Os áudios que trouxeram à tona o UTIgate, esquema
de corrupção na cúpula da Câmara Legislativa, são pedagógicos. Expõem a
podridão de políticos empenhados única e exclusivamente em se dar bem e levar
vantagem em tudo. Só querem saber de mais propina, mais cargos para os
apaniguados e mais poder. Em nenhum momento, nas conversas gravadas entre a
denunciadora do escândalo, a deputada distrital Liliane Roriz (PTB), e a
presidente da Casa, Celina Leão (PPS), ou com outros suspeitos de participar da
maracutaia, ouve-se a mais tênue preocupação com o interesse público.
É um show
de horrores. Começa pela mudança de destinação de dinheiro, cerca de R$ 30
milhões, via emendas parlamentares. Inicialmente, a verba deveria ir para a
reforma de escolas públicas. Mas, como integrantes da Mesa Diretora não
conseguiram fechar “negócio” com empresário local que seria responsável pelas
obras, eles mudam de ideia. E trocam de “projeto”. Resolvem repassar o dinheiro
para quitar dívidas do Distrito Federal relativas a serviços de UTI prestados
por clínicas e hospitais. Em contrapartida, recheariam os bolsos de propina.
Em
gravação, Valério Neves, então secretário-geral da Câmara Legislativa, conta a
Liliane que foi o distrital Cristiano Araújo (PSD) quem conseguiu “o negócio”
das UTis. Estima que a tratativa renderia, “no mínimo, 5% e, no máximo, 10”. E
detalha: “Quem sabe disso são só os cinco membros da Mesa e o Cristiano”. Na
época, a Mesa Diretora era composta por Celina, Bispo Renato Andrade (PR),
Júlio César (PRB), Raimundo Ribeiro (PPS) e a própria Liliane, que renunciou ao
cargo quando estourou a notícia de que o Ministério Público investiga o
escândalo com base nos áudios gravados pela distrital.
De abril
para cá, é a segunda vez que o nome de Valério Neves desponta em meio a
escândalos de corrupção. Em abril, ele foi detido na Operação Lava-Jato,
acusado de ser o operador de esquema criminoso chefiado pelo ex-senador Gim
Argello. O que estarrece quem se aventura a ouvir os áudios vazados até agora é
o desdém que os acusados têm pelos cidadãos. As excelências não estão nem aí
para os “bobões” que as elegem a cada quatro anos. Na intimidade, revelam as
gravações, é zero a preocupação dessa gente com os brasilienses que trabalham
cinco meses por ano apenas para pagar impostos e, em troca, não recebem
serviços públicos decentes. É como se dissessem: “O povo que se exploda”.
Por:
Plácido Fernandes Vieira – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google
VERGONHA!!!
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