“Toda a nação tem o
governo que merece”, a frase, dita pelo filósofo francês De Maistre, traz,
simultaneamente, uma verdade e uma falácia de iguais teor e efeito. A
declaração foi feita durante os episódios da Revolução Francesa no século 18, e
repetida ainda hoje mundo afora, inclusive no Brasil. Ninguém contesta o fato
de que os políticos eleitos para representar a população são escolhidos, em
suma, porque se identificam e se parecem com quem os indicou.
A possibilidade de alguém votar num candidato
totalmente diferente daquilo que é e acredita é quase remota. Escolhemos nossos
representantes com base no que somos e no que queremos para o país. Nossos
candidatos são, portanto, esculpidos à nossa imagem e semelhança. Nesse
sentido, explicar a existência de tantos políticos com tão baixa qualidade
moral para o exercício da representação popular significa apontar o dedo
acusatório também para a baixa qualidade dos eleitores.
Na verdade, a frase de De Maistre ficaria mais
atualizada se fosse reescrita desta maneira: “Todo eleitor tem o candidato que
merece”. No caso de Brasília, submetida à imposição e ao arranjo artificial de
ter representantes eleitos para os poderes Legislativo e Executivo, local e
nacional, igualou a capital às demais unidades da Federação em todos os
quesitos, inclusive, quanto à baixa qualidade de políticos eleitos.
Com um modelo desses, confeccionado sob medida para
eleger os maiores aldrabões da redondeza, não surpreende o fato de a polícia,
volta e meia, aparecer no encalço dos espertalhões, munida de mandado de busca
e apreensão, prendendo e levando para depor autoridades que, por sua
significância, deveriam ser exemplos de retidão.
Já foi dito aqui que, no plano nacional, não foi a
direita que enxotou o governo petista do Planalto, foi a ação da polícia, a
mando do Ministério Público, que fez a casa cair. O resto veio abaixo por
inércia própria. Também em Brasília, que copiou o triste modelo, mais uma vez a
polícia armada de autorização judicial cercou a Câmara Legislativa e, agora, o
Palácio do Buriti, em busca de mais provas para dar continuidade à Operação Drácon.
O objetivo é investigar a origem do dinheiro que o PM aposentado João Dias
jogou sobre o então deputado Paulo Tadeu, hoje conselheiro no TCDF. Em ambos os
casos, fica patente, mais uma vez, que a representação política no Distrito
Federal é caso de polícia. Com a palavra, os eleitores responsáveis pelas
indicações desastrosas.
***
A frase que não foi pronunciada
“A minha consciência tem mais peso pra mim do que a
opinião do mundo inteiro.”
(Marco Túlio Cícero)
Por: Circe Cunha –
Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google