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Delator diz que foi pressionado por Gim Argello a pagar propina

Gim Argello foi preso na 28ª fase da Operação Lava Jato (Foto: Giuliano Gomes/PR Press)

Júlio Camargo afirmou que em troca não seria chamado a depor em CPMI. Ex-senador foi acusado de receber propina para não convocar empreiteiros.

O delator da Operação Lava Jato Júlio Camargo afirmou, em depoimento à Justiça Federal nesta quinta-feira (23), que o ex-senador pelo PTB Gim Argello o pressionou a pagar propina. O ex-consultor da empresa Toyo Setal afirmou ter pago R$ 2,2 milhões para o ex-senador.

Julio Camargo disse que foi pressionado por GimArgello (Foto: Reprodução/TV Globo)

O G1 procurou a defesa de Gim Argello, mas não obteve retorno. Ele está detido no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Argello foi preso preventivamente, ou seja, por tempo indeterminado, no dia 12 de abril.

Júlio Camargo fez o pagamento a Gim Argello para que ex-senador barrasse a convocação dele para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), no Congresso Nacional, que investigou o esquema de corrupção na Petrobras. O ex-senador era membro da CPI no Senado e vice-presidente da CPMI, da Câmara e do Senado. O pedido também foi feito a outros empreiteiros.

"Havia uma pressão para que houvesse a contribuição", afirmou o delator. Apesar de se sentir pressionado, Júlio Camargo disse não ter sido ameaçado pelo ex-senador.

A audiência realizada nesta tarde, em Curitiba, foi referente à 28ª fase da Lava Jato, em que Gim Argello e outras oito pessoas são réus. O ex-senador responde por corrupção passiva, concussão, lavagem de capitais, organização criminosa e obstrução à investigação.

"Ele nunca deu uma garantia, mas disse que ele era o vice-presidente da CPI e que tinha ele o poder de aceitar ou não a convocação ou determinar quando essa convocação ocorreria", afirmou Júlio Camargo.

Júlio Camargo relatou que avaliou, junto com Augusto Mendonça, que eles deveriam fazer o pagamento ao ex-senador. Segundo Júlio Camargo, os dois chegaram à conclusão de que deveriam pagar o valor pedido por Gim Argello. Augusto Mendonça também é delator na Lava Jato e era executivo da Toyo Setal.

Preocupação
Segundo Júlio Camargo, que era consultor da Toyo Setal, os empresários que tinham negócios com a Petrobras ficaram preocupados quando foi instalada a CPMI para investigar o esquema de corrupção na estatal. Ele disse que o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, tinha bom relacionamento com a classe política e teve papel de liderança para tratar do assunto em nome das empreiteiras.

Camargo disse que Gim Argello procurou Léo Pinheiro, que o contatou para que eles fossem jantar na casa do então senador em Brasília. No encontro, Argello disse que a intenção da CPI não era convocar empresários, mas sim os dirigentes e gerentes da Petrobras. Quando Léo Pinheiro perguntou se teria de fazer contribuições políticas, pois sabia que Argello seria candidato a vice-governador do Distrito Federal, ele disse que isso seria tratado em outra reunião.

No encontro seguinte, Gim Argello disse que havia selecionado cinco grandes empresas, e que precisaria de R$ 5 milhões de cada uma para a campanha. Léo Pinheiro questionou o alto valor, ao que Argello respondeu que o pagamento poderia dar a tranquilidade de que os empresários não seriam convocados pela CPI. Ele chegou a dizer que já havia requerimentos feitos para convocar o próprio Júlio Camargo, mas que poderia agir para que isso não acontecesse, uma vez que era vice-presidente da comissão.

Ao fim desta reunião, Camargo e Pinheiro disseram que precisavam pensar sobre os valores, e se comprometeram a chamar o dono da UTC, Ricardo Pessoa, que a princípio havia ficado de fora da lista de empresas que poderiam ser “blindadas” na CPI. Neste encontro, Argello disse que, dos R$ 5 milhões, precisaria de R$ 2 milhões imediatamente.

Segundo Camargo, ele, Léo Pinheiro e Ricardo Pessoa concordaram com a proposta de Argello, que apresentou Valério Neves Campos e Paulo Roxo aos empreiteiros – eles seriam os responsáveis pela arrecadação de recursos para a campanha eleitoral.

Ele disse não saber como os demais empreiteiros prosseguiram com os pagamentos, mas que fez a contribuição de R$ 2 milhões pedida por Argello, além de outros dois pagamentos de R$ 100 mil cada. O dinheiro foi pago para a conta do Partido da República (PR), conforme orientação de Valério Neves e Paulo Roxo, disse.

De acordo com a acusação, a propina exigida por Argello foi enviada aos partidos indicados por ele – DEM, PR, PMN e PRTB – na forma de doações de campanha.


Fernando Castro e Thais Kaniak - Do G1 PR


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