Por: Severino Francisco
A Administração do Sudoeste e o
Conselho Comunitário de Segurança lançaram uma campanha contra a esmola no
bairro. Eles alegam que a prática estimula o aumento do número de pessoas nas
ruas e, em consequência, incentiva o aumento da violência. “Cidadania sim...
Esmola não!” é a frase estampada no cartaz, distribuído em várias quadras. Os
comerciantes e moradores estão incomodados com o assédio e a falta de
segurança.
De minha parte, gostaria de levantar algumas dúvidas sobre a eficácia do
projeto. Deixar de conceder esmolas não me parece ser capaz de produzir uma
solução mágica para resolver os problemas sociais graves que levam os
desvalidos às ruas. Essa não é a primeira tentativa do gênero. Em 1996, o
próprio GDF lançou uma campanha, com o slogan: “Não dê esmola, dê cidadania”.
Era a continuidade de programa dos programas “Brasília diz não à prostituição”
e bolsa-escola, lançados pelo então governador Cristovam Buarque.
Havia uma rede de sustentação institucional que envolvia até o Unicef.
No entanto, o projeto não teve sucesso porque a parte da cidadania permaneceu
no plano do slogan. É importante que os cidadãos se mobilizem para resolver ou
cobrar a solução de problemas. Certa vez, participei de uma reunião de
condomínio sobre questões de segurança e alguém sugeriu: “Vamos fazer algo
porque a polícia não faz nada”. Discordei veementemente. A polícia precisa
fazer a parte dela.
Os cidadãos do Sudoeste ou do Itapoã têm todo o direito de exigir das
autoridades competentes segurança nas ruas. Mas imaginar que será possível
criar uma bolha, uma ilha de fantasia, imune a todas as mazelas sociais é uma
ilusão. Brasília está cercada de Brasil por todos os lados.
Seria preciso uma articulação maior com o governo e instituições para
que se tornasse efetivamente viável o caminho da cidadania. Esse gênero de
solução desperta o senso crítico, principalmente em uma cidade criada sob o
espírito coletivo comunitário, democrático e generoso.
Os prédios não têm pilotis em favor da livre circulação de todos. Existem
diversas ações que pressupõem ser possível criar bolhas de segurança absoluta
dentro das cidades. Infelizmente, isso não é viável. A própria segregação
espacial provocada pela transferência dos operários que construíram o Plano
Piloto para as cidades da periferia teve e continua tendo consequências
dramáticas para a história da cidade.
No filme Branco sai, preto fica, mixagem de documentário, ficção e
ficção científica, dirigido por Adirley Queiroz, que ganhou prêmios importantes
em vários festivais internacionais de cinema, chegamos a uma situação extrema,
em que é preciso passaporte para entrar no Plano Piloto. Espero que esse
cenário permaneça no mundo distante da ficção científica.
(*) Severino Francisco – Colunista do
Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google