus descendentes. Vibrando com cada conquista, contando cada quilômetro de estrada asfaltada, cada escola construída, cada hospital construído e equipado, cada vida salva, cada indústria instalada, cada criança que nascia no país que governava com simplicidade, com carisma, sem pompa, sem batedores com suas esfuziantes e barulhentas roto lights, anunciando a sua chegada. Voando de teco-teco ou engolindo poeira pelas estradas que o traziam para o maior canteiro de obras de que se tem notícia. Depois, era só descansar com os pés fora do sapato, em deliciosas serestas com os companheiros de jornada, sob a lua cheia, ao redor da fogueira. Ali, ele era igual aos outros. O homem que veio de berço pobre, cujo único ideal era servir a seu povo e ao seu país.

Sentados no pequeno auditório construído na casa em que viveu JK, ouvindo o amigo, companheiro, admirador e presidente da Casa de JK, Serafim Jardim, a cada palavra, a cada “causo”, fomos chegando à conclusão de que, para ser um bom governante, basta pegar os livros escritos por ele e usá-los como um verdadeiro manual de como governar pelo prazer de governar, pelo cumprimento de metas e projetos, pela vontade de realizar obras que favoreçam a população e não com o intuito de retribuir favores ou recompensar ajudas de campanha ou ficar rico.

Daí a importância de colocar técnicos e competência no preenchimento de todas os ministérios, sem a preocupação de favorecer ou recompensar quem não é habilitado ou preparado para ocupar aquela pasta o que, sabemos, leva à total inoperância e ao descumprimento das metas. É como colocar o vaqueiro na função de relojoeiro ou restaurador de obras de arte e vice-versa. Desastre total e iminente.

Foi por isso que Brasília surgiu. Dentro do prazo previsto; dentro das normas e da saga do desbravamento. Porque JK sabia como agir e a quem recorrer. Por isso, o Brasil e o mundo conheceu e não se esquece de Oscar Niemeyer, de Lucio Costa, de Israel Pinheiro, de Bernardo Sayão, de Burle Marx, assim como tantos outros. Porque todos sabiam o que faziam e eram capacitados no cumprimento de todas as tarefas e projetos.

Todos conheciam a história do Brasil e o porquê da necessidade de transferir a capital para o interior do país, obedecendo ao que estava previsto na Constituição e dando continuidade ao que Floriano Peixoto idealizara, encomendando ao geógrafo e astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls, em 1892, o desbravamento do sertão do Brasil e a demarcação da área onde deveria ser construída a nova capital do Brasil, o novo Distrito Federal.

JK cumpriu e realizou um sonho alimentado desde o século 19.

No passeio a Diamantina, depois de tudo o que viu e ouviu, o bairrista gaúcho Enio Bocorny apontou, categórico, o único defeito de Juscelino Kubitschek. Diante do espanto de todos e de Serafim Jardim, ele afirmou: “Para mim, o único defeito desse homem é ser mineiro e não ter nascido no Rio Grande do Sul!”

Ponto final. Não é preciso dizer mais nada. Que diferença!




Por: Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Correio Braziliense – Foto: Rodrigo Clemenmte/Esp.EM/D.A.Press

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