Por:Jonathan Lake
Fazer um check-up médico anual é o
ideal para acompanhar seu estado de saúde e prevenir o aparecimento de doenças,
como as cardiovasculares, por exemplo. Mas quantos de nós costumamos incluir
nessa revisão geral da saúde uma visita ao oftalmologista?
Cuidar da visão em todas as fases da
vida é tão importante quanto cuidar de qualquer outra parte do corpo. Esse zelo
ajuda a diminuir o risco de desenvolver doenças como catarata e glaucoma, duas
das principais causas da cegueira no mundo. Somente no Brasil, mais de 4
milhões de pessoas estão cegas, segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmolgia
(SBO). Boa parte delas poderia ter evitado essa situação, caso tivesse recebido
o acompanhamento médico necessário.
As consultas ao oftalmologista devem
começar nos primeiros meses de vida e fazer parte da rotina anual de check-up
de todas as pessoas. A prevenção deve começar logo após o parto e ser integrada
às avaliações periódicas de saúde da mesma forma que o acompanhamento das taxas
de glicose e colesterol.
A formação da visão humana ocorre
essencialmente até os oito anos de idade. Nessa faixa etária, 90% das causas de
cegueira e comprometimentos visuais graves podem ser evitados. Problemas
congênitos ou outros como catarata, toxoplasmose e retinoblastoma – um tumor
ocular maligno muito raro –, podem acarretar a ambliopia, que é a perda visual
permanente. Uma vez instaurada e não detectada até os 6 anos, ela é
irreversível.
Por isso, os cuidados com a visão do
bebê devem ocorrer ainda no pré-natal para evitar a transmissão de doenças
congênitas e incluir o Teste do Reflexo Vermelho (teste do olhinho) ao nascer,
além de consultas a cada seis meses até os dois anos de vida.
Segundo um levantamento do Conselho
Nacional de Oftalmologia (CBO) publicado no livro Prevenção da Cegueira e
Deficiência Visual na Infância, lançado em setembro deste ano, cerca de 30 mil
crianças no Brasil estão cegas por doenças oculares que poderiam ser evitadas
ou tratadas precocemente. Além disso, outras 140 mil são portadoras de baixa
visão, ou seja, mesmo após correção óptica, ainda são visualmente deficientes.
Até os 40 anos de idade, as principais
rotinas médicas oftalmológicas necessárias incluem uma visita anual ao
oftalmologista, mesmo que o paciente não apresente nenhum sintoma de problema
na visão.
Nestas consultas, é possível que o
especialista solicite exames como a refratometria, que avalia a acuidade visual
e detecta problemas comuns como miopia, astigmatismo e hipermetropia; o exame
do fundo de olho que, além de problemas oculares como glaucoma ou tumores na
retina, também pode diagnosticar doenças sistêmicas como diabetes e pressão
alta; e a topografia, que permite o mapeamento e observação da superfície da
córnea.
É nesta fase que também pode ocorrer o
ceratocone, doença que afeta o formato e a espessura da córnea, provocando a
percepção de imagens distorcidas. É preciso estar atento à coceira, sintoma que
pode piorar a doença, especialmente se o paciente tem histórico familiar da
doença ou possui alergias. Casos graves de ceratocone levam à cegueira
reversível com transplante de córnea, mas a detecção precoce da doença pode
evitar isso.
A miopia – que ocorre quando a imagem
projetada antes da retina se forma antes dela, fazendo com que o paciente
enxergue mal à distância –, é um dos problemas mais comuns também entre os
adultos. De acordo com a Associação Americana de Oftalmologia (AAO), ela deverá
atingir cerca de 4,75 bilhões de pessoas até o ano 2050, ou seja,
aproximadamente 50% da população do planeta.
Já em pessoas a partir dos 60 anos, os
principais problemas de visão costumam ser a presbiopia (vista cansada), a
catarata e o glaucoma, problema da visão associado ao aumento da pressão
intraocular que provoca lesões no nervo ótico e, como consequência, pode levar
a cegueira irreversível, caso não seja tratado.
Em todos os casos, o sintoma mais
importante é a baixa visão tanto para perto quanto para longe. Entretanto, em
casos de glaucoma crônico, o paciente não apresenta sintomas, ou seja, ele
perde a visão sem notar. Segundo o CBO, cerca de 2% a 3% da população
brasileira acima de 40 anos pode ter glaucoma.
À medida que envelhecemos, o corpo fica
mais suscetível ao desenvolvimento de algumas doenças como o diabetes, que pode
afetar a visão agindo como um dos causadores da retinopatia diabética, doença
grave causada por danos aos vasos sanguíneos no tecido na parte traseira do
olho (retina) e que pode provocar cegueira caso o paciente não a previna e
trate. Por isso, os cuidados preventivos e o acompanhamento médico permanente
são essenciais.
(*)Jonathan Lake
é oftalmologista especializado em catarata da Clínica Oftalmed.
Em 2016, foi premiado pela Associação Americana de Catarata e Cirurgia
Refrativa (American Society of Cataract and Refrative Surgery – ASCRS) e pela
Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (BRASCRS) por ter desenvolvido
uma nova técnica para o tratamento da doença.