Entre os itens levados pela Polícia Civil para
perícia estão celulares, tablets, aparelhos de gravação e documentos em papel.
Investigadores acharam importante analisar até notas de compra de uma
embarcação encontradas na casa de Celina Leão (PPS)
Nestes tempos em que áudios e vídeos
tornaram-se instrumentos centrais nas denúncias de esquemas de corrupção, a
Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
recolheram um vasto material digital nas casas dos investigados pela Operação Drácon. Somente na casa de sete suspeitos, onde foram
realizadas ações de busca e apreensão, foram levados pendrives, fitas cassete e
microcassete, HD externos e uma série de outros materiais. Em alguns
casos, os investigadores acharam relevante recolher aparelhos específicos para
fazer gravações profissionais e recibos, como os que totalizam R$ 100 mil referentes
à compra de uma embarcação pela presidente da Câmara Legislativa afastada,
Celina Leão (PPS).
Na casa do deputado distrital e 3ª secretário da
Mesa Diretora afastado pela Justiça, Bispo Renato Andrade (PR), os
investigadores recolheram um aparelho DVR (gravador de vídeo), marca Intelbras,
modelo VD 3116. Na residência de Valério Neves, ex-secretário-geral da Câmara
Legislativa, foram apreendidas duas filmadoras: uma JVC, HDD Everio e outra
compact VHC, marca JVC. O detalhamento está em parte do inquérito da Operação
Drácon, obtido pela reportagem do Metrópoles.
Alguns dos materiais recolhidos na casa de Valério Neves
Os documentos contêm uma relação de tudo o que foi levado e que tem sido
analisado pelos investigadores nas residências de Valério, de Bispo
Renato, de Celina, do deputado Cristiano Araújo (PSD), do ex-presidente do
Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso, do deputado Raimundo Ribeiro (PPS), e do
distrital Julio Cesar (PRB). Eles começaram a ser investigados depois da
divulgação de áudios gravados por Liliane Roriz durante
almoço com Celina Leão e em áudios publicados pela presidente do Sindicato dos
Empregados em Estabelecimentos de Serviço de Saúde (SindSaúde),
Marli Rodrigues.
Essas gravações subsidiaram a Operação Drácon, deflagrada em 23 de
agosto. Naquele dia, Valério e Ricardo Cardoso tiveram a maior quantidade
de objetos apreendidos. Da casa de Valério, também foram levados, dentro
de um cofre, anéis, brincos, corrente e pingentes.
Alguns com as inscrições “Carla Amorim”, outros com “Miranda Castro”, duas
conceituadas designers de joias de Brasília. A perícia fará uma análise
nos anéis, nos cordões e nas pulseiras para identificar se são de alto valor ou
apenas bijuteria.
Documentos
Quase
todos os investigados tinham em casa documentos em pastas, envelopes, caixas ou
cofres. A maioria registrava contatos pessoais, agendas,
compromissos e atividades parlamentares. Da casa do Bispo Renato,
foram levados para análise tabelas que continham os seguintes campos: “objeto”,
“demandas (órgãos ou secretarias)”, “necessidade recurso para Projeto-Rec
(reconhecimento) de dívida” e “empresa contratada no valor de R$ 5.835.237,01”.
Também havia um relatório de atividade parlamentar e cartões de embarque
da TAM.
Lista de parte do que foi apreendido na casa do deputado Bispo Renato Andrade
Embarcação
e pastas pretas
Na
residência de Celina Leão, os documentos em papel recolhidos foram uma folha
com anotações manuscritas com inscrições de valores, referentes a uma venda da
empresa Agile. Além disso, os investigadores acharam interessante recolher os
recibos de compra e venda de uma embarcação no valor de R$ 45 mil , em 15 de
outubro de 2013. Em um envelope na cor laranja havia ainda outro recibo de
compra e venda de embarcação no valor de R$ 60 mil, de 30 de julho de 2013; e
duas folhas com cópias de documentos: um certificado de registro de veículo, um
cheque do BRB na valor de R$ 40 mil e o título de inscrição da embarcação.
Celina guardava ainda uma folha com a relação de servidores e de verba
de gabinete e uma pasta de cartolina contendo uma escritura pública de compra e
venda realizada em Luziânia (GO).
O ex-presidente do Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso tinha caixas de
documentos em casa. Uma delas continha cinco pastas pretas; uma pasta suspensa;
uma cinza, com a descrição: contas pagas; outra azul, dizendo: contas pagas
2008/9; além de cheques e cartões pessoais.
Todos os investigados tiveram os celulares e tablets recolhidos pela
polícia.
Relação de documentos recolhidos na casa de Celina Leão
O que
dizem os deputados
Na
residência de Raimundo Ribeiro, tudo estava digitalizado. Só com o parlamentar,
foram apreendidos sete pen drives, duas CPUs de computador e dois celulares. A
assessoria de imprensa do deputado afirmou que, até o momento, ele ainda
não recebeu nenhum objeto de volta. “O que o deputado espera é que se
tenha celeridade nas apurações, a fim de que se traga à tona, o quanto antes, a
veracidade dos fatos”.
Na casa de Cristiano Araújo, havia um envelope pardo com documentos da
Câmara Legislativa. Cristiano ainda teve R$ 16 mil recolhidos no banco do carro dentro de um envelope.
O dinheiro já foi devolvido ao parlamentar. A assessoria dele afirmou que o
distrital não vai comentar os procedimentos da operação.
Para o deputado Bispo Renato, os mandados de busca e apreensão da
Operação Drácon ajudarão a comprovar que as acusações são infundadas. “Não há
provas contra Bispo Renato e o parlamentar continua afirmando que confia nas
investigações da Justiça. Bispo Renato prestou depoimento voluntariamente e,
desde então, está concentrado em sua defesa. O esclarecimento dos fatos é
necessário e se dará no momento certo”, disse a assessoria do parlamentar, por
meio de nota.
Sobre o aparelho de gravação, a assessoria do distrital esclareceu
que, na realidade trata-se de um aparelho de gravação de DVR, que monitora
as câmaras de segurança da casa dele.
Valério Neves, Celina Leão e Ricardo Cardoso não haviam respondido aos
questionamentos da reportagem até a última atualização desta matéria.
Bonde da
Propina
Celina
Leão, Bispo Renato Andrade e Cristiano Araújo são citados no escândalo do Bonde
da Propina. Eles são alvo de apuração do Ministério Público do Distrito Federal
e Territórios (MPDFT) e da pela Polícia Civil no âmbito da Operação
Drácon.
O pivô da crise envolvendo os distritais é uma emenda parlamentar de R$
30 milhões para a saúde. Gravações feitas pela distrital Liliane Roriz indicam
um suposto esquema de pagamento de propina para a liberação dos recursos. O
dinheiro foi utilizado para quitar dívidas de empresas privadas responsáveis
pela gestão de unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública de saúde do
DF. Os deputados são suspeitos de cobrar “ajuda financeira” em troca da
liberação de recursos.
Fonte:
Manoela Alcântara - Metrópoles