Artista plástico mineiro radicado em Brasília não
resistiu a um AVC. Ele ficou conhecido por ter obras expostas em diversos
estabelecimentos da cidade
“A arte é pura aventura. Encontrar é que importa. O
grande lance é alcançar a liberdade absoluta.” Essa é uma das frases ditas pelo
artista plástico mineiro radicado em Brasília, Nemm Soares, que foi incorporada
ao cardápio do restaurante Parrilla Madrid durante uma reestruturação do
estabelecimento em 2011, e serve para definir como ele enxergava o trabalho
artístico.
Soares,
60 anos, morreu ontem em Brasília. Hipertenso, estava há alguns dias internado
em estado grave em um hospital devido a um AVC (acidente vascular cerebral).
Ele deixa três filhos. O velório e o sepultamento foram realizados ainda ontem
no Cemitério Campo da Boa Esperança, na Asa Sul. O falecimento repentino do
artista chocou os brasilienses ligados à arte, cultura, gastronomia e
decoração, que admiravam o trabalho do mineiro.
Antes de
morrer, Nemm, autor de trabalhos que iam desde quadros até esculturas, deixou
uma exposição inédita feita em conjunto com o amigo, artista plástico José
Eugenio Monteiro. Ao todo foram produzidas 12 obras, em que cada um pintava um
pedaço do quadro. Os painéis formam a mostra que se chama Parceiros e terá
abertura em 21 de junho, às 19h, na Embaixada de Portugal, como uma homenagem
ao pintor. A mostra estará disponível para visitação no dia seguinte até 3 de
julho, das 11h às 18h. “É um trabalho que estávamos fazendo há mais de um ano e
meio. Começamos a trabalhar em Pirenópolis (GO). Sempre fomos muito ligados e
ficamos próximos por conta da arte. Nemm queria fazer uma exposição, até
parecia que estava prevendo algo”, lembra Eugenio Monteiro.
Eugenio
define o amigo como “operário da arte”. “Ele virava as noites pintando. Foi
muito generoso em me conceder essa parceria. Mais do que nunca vamos manter a
exposição para que ele seja mantido vivo dessa forma. Ele será sempre um ícone
em Brasília. Acho que não há um artista que tenha tantos trabalhos expostos
pela capital”, completa.
O mineiro
ficou conhecido na capital por ter as obras caracterizadas pelo grafismo e pela
geometria estampadas em restaurantes, estabelecimentos comerciais e clínicas e,
principalmente, por ser o responsável pela pintura da parede e do painel do
Clube do Choro (Eixo Monumental). O produtor e músico Reco do Bandolim, que
fundou a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, conta que sua mulher foi
quem teve a ideia de convidar Nemm para pintar o Clube do Choro por admirar o
trabalho do artista. “Eu não o conhecia a fundo, mas a impressão que tive foi
de era uma alma muito sensível, um sujeito muito delicado. Percebemos que ele
teve uma sintonia muito grande com o que falamos sobre o Clube do Choro e a
história do choro. Era um artista que ia metabolizando as informações”, diz
Reco.
O músico
lembra que Nemm Soares conversou durante horas com ele e a esposa até chegar a
ideia final para os desenhos do Clube do Choro, além de ter frequentado o
espaço durante um período em busca de inspiração. “Ele tinha uma capacidade de
transformar uma conversa em arte. Tenho um respeito muito grande pelo Nemm. A
impressão que eu tinha era de que estávamos diante de um grande artista”,
analisa.
Singelo
O empresário Marco Aurélio Costa, amigo de Nemm há 35 anos, possui
vários trabalhos do artista na decoração de sua casa. “Era uma pessoa ótima, de
coração muito bom. Fui uma das primeiras pessoas a dar espaço para as obras
dele, quando eu ainda tinha o restaurante Piantela”, lembra.
O chef
Michel Hipólito, da Adega Baco, era um dos nomes da gastronomia da cidade que
tinha bastante proximidade com Nemm Soares. “Costumava o encontrar em seu
ateliê, na Asa Norte. Eu chamava o Nemm de Modigliani do Cerrado, por conta dos
traços que ele fazia em suas telas e painéis. Essa é uma perda irreparável, mas
suas obras ficam em diversos restaurantes. Ele era muito inventivo, o que
diferenciava de todos”, afirma. Hipólito ainda completa dizendo que Nemm “foi
um artista de um traço singelo”: “O trabalho dele era único e ninguém irá
reproduzi-lo”.
O mineiro
percebeu o dom para arte ainda na adolescência. Com 15 anos, pintou a parede do
quarto, depois fez pinturas em carros. Em 1989, quando já morava em Brasília
(ele chegou na cidade em 1977) começou a pintar quadros por hobby. Sua primeira
exposição foi em 1993, ano que iniciou a contagem de seu trabalho como artista
plástico, quando expôs em uma das edições da Casa Cor, um evento dedicado a
arquitetura e decoração.
Durante a
carreira artística, Nemm Soares teve mais de 25 mil obras catalogadas, entre
elas, telas, painéis, esculturas e objetos, como castiçais e candelabros. Seus
trabalhos estão em locais como os restaurantes Parrilla Madrid, Galeteria Beira
do Lago, Bendito Suco, Bar Brasília, Dom Francisco, Bar do Ferreira e Mercado
Municipal de Brasília. Além da repercussão no Planalto Central, teve suas obras
expostas em países como Portugal, Índia, Espanha, Japão e França.
(Colaborou Renata Rios)
Confira alguns trabalhos de Nemm Soares
Mercado Municipal de Brasília
Bendito Suco
Galeteria Beira do Lago
Parrilla Madrid
Fonte:
Adrianan Izel – Fotos: Internet – Facebook – Correio
Braziliense
Grande Artista, grande amigo!
ResponderExcluirObrigada sempre Nemm!