Salve o Cerrado
© WWF-Brasil / Bento Viana
© WWF-Brasil / Bento Viana
Comissão Pastoral da Terra convoca a população a
repensar sua relação com o bioma, responsável pela captação da água que
abastece as grandes bacias do Brasil. Na Câmara Legislativa, audiência pública
discutiu o grave problema por que passa o DF
A Barragem do Descoberto, principal fonte de
abastecimento do DF, atingiu ontem 35,12% da capacidade
Hoje não faltará água no Distrito
Federal. Pelo menos essa é a garantia da Companhia de Saneamento Ambiental do
DF (Caesb). Depois de uma semana na qual a gravidade da crise hídrica ficou
evidente, com várias regiões atingidas por cortes no abastecimento, o momento
agora está focado em poupar água. O estado de alerta segue, já que a Barragem
do Descoberto está com 35,12% da sua capacidade. Tanto a sociedade civil quanto
o poder público começam a traçar ações direcionadas ao combate à crise.
Ontem, a Comissão Pastoral da Terra
(CPT) lançou a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, com o tema Cerrado,
Berço das Águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida. No mesmo dia, a Comissão de
Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e
Turismo da Câmara Legislativa realizou uma audiência pública, na qual
representantes de autarquias que cuidam do sistema hídrico apresentaram à
sociedade, por meio dos deputados, o trabalho de contenção do problema. “A
campanha quer refletir as alternativas para a recuperação do cerrado. Muitas
comunidades fazem sua parte, recuperando nascentes e mananciais. Vamos unir as
organizações para discutir as iniciativas”, explica Isolete Wichinieski,
integrante da CPT.
O projeto, que conta com a participação
de 36 instituições, também pretende denunciar a violência que os povos que
vivem no cerrado têm sofrido. A antropóloga e professora da Universidade de
Brasília (UnB) Mônica Nogueira esteve no lançamento e elencou as questões que
culminaram com a situação grave de limitação hídrica na qual o DF vive. De
acordo com ela, além da perigosa ocupação desordenada do solo, o cerrado sofre
com a falta de valorização histórica da sua importância, com a pouca difusão de
informações sobre a necessidade no ciclo da água e com os interesses econômicos
que pesam sobre a região.
“O que o DF vive é uma demonstração
mínima do que pode abater todo o país, caso a sociedade brasileira não atente
para a importância que o cerrado cumpre, no que diz respeito aos ciclos
hidrológicos.” Para a especialista, é imprescindível criar uma forma de
enxergar essa vegetação. “O imaginário social precisa ser mudado. Existe a
exaltação da floresta, do litoral, de valorização da paisagem. Quando se fala
em água, as pessoas pensam nas grandes bacias hidrográficas da Amazônia.
Acontece que o papel do cerrado é o de capturar essa água e mandar para lá.”
Na Câmara Legislativa, apenas o
deputado distrital Cristiano Araújo (PDS) se manteve no auditório para ouvir os
convidados na audiência pública. Os outros parlamentares que estiveram no local
apenas externaram preocupação com a crise, mas deixaram as cadeiras antes de o
debate começar. O presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e
Saneamento do DF (Adasa), Paulo Sérgio Brêtas de Almeida Salles, afirmou que
essa é a pior crise. “Nunca pensamos que a água poderia faltar. Temos uma
situação hoje que nos obriga a poupar.”
Hoje, a Adasa vai realizar uma coletiva
de imprensa para repassar informações referentes à tarifa de contingência em
virtude da escassez hídrica no DF. Salles comentou brevemente sobre o tema,
afirmando que ela não atingirá hospitais e que o impacto no setor produtivo
deve ser menor, para afastar qualquer possibilidade de aumento no desemprego.
Por que proteger o bioma?
» 52% do bioma cerrado foi destruído. - » 901 espécies de fauna e flora estão ameaçadas de extinção. - » 6 bacias hidrográficas brasileiras são abastecidas pelas águas do cerrado.- » 80 etnias indígenas estão na região do cerrado. - Fonte: Campanha Nacional em defesa do Cerrado, das
Águas e da Vida.
Por: Rafael Campos – Fotos: Tony Wiston-Agência
Brasília – Bento Viana - Fotografias - Correio Braziliense