Por: Ana Dubeux
A Universidade de Brasília é um templo.
E deveria ser inviolável, mas está provado que não é. O recente protesto diante
do Centro Acadêmico de Sociologia mostrou que o extremismo não encontra
barreiras para propagar sua voz e sua ação. Trata-se de ousadia simbólica. Mas
também de ameaça real. Quando digo que a UnB é um templo é porque tenho dela as
referências mais impactantes em termos de uma educação livre, libertária,
revolucionária. Seu câmpus aberto, sem barreiras, está impregnado pelas ideias
de gente como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, entre tantos outros fundadores,
que mesmo expulsos pelos militares, deixaram o legado que ainda inspira os
estudantes nos dias de hoje. Eu não estudei lá, mas tenho infindáveis relatos a
respeito, do presente e do passado.
Os ventos mudam de direção e a
realidade impõe transformações. Na política, sobretudo. Mas também na forma de
financiar e equacionar os problemas do país e, particularmente, na educação
superior. É preciso profissionalizar a gestão, enxugar gastos, buscar recursos.
Sabemos todos que faz parte da história da UnB ser lugar de acolhida de todos
os matizes ideológicos. Sempre houve convivência de ideias e ideais. Sempre
houve setores mais conservadores, mais liberais, mais radicais, mais tudo, como
quiserem chamar, esquerda, radicais de esquerda, direita, ultradireita, reaças.
O preocupante não é a existência de uns e outros, é a impossibilidade de uma
convivência respeitosa e pacífica entre eles. Isso é o que tem de ser
combatido.
A UnB é — porque sempre foi e deve
continuar sendo — vanguarda. A discussão sobre as cotas, raciais e sociais,
partiu dela. Uma nova forma de ingresso no ensino superior, o PAS (Programa de
Avaliação Seriada), partiu dela. Quantas e tantas outras ideias não estão sendo
concebidas e testadas neste momento? Quantos políticos, ministros, juristas,
médicos, biólogos, cientistas, enfim, não estão neste momento sendo formados
ali? Não, não há espaço para mais nada a não ser o saber, a diversidade, a
discussão pródiga, a ciência. Não deixemos entrar o crime, a homofobia, o
racismo, a violência, a falta de respeito. Precisamos proteger nosso patrimônio
mais valioso.