Paulo Tadeu, Conselheiro do Tribunal de Contas do DF
Qual é o sentimento ao ver que a Polícia Civil
deflagrou a operação Palácio Real para investigar alvos que teriam armado uma
arapuca contra você há cinco anos?
Primeiro de alívio. Segundo, de ter a certeza que a
verdade, a partir de uma investigação do Ministério Público e da Polícia Civil,
vai desvendar a verdade do que aconteceu. É evidente que para nós é importante
a verdade aparecer para que os responsáveis pelo crime e pela armação política
sejam punidos.
Por que só agora, cinco anos depois do dia em que o
policial João Dias jogou aquele dinheiro no seu gabinete e agrediu uma
funcionária, a investigação mostra avanços?
Logo após o episódio, pedi que o Ministério Público
e a Polícia Civil desvendassem toda aquela armação, todo aquele crime. Após
isso, alguns anos atrás, tive acesso a parte à primeira parte de todo o
inquérito da Polícia Civil que inocentou tanto a mim quanto a meu irmão Ricardo
e à minha secretária Paulinha. O que ficou de ser desvendado agora é de onde
veio o dinheiro, como se realizou aquela farsa e quem foi o mentor intelectual
de toda aquela farsa. E acredito que a Polícia Civil deve estar chegando nessa
fase final. É importante concluir essa história e apresentar toda a verdade dos
fatos.
Quem, na avaliação, foi o mentor?
Sei que João Dias foi usado como ponta de lança.
Temos desconfiança, mas espero que a Polícia Civil possa apresentar para a
sociedade os verdadeiros responsáveis por aquele crime, por aquela farsa. Eu
prefiro esperar a conclusão das investigações do que apontar um possível
responsável e cometer uma injustiça que muitos cometeram comigo quando ocorreu
aquele episódio.
Mas a gente vê que estava sob investigação há mais
de cinco anos um coronel da PM, Cirlândio Martins, que é apontado como parte da
armação que você sofreu. Avalia que faltou informação no gabinete do
governador?
Acredito que o governo e o governador, à medida em
que avança nas investigações, só deve ser elogiado porque no governo Agnelo o
que se avançou foi apenas a primeira parte que nos inocentou. Agora vem a
segunda parte sobre de onde veio o dinheiro, quem são os mentores intelectuais.
O governo Rollemberg, por meio da Polícia Civil, deu uma resposta até de certa
forma surpreendente.
Esse episódio está sendo tratado de forma mais
justa no governo Rollemberg do que foi na gestão do petista Agnelo Queiroz, que
você apoiou?
Se o governo Rollemberg concluir as investigações,
terei um tratamento mais justo porque o importante é que a sociedade saiba da
verdade. Importante é que independentemente de A, B ou C, o governo desvende os
responsáveis por essa farsa. Nesse momento, entendo que a Polícia Civil e o
governo Rollemberg estão se empenhando para descobrir.
Você foi alvo de uma armação?
Não tenho nenhuma dúvida. Foi alvo de um crime e de
uma armação política para me afastar da vida pública, para me afastar da
Secretaria de Governo. Não tenho dúvida de que a gente fazia um trabalho sério,
de defesa da legalidade. Tenho certeza de que alguns grupos tentaram se
infiltrar no governo para desviar recursos públicos.
Você era um político promissor na política do DF,
cotado a concorrer um cargo majoritário. Esse episódio foi determinante para
tirá-lo das disputas a cargos eletivos?
É complicado que depois de enfrentar organizações
criminosas no DF, como aconteceu com a Caixa de Pandora, e se vê dentro do
próprio governo com ações de pessoas no sentido de minar lideranças para
facilitar esquemas de corrupção é muito ruim. Foi muito triste. Mas eu sei que
a vida continua. Tem muita gente boa na política, com condições de dar
continuidade no trabalho que nós fizemos. E dentro do Tribunal de Contas, o meu
trabalho, o meu combate, não mudou nada, na defesa dos recursos públicos.
Pensa em voltar para a política?
Para a disputa eleitoral, talvez eu não volte mais.
Entendo que o Ricardo (Vale) está cumprindo um papel importante dentro da
Câmara. Não é fácil enfrentar esse crise política, econômica e ética. Mas no
Parlamento não podemos prescindir de pessoas honestas. Acho que a população
reconheceu que foi uma farsa.
Você foi alvo de fogo amigo?
Acho que sim, mas espero que as apurações possam
apontar isso de maneira mais contundente. Foi fogo de amigo, de quem não tem
nenhum interesse em defender a sociedade.
Fonte: Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” –
Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google