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Potencial Athos Bulcão

Após quase uma década de luta contra a barreira burocrática que impedia o processo de construção da nova sede, outro desafio se impõe à Fundação Athos Bulcão (Fundathos). A entidade responsável pela preservação do acervo e da memória do artista mal teve tempo de comemorar a publicação da lei que permite a cessão de bens públicos a iniciativas privadas sem fim lucrativos e já começa a voltar as suas forças para uma dificuldade imperiosa: a falta de dinheiro. Há campanha de arrecadação aberta na internet, articulação para buscar verba do governo e a possibilidade de recorrer a leis de incentivo cultural. Qualquer dessas opções, no entanto, revela-se lenta ou ineficiente.

A alternativa com final feliz encontra respaldo nas parcerias. Mas, até o momento, não se percebe um movimento sequer de empresários brasilienses interessados em vincular — e eternizar — o próprio nome ao de Athos Bulcão e ao do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, que assina o projeto da sede da Fundathos. Mesmo se existisse uma fila de investidores, o que não há, soma-se à aparente falta de interesse dos mais ricos a engrenagem defeituosa do Estado. São nesses casos que a burocracia brasileira deveria ser escrita com letras maiúsculas.

Para entender esse processo pecaminoso, melhor direcionar os olhos para além das fronteiras. Nesse tipo de situação, é preciso reconhecer o passo à frente dos Estados Unidos, cuja tradição filantrópica vem de séculos. Lá, bilionários doam fortunas a universidades, museus e fundações, investindo diretamente na formação de pessoas, no desenvolvimento de pesquisas e na preservação da história e da cultura. Claro que por aqui também há pessoas interessadas em fazer o bem, mas, ao contrário do Brasil, o gesto em território norte-americano é facilitado com descontos relevantes no Imposto de Renda e com a não exigência de se aprovar projetos pelos descaminhos do Executivo.

Passou da hora de se pensar em reformas profundas nesses modelos de gestão. País que não preserva a cultura também é incapaz de garantir o acesso à saúde e à educação. Museus e fundações bem-estruturados colocam nações no mapa do mundo. Caso clássico é o Guggenheim, de Bilbao. O museu de titânio mergulhou instantaneamente a cidade basca na rota do turismo cultural internacional. Brasília conta com o privilégio do modernismo pulsante, que atrai milhares de turistas. Infelizmente, a capital do Brasil se acomodou na soberba de quem se basta com Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Às vezes, esquece que também há Athos Bulcão, com potencial que Barcelona soube dar a Antoni Gaudí.
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Palácio Itamaraty
Brasília Palace Hotel
Teatro Nacional
                    Fundação Athos Bulcão - Loja vende múltiplos de obras do artista



Por Guilherme Goulart – Foto/Ilustração: Blog-Google – Correio Braziliense

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