Jose Leonardo Ferreira é coordenador do
Observatorio Luiz Crulls, em Vargem Bonita: telescópio de alta potência
"Com o recém-inaugurado Observatório Astronômico
Luiz Cruls, UnB pretende estimular o ensino de física entre alunos. Espaço, que
começou a ser construído há mais de uma década, servirá para aulas práticas e
pesquisas"
Asteroides perigosos, cometas e estrelas de todos
os tipos e tamanhos são observados de perto em Brasília, graças a um telescópio
moderno, instalado em uma área de cerrado vizinha ao Park Way. Há 10 dias, ele
faz a alegria de pesquisadores e de astrônomos profissionais e amadores. E deve
atrair cada vez mais gente interessada no estudo das galáxias.
O equipamento é a grande atração do Observatório Astronômico Luiz Cruls
(leia Para saber mais), da Universidade de Brasília (UnB). Inaugurado em 20 de
outubro, ele fica na Fazenda Água Limpa, no Núcleo Rural Vargem Bonita.
Equipado com um telescópio de médio porte, tem como umas das finalidades
estimular o ensino de física entre alunos, dar apoio para disciplinas da área
na universidade e ajudar as pesquisas da pós-graduação.
Entre os trabalhos que já começaram a ser desenvolvidos, está a
observação do sistema solar para rastreio de asteroides perigosos e cometas. “A
intenção é trocar informações, participar de pesquisas com estrangeiros, fazer
parte de uma rede internacional de astronomia. Vamos estudar buracos negros, a
expansão do universo”, explica o coordenador do Laboratório de Física de Plasma
e do Observatório Astronômico da UnB, José Leonardo Ferreira.
Grande entusiasta do projeto, Ferreira pretende atrair cada vez mais
jovens para o estudo da física. “Vamos receber escolas do ensino público e
despertar nos estudantes o gosto pela física, como aconteceu comigo, quando era
novo”, afirma o professor, formado pela UnB em 1974. À época, lembra,
frequentava um observatório que existia onde hoje é o posto de combustíveis da
universidade. “A partir daí, soube o que queria fazer”, ressalta.
O professor pretende criar uma área de astronomia na UnB, no segundo
semestre de 2017, e fabricar um minirrádiotelescópio, que conta com recursos
aprovados. Para o plano, ele conta com outros físicos, como Alberto Alves de
Mesquita, vindo do Observatório Nacional do Rio de Janeiro para a criação do
observatório candango. Ele tem ajudado a montar grupos de pesquisas para
trabalhar no observatório Luiz Cruls.
Outro incentivador da física na UnB é o professor Ivan Soares Ferreira,
coordenador das atividades de pesquisa do Observatório Luiz Cruls. Ele pretende
ampliar as pesquisas com um interferômetro de micro-ondas, que deverá ser
instalado em 2017. No currículo de Ivan, há o pós-doutorado feito,
recentemente, na França e na Itália, envolvendo astrofísica do meio
interestelar, explosões de raios gama a partir de estrelas variáveis
cataclísmicas, buracos negros e estrelas de nêutrons.
Atraso
A construção do observatório começou em 2004 e
terminou em 2007. No entanto, demorou a ser inaugurado por dificuldades com a
finalização da cúpula, devido à falta de dinheiro e à burocracia. O projeto
envolveu cerca de R$ 200 mil, em valores atualizados. Só o telescópio, comprado
em 2009, custou US$ 37 mil (R$ 117 mil na cotação de ontem). Sem um local
adequado, o aparelho esteve ameaçado de sofrer danos.
Funcionando precariamente, o observatório teve de suspender as
atividades em 2011, devido a vários problemas de instalação, como vazamentos de
água no período de chuva e excesso de poeira na seca. A grande dificuldade estava
na conclusão da cúpula, por falta de verba. Mas, com a obra devidamente
finalizada, graças à liberação de recursos do governo federal, enfim, a UnB
pôde fazer a inauguração oficial, há 10 dias.
Para saber mais - Belga
liderou expedições
No século 18, o governo português
cogitava a possibilidade de transferir a capital do Brasil para o interior —
medida defendida em outros momentos históricos. Ainda no Império, o patriarca
da Independência, José Bonifácio, defendia a transferência da capital para a
mineira Paracatu. Na República, o artigo 3º da Constituição Federal de 1891
determinou a demarcação do território para a construção da futura capital do
Brasil. Em 1892, o então presidente Floriano Peixoto instituiu a Comissão
Exploradora do Planalto Central por meio da Portaria 114-A.
Chefiados pelo astrônomo e geógrafo belga Louis Ferdinand Cruls,
integravam a equipe pesquisadores, geólogos, geógrafos, botânicos,
naturalistas, engenheiros e médicos, entre outros. De 1892 a 1894, eles fizeram
estudos científicos até então inéditos na Região Centro-Oeste, mapeando
aspectos climáticos e topográficos, além de estudar a fauna, a flora, os cursos
de rios e o modo de vida dos habitantes. Cruls voltou à região no segundo
semestre de 1894 para concluir alguns estudos e definir a região exata de
Brasília dentro dos 14,4 mil km² demarcados pela comissão.
Antes da missão ao futuro DF, Cruls dirigiu o Observatório Astronômico
do Rio de Janeiro. Ele liderou outras expedições científicas importantes dos
séculos 19 e 20, como a observação da passagem de Vênus pelo disco solar em
1882 e a conferência internacional que definiu o meridiano de Greenwich como
referência para todas as nações. Nascido em Diest, em 1848, Cruls morreu em
Paris, em 21 de junho de 1908.
Fonte: Renato Alves – Foto: André
Violatti-Esp.CB/D.A.Press - Correio Braziliense