Por: Severino Francisco
Em nome da democracia, um grupo
extremistas invadiu as dependências da Universidade de Brasília na noite da
última sexta-feira para fazer manifestações truculentas, homofóbicas e
racistas. A primeira imagem que me veio à cabeça quando assisti às cenas
estarrecedoras de vídeo no Minhocão, em pleno horário noturno de aula, foi a da
invasão ao câmpus pela polícia, reconstituída magistralmente em documentário de
Vladimir de Carvalho, intitulado Barra 68. Ironicamente, o documentário tem
como subtítulo Sem perder a ternura jamais.
Naquela época, em nome do combate à subversão, amparado pelo arbítrio do
AI-5, durante o regime militar, a polícia ocupou a UnB, encurralou alunos em
uma quadra de esportes e desencadeou uma onda de atos covardes contra a
instituição. Pois bem, é certo que, agora, o ataque foi em menor escala, mas,
de qualquer maneira, não deixa de provocar espanto porque ocorre em um país em
que vigora o regime democrático.
Em primeiro lugar, é completamente descabida e estapafúrdia essa invasão
de uma instituição de ensino em plena atividade docente. A UnB tem autonomia
administrativa para tomar as decisões que julgar acertadas. Eu posso,
eventualmente, discordar dessas deliberações ou dos rumos da universidade, mas
isso jamais me confere o direito de invadir a instituição para promover atos de
intolerância, ameaças a alunos e outras formas de intimidação. Trata-se de uma
agressão inaceitável à universidade.
"Isso nada tem a ver com democracia ou com direito de manifestação. Pelo
contrário: é uma ameaça à democracia."
E, para culminar a confusão mental dos extremistas,
eles ainda berraram: “E viva o juiz Sérgio Moro!”. Ora, tenho certeza de que se
o Sérgio Moro fosse juiz em Brasília mandava prender a todos que participaram
dessa manifestação desastrada para atrapalhar as atividades docentes. O caso é
simplesmente de vandalismo e perturbação da ordem pública.
O ato contra a UnB é um capítulo da escalada
crescente da intolerância, à direita e à esquerda. Quando o deputado Jair
Bolsonaro faz, em sessão da Câmara, o elogio do general Carlos Alberto
Brilhante Ustra, o maior torturador do regime militar, e permanece impune, abre
espaço para anomalias tais como a manifestação na UnB.
Sem comparar a gravidade dos atos, a tentativa de impedir que um
estudante empunhasse a bandeira monarquista no câmpus por estudantes de
esquerda fere o direito de expressão. Da mesma maneira, a cusparada que o
deputado Jean Willis desfechou no rosto do deputado Jair Bolsonaro não
contribui para criar um ambiente de civilidade.
Ainda bem que os representantes de centros acadêmicos, à direita e à
esquerda, repudiaram a truculência e fizeram o elogio da tolerância. É um sinal
de que talvez seja possível avançar no rumo da paz e do respeito às diferenças.
Por: Severino Francisco –
Colunista – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google