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Batalha surda pela vaga de Eduardo Cunha

Cunha nega que vá renunciar, mas aliados dão como certa a saída dele do comando da Câmara

Com a iminente renúncia do peemedebista ao cargo de presidente da Câmara, partidos intensificam as negociações sobre quem ficará no comando da Casa. São pelo menos 12 nomes na disputa

Com o prenúncio da renúncia do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), turbinado por rumores levantados pelos próprios aliados do peemedebista, o tabuleiro político na Câmara para a escolha do nome de um presidente com mandato tampão é montado. Pelo regimento da Casa, após a vacância do cargo, a eleição deve ocorrer em até cinco sessões. Em tese, se Cunha renunciar amanhã, a votação já pode ocorrer nesta semana. Por isso, mesmo longe de uma definição, as conversas entre os principais líderes políticos se intensificaram em Brasília. A grande dificuldade do governo Michel Temer até o momento é encontrar um nome de consenso que unifique a base de sustentação. O presidente interino deseja que o nome saia após acordo entre o chamado Centrão, que congrega PP, PSD, PR e PTB e mais oito siglas; PMDB; e a antiga oposição, formada por PSDB, PPS, PSB e DEM.

É o cenário ideal para o governo. Oficialmente, Temer tenta manter a imagem de que não quer interferir na disputa. No entanto, nos bastidores, a conversa é outra. O Planalto tem pressa para encontrar um nome “da paz” com o objetivo de evitar uma ruptura na base. Para isso, várias arestas precisam ser aparadas. Um dos nomes que surgiram com força na semana passada foi o do líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), após costura entre Temer e Cunha.

No entanto, partidos do chamado centrinho (PSDB, PPS, PSB e DEM) resistem por entender que o parlamentar é bastante ligado ao peemedebista. Rosso afirmou, em entrevista ao Correio, que está preocupado com a estabilidade da Câmara.“O mais importante agora é estabilizar a Casa. Precisamos de uma agenda e um cronograma de votações até o fim deste biênio. Precisamos de estabilidade para termos previsibilidade. É importante que os partidos da base cheguem a um consenso”, disse.

O nome do Centrão ou do PSDB só entraria na disputa pra valer quando houvesse a vacância de fato do cargo. A ordem no Planalto é evitar ao máximo a disputa. O acordo costurado indica que o parlamentar que entraria agora não poderia se candidatar em 2017, quando ocorre nova eleição para a Presidência da Câmara.

“O PSB está fora dessa conversa. Não tem acordo. Não podemos eleger um preposto de Cunha. Não tem negociação assim. É repugnante”, refutou o deputado Julio Delgado (PSB-MG). Questionado se é candidato, diz apenas que se sente envaidecido quando o seu nome é lembrado por vários segmentos. Ele afirma que o grupo formado pela antiga e a nova oposição está conversando para tentar furar o Centrão. “A prudência aponta para nós escolhermos um nome que aumente a autoestima da Casa. Esse nome, evidentemente, não pode ter a mínima ligação com Eduardo Cunha”, pondera Delgado.

Nem tucano, nem petista
Há um bloco informal de deputados com integrantes de diversos partidos que tem se reunido com frequência para avaliar a sucessão. O grupo é formado por Sílvio Costa (PTdoB-PE), Miro Teixeira (Rede-RJ), Espiridião Amin (PP-SC), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Benito Gama (PTB-BA), Rubens Bueno (PPS-PR) e Heráclito Fortes (PSB-PI). Os parlamentares decidiram apoiar um nome que não seja ligado a Eduardo Cunha e também não integre o PSDB nem o PT.

O deputado Sílvio Costa ressalta que o PSDB está sendo trabalhado por Temer para votar no candidato costurado com Eduardo Cunha. “Hoje, se você for na Câmara, encontra mais de 30 candidatos. Não tem nenhum nome certo ainda. É importante lembrar que quem vencer será o coordenador da sucessão do próximo presidente. Outro ponto: o chamado tampão será vice-presidente da República em caso de confirmação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado”, avalia Silvio Costa.

Alguns parlamentares da nova oposição acreditam que, politicamente, era até melhor um aliado de Cunha assumir a Câmara porque, neste caso, ficaria evidente que Temer é refém do presidente afastado da Casa. Um grupo de deputados alinhados à presidente Dilma diz reservadamente que não vai fazer esforço para barrar qualquer nome indicado por Cunha. Existe até a possibilidade de o PT não lançar nenhum nome e abraçar a candidatura de consenso construída entre a nova e antiga oposição.

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), aliado fiel de Temer, avalia que o governo federal precisa esperar a renúncia de Eduardo Cunha para começar a mexer as peças no tabuleiro. Os peemedebistas mais próximos do governo defendem que o presidente interino deve se manter afastado da turbulência política da Câmara se não houver um nome fruto de um amplo acordo. Por essa tese, o Planalto só entraria na disputa se houvesse um candidato do governo contra um da oposição.

Entre os nomes ventilados que poderiam surgir de um consenso entre o Centrão, o centrinho e o PMDB estão o de Antônio Imbassahy (PSDB-BA), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Agnaldo Ribeiro (PP-PB), Milton Monti (PR-SP), Giacobo (PR-PR), Julio Delgado (PSB-MG) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). A avaliação é de que Serraglio recuou algumas casas ao bancar o deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), aliado de Cunha, para relatar o recurso apresentado na CCJ pelo peemedebista.

Desde que Temer assumiu o Planalto, em 12 de maio, são nítidas as divergências entre o centrão, mais alinhado a Cunha, e o centrinho. O primeiro grupo conseguiu emplacar o líder do governo, André Moura (PSC-SE). O certo, por enquanto, é que a neutralidade pretendida pelo Planalto na disputa é casa vez mais difícil.

Vacância
Nas últimas 24 horas, com as negociações feitas por Eduardo Cunha para tentar escapar da cassação se renunciar à presidência da Casa, voltou a circular a hipótese de decretação de vacância do cargo, o que, obrigatoriamente, forçaria a convocação imediata de uma nova eleição para o principal posto da Mesa Diretora. Essa hipótese já estava contida em um projeto de resolução apresentado pelo líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).

Adversários de Cunha afirmam que está em curso um acordo com PSDB, PMDB e o Centrão para evitar a cassação em plenário. Aliados do presidente afastado da Casa acham que isso não existe. “A última esperança de Cunha é o recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Quando o caso chegar ao plenário, acabou”, disse um parlamentar.

Esse mesmo deputado acha pouco provável a hipótese de dar certo a vacância. “Para a tramitação, seriam necessárias 257 assinaturas favoráveis ou apoio proporcional de igual número de líderes.” Para ele, a diferença entre a renúncia e a vacância é apenas política. “Na primeira, ele sairia pela porta da frente. Na segunda, pela dos Fundos”, resumiu.

Fonte: João Valadares - Correio Braziliense
 (*)Colaboraram Paulo de Tarso Lyra e Julia Chaib

Quem é quem - Confira os nomes mais cotados para a disputa

Centrão (PP, PSD, PR, PTB, PROS, SD, PRB, PEN, PTN, PHS, PSC e PSL)
» Rogério Rosso (PSD-DF)
» Giacobo (PR-PR)
» Beto Mansur (PRB-SP)
» Manato (SD-ES)
» Jovair Arantes (PTB-GO)

PMDB
» Osmar Serraglio (PMDB-PR)

Centrinho (PSDB, DEM, PSB E PPS)
» Antônio Imbassahy (PSDB-BA)
» Rodrigo Maia (DEM-RJ)
» Julio Delgado (PSB-MG)

PT/PCdoB/PDT/Rede
» Arlindo Chinaglia (PT-SP)
» Miro Teixeira (REDE-RJ)

PSol
» Chico Alencar




Fonte: João Valadares -Foto: José Cruz-Agência Brasil – Correio Braziliense

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