Grupo de moradores cercou uma retroescavadeira para
tentar impedir a derrubada, mas PMs - alguns a cavalo - garantiram o
prosseguimento das demolições
A Justiça do Distrito Federal ampliou a operação de
derrubada no Estância Quintas da Alvorada, no Altiplano Leste, para residências
erguidas há mais de duas décadas. A área, localizada entre o Lago Sul e o
Paranoá, receberá equipamentos públicos
As derrubadas no Condomínio Estância Quintas da
Alvorada, no Altiplano Leste, serão ampliadas. O Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) determinou que as construções
erguidas no local no início da década de 1990 também sejam demolidas na ação
iniciada na segunda-feira pela Agência de Fiscalização do DF (Agefis). Até
quarta-feira, apenas as edificações levantadas até 2014 faziam parte da desobstrução.
A decisão se baseou no Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), que não
inclui a área situada entre o Lago Sul e o Paranoá. A Justiça prevê, ainda,
multa de R$ 1 milhão para os invasores.
Segundo a
Agefis, a operação realizada no Estância Quintas da Alvorada cumpre decisão do
TJDFT, de novembro de 2015, e recomendação do Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios (MPDFT) — esse último exige do Executivo local medidas
contra a implantação irregular dos loteamentos. A ação, no entanto, sofre
resistência dos moradores. Há quatro dias eles tentam conter o avanço das
máquinas com interdição de vias e cordões humanos. Alguns sobem nos telhados
das casas para evitar as demolições. No local, há cerca de 900 residências,
onde vivem 6 mil pessoas.
Ontem, a
Polícia Militar mobilizou cerca de 100 homens, alguns a cavalo. Em conjunto com
o Departamento de Trânsito (Detran), os PMs fecharam a via de acesso ao
condomínio na DF-001 para evitar manifestações — na terça-feira, cerca de 500
pessoas interditaram a pista e impediram o trabalho da Agefis. Dentro do
Estância Quintas da Alvorada, no entanto, um grupo chegou a cercar uma
retroescavadeira, mas logo os policiais o dispersou. Muitos moradores estão
assustados e apreensivos. Mesmo quem não tem a casa como alvo iminente da
derrubada presta solidariedade aos vizinhos. A administradora do condomínio,
Lila Sousa, defende que todos pagam Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU), além de contas de água e de luz. “Queremos a regularização. Não vamos
sair daqui. Se for preciso, pararemos Brasília para ter visibilidade”, afirma.
A maior
reclamação é de que ninguém foi informado previamente sobre a operação. Segundo
os moradores, sete residências foram derrubadas pela Agefis, incluindo algumas
ocupadas. Damares Maria Andrade, 47 anos, tem casa no condomínio desde 1999.
“Hoje pode não ser a minha residência, mas amanhã, ninguém sabe”, desabafa. Ela
conta que muitos compraram lotes na localidade devido a um pronunciamento feito
pelo governador do DF, Rodrigo Rollemberg, em 2014, no qual ele disse que
nenhuma demolição seria realizada na região.
Proibição
A assessoria de Comunicação de Rollemberg informou que a posição do
governador é anterior à decisão judicial. “Esta não foi uma decisão pessoal, e
o GDF está cumprindo apenas uma decisão designada pela Justiça”, alegou.
Segundo a Agefis, a construção de residências no Estância Quintas da Alvorada
está proibida desde 2014, mas, a partir de então, mais de 200 casas foram
erguidas. Essas moradias são alvo da primeira parte da operação. O Executivo
local reforçou que o terreno é público e receberá equipamentos públicos. O
órgão acrescentou que, de acordo com a Lei nº 1.998/2015, quando uma obra
ocorre em área do governo, cabe ação imediata, dispensando qualquer tipo de
aviso.
"Queremos a regularização. Não vamos sair daqui. Se for preciso, pararemos Brasília para ter visibilidade”
(Lila Sousa, síndica do Condomínio Estância Quintas da Alvorada)
900
Total de residências na localidade situada entre o Lago Sul e o Paranoá
Fonte: Correio Braziliense –
Fotos: André Violatti/CB/D.A.Press