Que relação haveria entre a
colocação do Brasil, como o quarto país mais corrupto do mundo — de acordo com
o índice divulgado agora pelo Fórum Econômico Mundial — e a possibilidade de o
Supremo Tribunal Federal rever a decisão que permitiu a prisão imediata de
condenados no âmbito da segunda instância? Para o Juiz Sérgio Moro, que
coordena uma das maiores operações contra a corrupção de toda a história do
Ocidente, tem tudo a ver. “Um sistema de justiça que não chega ao fim de um
dado criminal em um período razoável, é um privilégio de impunidade daqueles
que se podem servir deste sistema de justiça e que, normalmente, são os
poderosos.” Em outras palavras, o que o juiz diz é que a capacidade de entrar
com recursos protelatórios e com todo tipo de chicana, por meio de
exclusivíssimos escritórios de advocacia, é uma possibilidade aberta apenas
para os muito endinheirados.
Aliás, esses mesmos escritórios nunca tiveram tanto serviço contratado e
tantos lucros como nestes tempos de Operação Lava-Jato e congêneres, inclusive,
o aprofundamento das investigações tem feito com que essa e outras operações em
curso, tenham seus prazos de conclusão estendidos sine die. “Existe um grau de
imprevisibilidade porque, nessas investigações, eventualmente, provas novas vão
surgindo em relação a novos crimes e simplesmente os procuradores, a polícia e
o juiz não podem virar o rosto de lado e deixar de lidar com o que for
aparecendo. De forma que há essa imprevisibilidade”, afirmou o juiz, para quem
o Brasil vive hoje “tempos excepcionais”, com a Justiça tendo de enfrentar uma
verdadeira corrupção sistêmica que tomou de assalto todo o Estado.
Há um ano, quando ainda não se conhecia em profundidade o tamanho do
rombo provocado pela corrupção nos governos petistas, a força-tarefa do
Ministério Público já detectava que eram aproximadamente de R$ 200 bilhões os
valores desviados dos cofres públicos a cada ano por conta dos esquemas de
corrupção espraiados por toda máquina do Estado. O grau de corrupção é um dos
indicativos negativos que apontam para os entraves ao crescimento econômico de
um país e deixam evidências de que há um descontrole na administração do
Estado, o que afasta a possibilidades de investimentos estrangeiros sérios e
põe em risco a credibilidade de uma nação em honrar seus compromissos.
No início de 2016, segundo a Transparência Internacional, o Brasil havia
despencado para a 76ª posição, numa lista de 168 países afetados pela percepção
acentuada de corrupção. Mesmo na América Latina, o Brasil só perde a posição de
primeiro colocado para a Venezuela, um país totalmente arrasado por uma
sequência de governos larápios e ineptos. A situação no continente, segundo o
Fórum, chegou a tal ponto que, hoje, ao lado dos imensos problemas da AL, a
corrupção é disparada o maior desafio a ser enfrentado com urgência.
A corrupção, com seus braços longos, alcança nos só a possibilidade de
novos negócios, mas afeta, sobretudo, a qualidade da educação, a prestação de
serviços básicos para a população, além de prejudicar a instalação de
infraestrutura necessária ao desenvolvimento, inclusive, com sérios reflexos
sobre o meio ambiente e o aumento da poluição. Por seus efeitos deletérios, a
corrupção figura muito mais do que um crime hediondo ao roubar o que uma nação
tem de mais precioso, que é o futuro de toda uma geração.
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A frase que foi
pronunciada
“A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para
forjá-lo.” - (Vladimir Maiakóvski)
Por: Circe Cunha –
Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google