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A poesia existe, resiste e insiste na capital federal



Nem só de Nicolas Behr vive a poesia da capital federal. Enquanto a correria do dia a dia dificulta a percepção da beleza ao nosso redor, existem várias pessoas que acreditam ser possível espalhar sentimentos por meio de versos. A ideia de que a poesia é uma coisa antiga, chata ou fora de moda pode até teimar em aparecer, mas poetas brasilienses estão se empenhando para mudar esse cenário.

A poesia é um segmento lido, divulgado e publicado em menor número, é verdade. “As pessoas acham que é algo chato, que tem linguagem rebuscada… uma coisa do passado, com a qual se tem pouco contato”, explica Janaína Fernandes, formada em administração e fã de poesia desde criança. Apesar da pouca visibilidade desse tipo de arte, ela acredita que “a poesia traz beleza para o dia de quem a lê” e afirma que os versos sempre fizeram parte de sua vida.

O potencial de transmitir emoções é o que mais encanta Janaína. “É tudo muito carregado de sentimento, mesmo nas poesias dolorosas, o sentir é sempre muito vivo e forte”, declara. Para ela, as pessoas estão sem tempo para se atentar às emoções e a poesia é uma forma de não deixar isso passar batido. “A poesia é o meu modo de sentir”.

Janaína teve um de seus poemas publicados em uma antologia poética após participar do Concurso Nacional Novos Poetas 2015, da editora Vivara. Para incentivar e estimular a criatividade, ela criou um grupo no Facebook chamado Poesílulas – Suas Pílulas de Poesia (facebook.com/groups/poesilulas). Lá, os membros podem compartilhar seus escritos, trocar textos, descobrir outros autores e incentivar a escrita. “A ideia é difundir a poesia, falar sobre ela. Quero estimular essa prática em quem gosta de escrever, mas não tem tanto apoio”.

Para contribuir na difusão do gênero poético, inspirada pela obra de Fernando Pessoa, Paulo Leminski e Pablo Neruda, Janaína teve a ideia de ilustrar ímãs de geladeira com seus escritos. “São pequenos quadradinhos com algum verso meu, como se fossem uma pílula de poesia a ser tomada em doses diárias”, finaliza.

Versos para cada mês do ano

O estudante de Biologia da Universidade de Brasília Zé Assumpção escreve desde 2005 e também acredita na força da poesia. “No começo, versava sobre assuntos mais polêmicos, como política. Era uma coisa mais racional, sem qualquer carga sentimental”, lembra. Hoje, ele encontra na poesia uma forma de lidar com o cotidiano. “Não me imagino sem, nem que seja como uma forma de lidar com meu dia a dia, com sentimentos que não consigo enterrar”, revela.

Como escritor, o que Zé mais gosta na arte versada é a “possibilidade de me expressar sem nenhuma regra, como se a poesia fosse minha válvula de escape”. Ele conta que depois que começou a escrever, resolveu se livrar de certos padrões comuns à poesia, como rimas, métricas e forma. “Eu não queria escrever dentro do padrão, achava chato e distante. Eu queria quebrar as regras”, comenta.

Na opinião do estudante, a poesia ainda é pouco valorizada por conta do espectro elitista que a circunda. “Existe a ideia de que a poesia é algo voltado para o pessoal intelectual. Tanto escrever quanto consumir poesia parece ser algo destinado a alguém que tem uma certa capacidade. A poesia é uma coisa simples e não precisa ser complexa e inalcançável”, garante. Para ele, transformar os versos em algo simples e próximo de todos é o caminho para incentivar a produção poética.

Nesse sentido, o poeta desenvolveu o projeto Estações – em que posta uma poesia para cada mês do ano, baseada na estética da simplicidade e da proximidade com o leitor. “É algo fácil de absorver no primeiro contato e deixa transparecer o desejo de se encaixar num padrão que não se vive diariamente. É algo como encontrar um caminho entre o racional e o emocional”.

Com uma ajudinha da internet

Sarah Magalhães também é estudante da UnB e escreve poesias em seu blog na internet, intitulado Caderno Descolorido (cadernodescolorido.blogspot.com.br). Ela vê a web como um espaço convidativo à leitura, porque assim consegue atingir todo tipo de gente, especialmente o público jovem. “Tornar a poesia pública ou popular por meio das redes sociais é a forma mais eficiente que vejo para alcançar os jovens que, muitas vezes, enxergam a poesia como algo distante, difícil e chato”.

O Caderno Descolorido de Sarah, que já tem 4 anos de existência, ultrapassa a página na internet. “As pessoas interagem com a poesia. O blog convida o público a conhecer os versos e enxergar poesia na própria vida, ao mesmo tempo que, por meio de intervenções poéticas, convida o público na rua a enxergar a poesia no concreto”, ressalta.
Sarah também acredita que é preciso deselitizar a poesia. “Todo mundo pode e deve ler poesia. Não deve ser algo intocável”, completa.

Encontro mensais

Grupo aberto de encontros mensais para discussão de livros de poemas escritos por mulher. Esse é o Leia Poetisas. A escritora Patrícia Colmenero, uma das criadoras do projeto, explica que o intuito era fazer um grupo de apoio para incentivar a leitura de poesias femininas.

“Dentro do nicho já delicado do ramo, as mulheres são ainda mais prejudicadas e menos publicadas”, destaca. “A poesia impõe uma certa ideia de solidão, com páginas esvaziadas e muito espaço em branco, mas por meio do grupo a gente tem uma experiência coletiva. Aprendemos juntas”.

Fonte: Jornal de Brasília

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