Ponto de táxi na Rodoviária Interestadual:
categoria se mostra revoltada e dividida em relação ao futuro da profissão, que
sente a pressão de aplicativos como o #Uber
Começa amanhã o pleito para a escolha dos
representantes do sindicato da categoria com três chapas. Entre reeleição e
discursos de renovação, candidatos enfrentam uma das maiores crises da
profissão por causa da concorrência com o serviço por aplicativo
Uma das categorias profissionais com
grande força política no DF pode sofrer reestruturação nos próximos dias. Com
poder de barrar projetos na Câmara Legislativa, fazer o governo recuar em
licitações, ter representante no Tribunal de Contas do DF e eleger parlamentares,
o grupo à frente do Sindicato dos Permissionários de Táxis e Motoristas
Auxiliares do DF (Sinpetaxi) se prepara para a eleição de novos representantes
para os próximos quatro anos — a composição vencedora assume em 5 de setembro.
Em meio à concorrência com o transporte
individual de passageiros por aplicativos, como o Uber, e mudanças gradativas
no sistema, taxistas reclamam da falta de representatividade e se queixam de
vínculos familiares no Sinpetaxi. Na Presidência desde 5 de setembro de 2001,
Maria do Bonfim Pereira, a Mariazinha, enfrenta a ameaça de ceder a cadeira que
assumiu há quase 15 anos. Três chapas disputam a função. Concorrem Mariazinha;
o atual 1º secretário do sindicato, Sérgio Aureliano e Silva; e o presidente da
Associação Nacional de Taxistas em âmbito federal (ANTF), Suéd Silvio (veja As
chapas).
José Araújo inventou a Chapa 4 em protesto à atual
gestão: abaixo-assinado
Existe, ainda, a suposta Chapa 4,
encabeçada pelo taxista José Araújo. Apesar de não ser registrada, ela tem
atuado em protesto à gestão atual. Para isso, ele organiza um abaixo-assinado,
pedindo a anulação do pleito e solicitando nova disputa para que todos os
profissionais tenham a chance de votar — hoje, só os que estão em dia com o
sindicato têm esse direito (leia Para saber mais). Segundo José, muitos
motoristas aptos a votar não exercem mais a profissão.
O cargo de presidente desperta ambição.
Entre os benefícios, há ajuda de custo de R$ 5 mil, estendida a secretário e a
tesoureiro, além de motorista à disposição. Apesar de três chapas na disputa,
duas delas revelam características de situação. Mariazinha tenta a reeleição
pela Chapa 1. E o cunhado dela, Sérgio Aureliano, encabeça a Chapa 2, tendo a
mulher dele, irmã de Mariazinha, como candidata a conselheira fiscal — Maria do
Socorro Pereira de Santana e Silva é a atual vice-presidente do Sinpetaxi.
Marcos Antônio Ribeiro, taxista: "Quando vira
um negócio de família, a coisa não anda
Apesar dos vínculos familiares, Sérgio
e Mariazinha garantem ser adversários. “Seis pessoas compõem o conselho fiscal,
e ela (Maria do Socorro) sempre fez parte do sindicato e administrou com
transparência. Separamos da chapa da Mariazinha porque não dava mais. Se a
Chapa 2 vencer, ela (Mariazinha) estará fora do sindicato definitivamente. E,
se a Chapa 1 vencer, eu sairei definitivamente”, garantiu Sérgio.
Mariazinha mantém o irmão como
motorista da entidade, assim como um dos advogados é irmão de Sérgio Aureliano.
Ela alega que, quando assumiu a Presidência, parte dos familiares exercia
funções no sindicato. “Não fui eu quem colocou. Hoje, a Socorro (irmã) está
doente e é contra mim. É a minha adversária nº 1 e não me lembro de ter feito
mal algum para isso”, afirmou.
A presidente do Sinpetaxi quer dar
continuidade ao trabalho e prometeu lutar para reconstruir um ponto de apoio no
aeroporto, criar um aplicativo para garantir passageiros na volta da corrida e
implementar Bandeira 2 em dezembro. Negou que o serviço seja caro e defendeu a
retirada dos profissionais incompetentes. “Hoje, para manter o carro é caro.
Oitenta por cento da frota está renovada. Como paga prestação de veículo sem
renda?”
Líder da Chapa 2, Sérgio Aureliano
defendeu uma nova filosofia de trabalho, com experiência e responsabilidade.
“Vamos criar um aplicativo para concorrer com esses novos, propor um fundo de
reserva ao taxista, auxílio-funeral e buscar com o governo pontos de táxi”,
detalhou. “Hoje, o Uber está enganando a população, porque não dará conta de
sustentar o valor praticado por muito tempo.”
Candidato pela Chapa 3, Suéd quer
acabar com o nepotismo. Para ele, é preciso inovar. “O nosso desafio é preparar
a categoria para uma concorrência que os taxistas nunca tiveram. Não é bater
nela, mas mostrar um serviço melhor. Vamos criar um aplicativo de corrida,
diminuir os insumos e praticar preço de combustível mais em conta para o
taxista. Baixar a tarifa diretamente sem dar condições para o profissional
tornaria o serviço inviável”, concluiu.
O projeto que regulamenta o uso do
aplicativo Uber, aprovado em junho pela Câmara Legislativa, aguarda aval do
GDF. O texto está na Secretaria de Mobilidade. Não há data para a conclusão do
trabalho, mas a expectativa é de que o decreto do Executivo seja publicado na
primeira quinzena de agosto. O secretário da pasta, Marcos Dantas, reafirmou
que o Executivo local não interferirá no serviço. “Não vamos limitar o Uber.
Faremos uma avaliação técnica para ver se há alguma inconsistência no projeto.
Isso deve ser concluído em breve”, disse.
Divisão
Uma parcela dos taxistas não se sente
representada pelo sindicato. É o caso de Marcos Antônio Ribeiro, 48 anos, na
profissão há quase 16. Sindicalizado, ele faz questão de votar. “A categoria está
repartida. Quando passa muito tempo na mão de um, a pessoa começa a achar que é
dona. Quando vira um negócio de família, a coisa não anda”, avaliou.
Alcides Veras, 39, reforça a falta de
sintonia entre os profissionais. “Na prática, é como se o sindicato não
existisse. Ninguém tem proposta de nada que efetivamente nos beneficie”,
reclamou.
Para saber mais - Mensalidade e desconto
São 3,4 mil permissionários de táxis e
entre 1,1 mil e 1,2 mil motoristas auxiliares. No entanto, estão aptos a
votarem para a escolha dos novos representantes do sindicato apenas os taxistas
com a mensalidade em dia: 1.621. A entidade representativa de classe tem 44
funcionários, cobra R$ 26 de mensalidade e oferece aos motoristas abastecerem
no posto de gasolina da 302 Sul por R$ 3,55 (a gasolina custa de R$ 3,59 a R$
3,60). Há até 2 anos, o Sinpetaxi exigia o pagamento de uma joia no valor de um
salário mínimo para que os profissionais se sindicalizassem, mas não há mais
essa obrigatoriedade. Hoje, a categoria paga R$ 1,25 por corrida como ajuda de
custo para operar no posto improvisado do aeroporto.
Votação
As eleições ocorrem amanhã, quinta e
sexta-feira, das 8h às 18h, na sede do Sinpetaxi (SQS 302, Bloco A, no posto de
gasolina). A apuração dos votos começa na sexta-feira, após as 18h, e a
previsão é de que o resultado seja computado aproximadamente duas horas após a
contagem das cédulas.
As chapas
Maria do Bonfim Pereira, a Mariazinha,
62 anos,
É candidata a presidente pela Chapa 1.
Está à frente do Sinpetaxi desde 5 de setembro de 2001. Na atual gestão atual,
mantém na vice-presidência a irmã, Maria do Socorro Pereira de Santana e Silva;
na 1º Secretaria, o cunhado Sérgio Aureliano e Silva; como motorista, o irmão;
e um dos advogados do sindicato é irmão do cunhado. Em 2010, disputou vaga na
Câmara Legislativa pelo PHS. Recebeu 2.933 votos e não foi eleita.
Sérgio Aureliano e Silva, 47
anos,
Concorre à Presidência do Sinpetaxi
pela Chapa 2. É taxista desde 1992. Entrou para a entidade em 1987 como
auxiliar de escritório. Desde 2001, exerce a função de 1º secretário da
entidade representativa de classe. Colocou a mulher e irmã de Mariazinha, Maria
do Socorro, como uma das candidatas ao Conselho Fiscal. Alega ser oposição à
Chapa 1, liderada pela atual presidente. Está no 8º semestre do curso de
direito.
Suéd Silvio, 36 anos,
É candidato a presidente pela Chapa 3.
É taxista há 15 anos e atua com mais frequência no Aeroporto Internacional de
Brasília Juscelino Kubitschek. É presidente da Associação Nacional de Taxistas,
em âmbito federal (ANTF). Tem dois irmãos taxistas, além dos sogros, mas
garante que não mantém na composição da chapa nenhum familiar. Cursa o 7º
semestre de direito.
Fonte: Isa Stacciarini – Fotos: Marcelo
Ferreira/Cb/D.A.Press – Reprodução/Divulgação – Correio Braziliense