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Água de beber camará - (Transformadas em moeda de troca, as terras públicas no DF foram, desde a emancipação política da capital, usadas de modo irresponsável e criminoso para auferir vantagens de todo tipo, desde a atração de votos até a obtenção de lucros para lá de suspeitos.)

Qual é a relação de causa e consequência poderia existir entre o inédito racionamento de água na grande Brasília, que levou à uma séria crise hídrica sem precedentes, e o tipo de política partidária praticada na capital nas últimas décadas? O que pode, num primeiro momento, parecer situações díspares, na verdade possui uma relação íntima e poderosa. Transformadas em moeda de troca, as terras públicas no DF foram, desde a emancipação política da capital, usadas de modo irresponsável e criminoso para auferir vantagens de todo tipo, desde a atração de votos até a obtenção de lucros para lá de suspeitos. É vã a esperança de que, algum dia, uma comissão parlamentar de inquérito da Câmara Legislativa desvende esse cipoal de irregularidades.

O alerta dado pela promotora de Justiça Marta Eliana de Oliveira mostra preocupação com o futuro. “Estamos em vias de sofrer uma crise hídrica sem precedentes caso não chova em breve ou chova pouco. No pior dos cenários, nossos reservatórios garantem água somente até dezembro. A população precisa adotar com urgência a prática de economizar água. Não podemos fazer chover, mas podemos passar a usar a água com responsabilidade e consciência, de modo sustentável.”

Às vezes em que o Estado convidou a população para contribuir com diversos tipos de racionamentos houve a mobilização nacional. Poucos meses depois, veio a traição. Desde a permanência da violência após a entrega das armas, até o racionamento de luz, depois do apagão que trouxe de brinde para quem contribuiu com o racionamento com uma conta mais alta, mostram como o consumidor e o cidadão são tratados com desrespeito.

Ao lado das consequências do aquecimento global, o que tem provocado, em grande parte, a situação de escassez de água em Brasília, é a ocupação irregular das terras públicas, principalmente naqueles sítios que os ambientalistas denominam de áreas de recarga.

Nas últimas décadas, sob a vista grossa dos principais órgãos de fiscalização, a capital sofreu um poderoso processo de inchaço populacional, com pessoas afluindo de todo o canto do país, atraídas pelas promessas de doação de lote e casa, em troca de apoio político. Do dia para a noite, centenas de novos bairros foram sendo erguidos às pressas e sem planejamento. O que resultou da irresponsabilidade e da ambição de algumas lideranças políticas locais, os brasilienses vão agora experimentando na pele as consequências.

Não é só o esgotamento hídrico, já alertado lá trás pelos ambientalistas, mas o colapso de toda a infraestrutura da cidade. Políticos, na sua maioria, têm dificuldade em entender o que é e para que serve o planejamento urbano. O horizonte desses personagens esporádicos se estende, no máximo, até as próximas eleições. O congestionamento em hospitais, escolas e em outros serviços públicos é o mesmo que vem se repetindo diariamente nas estradas e agravando o abastecimento de água e o fornecimento de luz. O padecimento atual da população resulta da ação inconsequente de hoje e de ontem das principais lideranças locais. A ameaça não só com a falta de água, mas a inviabilização da capital, infelizmente transformada em valhacouto de oportunistas e aventureiros de toda ordem.


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A frase que não foi pronunciada
“Tom Jobim cantou a água e o amor enquanto Brasília nascia. Se estivesse vivo, cantaria a seca e a dor.”
(Kleber Farias Pinto, pioneiro pensando nos bons tempos da cidade)




Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google


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