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#UNB - "Ficção que imita a vida" - ( Baseadas em histórias de estupros, muitas vezes vivenciadas de perto, estudantes de artes cênicas da UnB filmam um curta-metragem sobre o drama das vítimas após a violência. A ideia é trazer o tema à tona)

Atrizes durante as filmagens, nos arredores da UnB: curta deve estar pronto em janeiro e não ficará restrito ao mundo acadêmico

Baseadas em histórias de estupros, muitas vezes vivenciadas de perto, estudantes de artes cênicas da UnB filmam um curta-metragem sobre o drama das vítimas após a violência. A ideia é trazer o tema à tona

Morgana tem 23 anos e é estudante da Universidade de Brasília (UnB). Mora em uma república com outras duas amigas e, na última noite, ao sair de uma festa, foi estuprada por Antônio, um colega da faculdade. Os dois estavam juntos no evento, mas ele se excedeu. Não aceitou uma rejeição. Morgana está com as marcas das agressões no rosto, no pescoço e na alma. A vítima, desta vez, é a personagem de um curta-metragem filmado por estudantes da UnB, mas retrata a dura realidade vivida por centenas de mulheres: a violência. Por não querer um relacionamento. Por não topar uma paquera. Por estar de vestido curto, sozinha ou à noite na parada de ônibus.

O tema foi escolhido por oito estudantes do 6º semestre de artes cênicas da UnB. Elas se juntaram e convidaram outras 21 meninas da universidade e de outras faculdades. Um, dois, três, filmando. O curta, Lilith, começou a ser produzido há cerca de 10 dias e ficará pronto para exibição externa em janeiro. A ideia é levar o tema, a discussão e o filme para fora do perímetro acadêmico, como maneira de falar. Conversar sobre o estupro, a cultura da violência e a indignação de ter como maiores vítimas as mulheres.

A sequência de cenas começa horas após Morgana sofrer o estupro. A menina volta para casa, conta para as amigas e dá início a uma saga doída de denúncia, registro de boletim de ocorrência, exame de corpo de delito. Em 15 minutos, o curta mostra todos os processos e, ao fim, a justiça. A roteirista do filme, a estudante Patrícia Nascimento, 25 anos, explica que a vontade era falar sobre algo feminino, voltado para as mulheres, e retratar o caso de estupro foi uma decisão seguinte. “Começaram a ter tantos casos, o da Beatriz, no Rio de Janeiro, o da Louise, aqui na UnB, e muitos outros que me fizeram pensar nisso e tratar, também, pela ótica do pós-abuso. Todo esse processo que é complicado para a vítima”, justifica.

“Ir até a delegacia, ao IML, ao hospital, contar essa história mil vezes não é uma coisa simples. É uma invasão”, pondera Patrícia, que decidiu empoderar a vítima no curta. 

Com um ar de mistério, a estudante garante que o fim é surpreendente. “Vai acontecer uma reviravolta. Ela não vai ser abusada, sofrer tudo isso e ficar por isso mesmo. Ele vai pagar”, garante. Patrícia e as outras meninas se basearam em dados e estatísticas para defender o projeto junto aos professores. A realidade ajudou. De janeiro a junho deste ano, foram registrados 319 casos de estupro no Distrito Federal, contra 313 no mesmo período de 2015, um aumento de 0,4%, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).

Boa parte das cenas do filme foi gravada na UnB e nos arredores. Em 10 de março, o caso da estudante de biologia Louise Maria da Silva Ribeiro, morta por um colega da faculdade após ele ser rejeitado, é uma das histórias que poderiam ser retratadas na saga de Morgana. Desde o começo do ano, o governo do DF contabilizou outros 14 assassinatos de mulheres, todos cometidos por ex-maridos, namorados, ex-companheiros ou homens do convívio afetivo das vítimas. A atriz que faz o papel de Morgana, Lola Portela, 22, não fica muito distante da personagem. “Sofremos vários tipos de abuso a vida toda, eu mesma tenho um caso semelhante ao da Morgana. E o que queremos mostrar neste filme não é só ela, é minha mãe, minha amiga, a Louise, ou seja, todas as mulheres”, comenta a atriz.

Dificuldades
As estudantes contam que desde o começo do projeto houve muita resistência, principalmente masculina, quanto ao tema e à abordagem. Uma das principais críticas se refere, inclusive, ao fim da história. Outras dificuldades foram os custos. Até agora, as jovens gastaram cerca de R$ 5 mil com a produção — transporte, alimentação, figurino, efeitos especiais e aluguel de parte do equipamento, além de cachê, simbólico, para o elenco. “É um filme de mulher para mulher. É um filme para mostrar os abusos contra as mulheres e os perigos, já que a maioria dos agressores são amigos, namorados ou próximos de alguma forma da vítima”, explica Patrícia.

Estudo
Uma pesquisa inédita, chamada #ApolíciaPrecisaFalarSobreEstupro, encomendada ao Datafolha pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostrou que 42% dos homens acreditam que o estupro acontece porque a mulher não se dá ao respeito e/ou usa roupas provocativas. E o surpreendente: 32% das mulheres têm a mesma opinião. A pesquisa foi lançada no mês passado, no 10º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Agressões na UnB

2010
Quando saía do Câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, na noite de 15 de março, uma estudante da UnB foi violentada por um homem armado. Ela passava por um terreno baldio, ao lado de uma escola de inglês, no momento do ataque.

2011
No fim da tarde de 19 de agosto, após sair da UnB e se dirigir a um ponto de ônibus, na via L2 Norte, uma aluna da universidade foi estuprada. O criminoso obrigou a vítima, de 27 anos, a entrar em um carro, onde foi amarrada e teve os olhos vendados. Em seguida, ele a violentou.

2013
Uma aluna de museologia foi agredida na manhã de 18 de junho, no estacionamento da Faculdade de Tecnologia (FT). Por volta das 10h, a jovem de 28 anos chegava para a aula, quando um morador de rua a golpeou com um pedaço de madeira. O agressor foi preso, mas liberado em seguida.



Fonte: Camila Costa – Fotos: André Violatti/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

1 Comentários

  1. Olá! Sou da equipe do Lilith. Só una correção: nós somos do sexto semestre de Audiovisual da UnB, não de artes cênicas (:

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