Poucos dias antes de ser preso pela segunda vez,
por causa de acusações da Operação Lava-Jato, José Dirceu recebeu um repórter
em sua residência. Naquela ocasião, já pressentia que seu retorno ao cárcere
era iminente e seu destino estava, de alguma maneira, definitivamente
selado. Depois de uma longa entrevista, perguntado se guardava alguma mágoa com
relação ao ex-presidente Lula, que ajudara a eleger e o abandonara à própria
sorte, Dirceu mirou o vazio distante, refletiu por uns segundos e reagiu entoando
pausadamente o nome do antigo companheiro de luta por três vezes, Lula...
Lula... Lula... e não disse mais nada.
Havia
naquela resposta reticente e aparentemente sem muito sentido um universo de
explicações ocultas com pelo menos três décadas de muitas histórias. Pouca
gente, como ele, teve a chance de conhecer de perto o antigo dirigente
sindical. Por certo, os meses que passara meditando na cela gelada de Curitiba
deram a José Dirceu a oportunidade de fazer um balanço sincero sobre a
qualidade dessa amizade e que consequências essa aproximação e intimidade
trouxeram para sua vida.
Dirceu,
mais do ninguém, pôde comprovar na própria pele e na alma que, ao ligar seu
destino ao de Lula, sua vida experimentaria uma verdadeira revolução. Com o
antigo companheiro de jornada, conheceu tanto o toque afrodisíaco do poder, do
prestígio e da bajulação, quanto do abandono, do esquecimento e do
menosprezo público. Condenado a 23 anos e 3 meses de prisão, acusado de
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Dirceu colhe os frutos
amargos de uma árvore que ajudou a plantar.
Zé, como
é chamado na prisão, é hoje um nome apagado no Olimpo político. Nem mesmo o
ex-presidente faz qualquer referência a ele publicamente, talvez para evitar
que as pessoas estabeleçam qualquer relação entre os dois. Zé... Zé... Zé, o
que fizestes de tua vida? Deve ele se questionar, entre uma leitura e outra nas
longas noites vazias, deitado em seu catre sem conforto. De qualquer forma, é
espantoso notar que todos aqueles que pertenceram ao núcleo próximo ao
ex-presidente ou já se encontram presos ou estão na mira da Justiça, aguardando
vaga nas celas. Com certeza, muitos desses antigos cortesãos, em suas noites de
angústia e espera, devem entoar o mesmo mantra: Lula...Lula...Lula.
A frase
que foi pronunciada
“Vaca de presépio? O PT está mais é para
raposa no galinheiro. “
(Antonio
Carlos Pannunzio)
Por:
Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google