Guilherme Meiçó e Lígia de Melo (detalhe) costumam
frequentar a Torre de TV, especialmente o café inaugurado há pouco tempo, no
mezanino
Uma foi construída em 1967, no coração de Brasília,
e até hoje atrai boa parte dos turistas que visitam a capital. A outra foi
inaugurada em 2012 e passou apenas pouco mais de um ano aberta ao público. Veja
o que faz dois cartões-postais da cidade serem tão diferentes
A distância entre a Candangolândia e a Torre de TV
Digital é de cerca de 30km, um trajeto considerável diante do trânsito atual de
Brasília e do preço da gasolina. Mesmo assim, o garçom Adriano da Silva, 30
anos, que mora na região administrativa, decidiu levar a família em seu dia de
folga para conhecer o monumento. Porém, desde 2013 o local está interditado
para visitações, fato que ele desconhecia. “Era minha primeira vez na torre e
queria muito ter mostrado para o meu filho. Aqui, tudo é longe e acabei dando
essa viagem perdida”, reclamou.
O estudante Guilherme de Abreu Meiçó,
28 anos, visita a Torre de TV desde criança. E, desde a infância, ouvia sobre a
reforma do mezanino que abrigaria um café. “Nunca imaginei que isso ficaria
pronto, só ouvia promessas. Hoje, esse é um dos lugares que eu mais visito em
Brasília, não só para passar o dia, como para estudar”, garante. As diferenças
entre esses dois símbolos da capital não param por aí.
Acompanhado de Ilda Spoldar, Adriano
da Silva saiu da Candangolândia para mostrar a Torre Digital ao filho, mas
encontrou o monumento fechado
Erguida ao custo de R$ 80 milhões e inaugurada em 2012, a Flor do
Cerrado, como é conhecida a Torre de TV Digital, serve, até hoje, apenas para
embelezar o horizonte, com seus 170 metros de altura. Última obra projetada por
Oscar Niemeyer, ela ficou aberta apenas por um ano e seis meses. Segundo a
Terracap, empresa responsável pelo local, ela foi fechada para instalação de
antenas. Porém, quem passa por lá não vê qualquer movimentação relativa a
obras. As visitações não têm previsão de ocorrer novamente. Em nota, a Terracap
afirma que o local foi fechado “para obras técnicas e civis referentes às
adequações feitas pelo CBMDF, Agefis e Defesa Civil.” E continua explicando que
a “reabertura da Torre vai depender da finalização das obras em execução e da
posterior avaliação e liberação por Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e
Agefis”.
Para quem busca o lugar, fica só o desapontamento. “A gente se sente
decepcionado, até porque não são tantos os locais aonde a gente pode ir de
graça em Brasília”, garante a cozinheira Ilda Espoldar, 40 anos, que
acompanhava Adriano da Silva. Especialistas apontam a má gestão como o grande
problema do monumento. “Ela foi construída para ser um novo ponto turístico,
mas sofre com uma gestão deficiente da Terracap. Há problemas de horário de
visitação, quantidade de visitantes, falta do café que funcionaria no alto da
torre até hoje e sem previsão de solução”, aponta o arquiteto Cristiano
Nascimento, integrante do grupo Urbanistas por Brasília.
Já na Torre de TV, a situação é menos desoladora. Ela, que é mais antiga
— foi entregue à população em 1967 —, ganhou uma reforma em 2014, que
impulsionou seu potencial turístico. Ao custo de R$ 22 milhões, foi após a
restauração que o café conceito foi inaugurado. Durante a Copa do Mundo, ela se
tornou um dos pontos mais visitados pelos turistas.
Mais a fazer
O secretário de Turismo do Distrito Federal, Jaime Recena, afirma que o
momento atual é de discutir a reestruturação da Feira da Torre, no sentido de
resgatar o conceito original de feira de artesanato e de comidas típicas. “Já
fizemos algumas iniciativas nesse sentido com os próprios feirantes”, afirma.
De acordo com ele, as cobranças mais comuns são relacionadas à infraestrutura.
“Mesmo depois da reforma, ela ainda carece de melhorias, como obras no jardim
da fonte, até pelo atrativo que ele oferece ao setor hoteleiro.” Com o uso
constante — 23% dos turistas que visitam Brasília vão até lá —, ela também vem
atraindo a atenção dos produtores de eventos da cidade.
A banda brasiliense Sexy Fi lançou o vinil Nunca te vi de boa em 19 de
abril. O local escolhido foi o mezanino da Torre de TV. “Somos uma banda que
busca contribuir com a construção da identidade de Brasília. E a torre é um
espaço com a cara da cidade, por isso decidimos fazer o lançamento aqui”,
explica João Paulo Praxis, guitarrista do grupo.
Entretanto, há quem ainda reclame da falta de divulgação que envolve a
feira. “Muitos feirantes não abrem suas barracas todos os dias porque o
movimento é muito pequeno. Os guias levam os turistas até a torre, mas se
esquecem de trazê-los aqui. É preciso que haja maior propaganda do que é feito
por nós para que exista um aquecimento nas vendas”, afirma a artesã Esmeralda
Reis, 62 anos, que desde 1992 trabalha no lugar.
Pelo menos para os turistas, sejam brasilienses ou de outras cidades, a
Torre de TV ainda é um programa indispensável. “Eu tinha um carinho pela torre
quando criança e ele voltou depois da reforma. Tanto que, sempre que amigos vêm
me visitar, eu os trago até aqui. Gosto da simplicidade do café com essa
vista”, garante a estudante Lígia de Melo, 22 anos. Para Cristiano Nascimento,
o ideal é que as duas torres possam compartilhar as suas qualidades. “Seria bom
para a cidade que elas estivessem bem conservadas e funcionando perfeitamente,
consolidadas como pontos turísticos e também para o que foram construídas:
repetição de sinal de transmissão.”
Torre de TV Digital: Altura: 170m
- Valor da construção: R$ 80 milhões -Inauguração: 21 de abril
de 2012- Projeto: Oscar Niemeyer
Torre de TV : Altura: 230m - Valor da reforma: R$ 22 milhões - Inauguração: 1967 - Projeto: Lucio Costa
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Fonte: Rafael Campos – Fotos: Ed
Alves/CB/D.A.Press - Correio Braziliense - (Matéria de 29/04/2015)