O médico José Adorno transformou sua paixão pelo café em um requintado
negócio: ele planta, colhe, torra e embala os grãos que encantam os amantes da
bebida
Com boa visão de mercado e atentos às exigências de uma demanda
rigorosa, empresários locais investem na confecção de produtos, como bebidas e
comidas, que ganham selo de excelência, reconhecido em todo país
Não é novidade para alguém que investe no Distrito
Federal que a clientela daqui está entre as mais exigentes do Brasil. Dona da
maior renda per capita dos estados da federação — a média mensal é de R$ 2.055,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, a região
demanda de quem produz um cuidado ainda mais assertivo com o produto final e,
como consequência, muitos alcançam um padrão de qualidade que os colocam entre
os melhores do país.
Um dos exemplos é Priscila de Ávila. Em sua propriedade
no Lago Oeste, ela decidiu investir nas pimentas mais ardidas do mundo,
transformando sabores picantes em molhos, geleias e temperos. A proprietária do
La Pimenteira garante: conquistar o cliente daqui requer um processo de
convencimento totalmente dependente da qualidade do que é vendido. “O DF
começou a dar valor aos meus molhos a partir do momento em que entendeu que as
pimentas não são só ardência. Elas são uma harmonização de sabores com ervas,
azeites, vinagres e até cachaças. É isso que faço”, explica.
Mesmo tendo conseguido se posicionar no mercado —
os produtos dela podem ser encontrados em grandes restaurantes de Brasília e em
outras capitais —, ela assegura que isso não é o suficiente para convencer os
bancos a aumentarem as linhas de crédito para um maior investimento. “Eles
liberam pouco capital de giro para os produtores médios. Mas tive bastante
apoio de entidades como Emater e Sebrae. Posso garantir que aqui enfrentei
menos dificuldades do que quando morei em Goiás”, frisa.
Esse suporte é fundamental para os produtores
entenderem, não só o que envolve o manejo daquilo que é plantado, mas como ele
pode agregar valor à mercadoria. Fernando Neves, gerente da Unidade de
Agronegócios do Sebrae no DF, frisa que para ser de qualidade, não significa
apenas ser bem-aceito pelo mercado. “É preciso ter padrão, volume e frequência.
Não adianta oferecer algo bom sem garantia de que ele vai ser sempre assim; ou
que não haja uma regra na quantidade, bem como na periodicidade de entrega”,
explica.
De acordo com ele, ainda são poucos os nomes no DF
e no entorno que conseguem atingir esse nível de precisão nos negócios. “Mas há
muitos a caminho. O importante é que eles busquem sempre mais conhecimento, não
somente de técnicas de agricultura e manejo, mas também de mão de obra.” Essa
busca é essencial até mesmo para que analisem se estão mesmo dispostos a
enfrentar as agruras do mercado em que pretendem investir.
Investimento e conhecimento
Quem conversa com José Adorno só fica sabendo qual
a sua primeira profissão, a de médico, caso ele diga. Seu prazer em falar sobre
café é tão visível que dá a impressão de que ele nasceu nesse meio. Mas foi uma
mudança para o Lago Oeste que despertou sua atenção para planta e para tudo que
envolve sua produção. De uma plantação experimental de 300 pés, há nove anos,
hoje ele tem cinco mil e entrega no Lote 17B, um café orgânico e especial que
demonstra não só o potencial do DF, mas como o mercado tem mudado a percepção
sobre o que é capaz de ser produzido aqui. “O meu grande objetivo é criar uma
cultura de café, de bom gosto. Quis dar uma vocação para a chácara, envolvendo
toda a família”, explica.
Mesmo sem saber nada sobre esse tipo de lavoura,
Adorno encarou o desafio e transformou sua propriedade em um minicafezal, onde
planta, colhe, seca, torra, mói e embala os grãos. “Quando conheci café
especial, percebi que existia a possibilidade de termos aqui um produto de alto
valor agregado”, afirma. Sua intenção, inclusive, é de ir além do fornecimento:
José pretende transformar a propriedade em um local para reunir os amantes da
bebida, onde possam conhecer o que está por trás daquele do expresso degustado
todos os dias. “Quero criar um espaço sensorial de prova, recriando todos os
passos do café, com visitações. Há mercado e ele está crescendo.”
O interesse em fabricar itens mais elaborados
também tem chegado, inclusive, às regiões de Goiás, próximas a Brasília. A
Pireneus Vinhos e Vinhedos, localizada na serra que leva o mesmo nome, ainda
surpreende enófilos de todo o país. Adriana Carvalho, uma das sócias, garante
que o investimento — considerado uma loucura no início —, agora é elogiado e se
mantém pela força do mercado brasiliense e pela mudança de percepção da
clientela goiana sobre o vinho.
“Ainda há resistência ao que é novo, mas nossa região
precisa ser valorizada para continuarmos a investir. Brasília é, hoje, a cidade
que mais consome nossas garrafas, seguida por Goiânia”, conta. Adriana também
reclama da dificuldade de receber financiamento, mas isso não diminui a
intenção de continuar no setor. “A colheita de 2016 está sendo feita agora e
nossa expectativa é atingir as seis mil garrafas.”
Se produzir vinhos no cerrado pode soar inusitado,
o que dizer de uma cachaça de Alexânia (GO), que é considerada a melhor do
país? Na Expocachaça 2016, realizada, em junho, na capital de Minas Gerais,
Belo Horizonte, a Cachaça DOMINISTRO Extra Premium recebeu Medalha de Ouro em
uma degustação promovida durante o evento. “A burocracia para investirmos
sempre foi o maior problema, ainda mais para quem segue tudo à risca, como nós.
Mas, quando recebemos um prêmio como esse, percebemos que estamos no caminho
certo e que vale a pena se dedicar a essa região”, garante José Ribeiro,
gerente da cachaçaria, que hoje produz 40 mil litros por ano.
A empresária
Priscila Ávila supreendeu ao oferecer pimentas ardidas em forma de molhos,
geleias e tempeiros: produto diferenciado para quem tem paladar refinado
Mercado local
O gerente técnico do Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (Senar-DF), Anderson Assunção Vieira, afirma que exemplos
bem-sucedidos, como os da Cachaça DOMINISTRO, estimulam outros empreendedores.
É como se alguém dissesse: “é rentável investir na região.” “Isso faz com que
eles busquem mais instruções específicas, não apenas no manejo, mas na
administração do negócio: quanto ele gasta, quanto pode comprar etc. Eles estão
entendendo que têm uma empresa”, frisa. E, com isso em mente, às vezes, fica
até mais lucrativo manter as vendas restritas ao Distrito Federal.
Gilsérgio dos Santos Silva, da Cogu Cogumelos
Brasilienses, começou a investir no fungo na expectativa de exportar para o
Japão. “Era 2004 e assisti a uma palestra no Sebrae sobre o cogumelo-do-sol. Eu
me interessei, comecei a pesquisar e descobri que, muito melhor do que fornecer
para estrangeiros, era vender para quem vive no DF”, lembra. Comercializando
champignon e shimeji, sua produção, que sai do Lago Oeste, fica toda no
quadradinho.
“Meu grande problema ainda é a questão da
regularização de terra. Temos a cessão de posse, mas produtores como eu ainda
sofrem para conseguir financiamento porque não têm a escritura da área.” Ainda
assim, depois de 12 anos no mercado, ele garante ter alcançado o padrão ideal
da mercadoria, fornecendo para supermercados, restaurantes e embaixadas. “O
consumidor é exigente e faz com que a gente sempre busque melhorar. E, como
temos uma variação de público muito grande, nos esforçamos mais.”
Onde encontrar
>>Cogu Cogumelos Brasilienses: 3478
2033/ 98179 0949
>>La Pimenteira: 98128 6916 / E-mail:
priscila.bizzideavila@gmail.com
>>Café Lote 17B:
E-mail:chacara17b@cafelote17b.com/ Site:
lote17b.com.br
>>Cachaça DOMINISTRO:
http://www.cachacadoministro.com.br
>>Pireneus Vinhos e Vinhedos:
pireneusvinhos@gmail.com/ Whatsapp: (6299944 3314)
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Fonte: Rafael Campos – Fotos: André Violatti/Esp/CB/D.A.Press – Gustavo
Moreno/CB/D.A.Press – Correio Braziliense