Moradora do Guará II, Maria Clara utiliza os livros
do projeto
Com o objetivo de possibilitar e aumentar o acesso
à leitura para cada vez mais moradores do Distrito Federal, o projeto Refresque
ideias – geladeira do livro, enche cada vez mais prateleiras de histórias. A
ideia principal é reutilizar geladeiras velhas, transformando-as em bibliotecas
comunitárias gratuitas e as regras são simples: qualquer pessoa pode doar
livros ou pegar para ler e devolver quando quiser. O importante é fazer os
livros circularem e encontrarem leitores de todas as idades e regiões do DF.
Por fora, cada geladeira é trabalhada com desenhos feitos por grafiteiros e
artistas da própria comunidade onde ela será instalada. Além de promover o
hábito da leitura, o projeto pretende incentivar a relação dos moradores com as
praças e espaços públicos de onde vivem, possibilitando mais encontros, além da
troca de experiências e aprendizado.
Lucas
Rafael, 32, é baiano radicado em Brasília e um dos produtores e criadores do
projeto. O educador e videoartista teve a ideia de começar a preencher as geladeiras
quando percebeu que muitos jovens da região, ainda em idade escolar, não
encontravam fácil acesso aos livros, sejam eles para estudo ou literatura.
Lucas já utilizava o eletrodoméstico antigo para aproveitar o espaço em sua
casa e decidiu que seria a hora de fazer uma intervenção urbana com foco
educacional. “Em um país como o Brasil em que, segundo dados da pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil somente 56% da população têm o hábito da leitura,
projetos que incentivem a população a ler são cruciais para que as verdadeiras
transformações políticas possam acontecer, a informação e o conhecimento são
bases sólidas de uma sociedade forte e consciente de seus direitos e deveres”,
afirma o produtor.
Para o
criador da Geladeira, a leitura ensina, abre portas para novas interpretações e
questionamentos, para o esclarecimento e o aperfeiçoamento de técnicas, além de
proporcionar a identificação com histórias, reais ou fictícias, das mais
diversas situações, que podem inclusive inspirar resoluções de problemas.
“Aquele que lê aprende também a escutar o outro, a conhecer, respeitar e
debater opiniões diversa. A leitura e a educação, certamente são o melhor e
mais nobre caminho para a ascensão social”, destaca. O impacto nos locais de
instalação também costuma ser rapidamente percebido, já que as ruas e praças se
mostram mais movimentados e criam um espaço possível para dialogar e trocar
experiências a respeito das novas histórias e palavras adquiridas.
Atualmente,
o projeto conta com quatro geladeiras instaladas e estão previstas outras sete
em diferentes regiões do DF. A instalação em um novo ponto é sempre acompanhada
por um dia de ação cultural e instruções sobre o uso e cuidado com a nova
biblioteca. A ação cultural busca o envolvimento junto à comunidade artística
do local da instalação, tentando sempre a colaboração de poetas, músicos,
grafiteiros locais. Além dos shows, o evento leva contação de histórias com
foco na questão da inclusão racial e busca mostrar, na geladeira, livros de
escritores locais.
O
Geladeira do livro pretende agir de maneira ativa na comunidade, com ocupação
consciente dos lugares e desejo de aumentar o acesso ao conhecimento. “Projetos
que visam transmitir conhecimento e ocupação cultural sempre serão
transformadores se forem mais que uma ação pontual. Acredito que a leitura e a
educação são as maiores e mais eficazes ferramentas de transformação cultural e
a cultura pode transformar a sociedade e o pensamento político”, afirma o
produtor e educador. A ideia é que o projeto seja auto sustentável e que a
própria comunidade possa se apropriar, cuidar e replicar a ideia.
Por: Isabella de Andrade
- Especial para o Correio Braziliense - Foto: Rodrigo
Nunes-Esp/CB/D.A.Press