Por Priscila Miranda,
Para celebrar os 80 anos do Iphan e os 30 anos de
tombamento de Brasília pela Unesco, instituto lança livro que resgata parte da
história dos primeiros acampamentos da nova capital
Ao som de samba, o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deu início às comemorações do
octogésimo aniversário e dos 30 anos do reconhecimento do conjunto urbanístico
de Brasília como patrimônio cultural pela Unesco. Com o título Acampamentos
Pioneiros do Distrito Federal, um livro, lançado ontem pelo órgão, resgata a
memória dos pequenos povoados que acolhiam quem veio para construir a capital
federal. A obra será disponibilizada na internet.
Um dos locais que têm a história
resgatada é a Vila Planalto. Resultado da instalação de seis acampamentos, ela
foi o primeiro conjunto urbano do século 20 a ser reconhecido como Patrimônio
Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura. Por esse motivo, o bairro, localizado a 3,2km do Palácio do Planalto,
também foi homenageado com a apresentação de um curta-metragem dirigido por
José Walter Nunes, professor da Universidade de Brasília e pós-doutor em cinema
e história e pela Universidad de Buenos Aires.
A ideia do professor era contar a
história da capital a partir do ponto de vista dos candangos. “É importante
preservar as histórias dos diferentes grupos sociais, inclusive dos operários,
que foram sujeitos da história de Brasília, para democratizar a história e
fazer com que ela não fique restrita às elites”, explica. Aos 80 anos, Rodolfo
Nogueira mora na Vila Planalto há 50, e não se esquece de como o local era no
início de Brasília. “Quando eu cheguei, era só acampamento, não tinha nada. Era
todo mundo muito calado porque não tinha tempo para conversar. Mas fiz muitos
amigos, que mantenho até hoje”, conta.
Rodolfo é um dos 7 mil habitantes da
vila que foi tombada pelo Iphan em 1988. O professor e servidor aposentado da
Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil chegou à região aos 30 anos
para trabalhar e conta que mora em uma das poucas casas de madeira que restaram
no local. “A Vila não é mais a mesma, agora tem muitas casas de alvenaria. Moro
no Acampamento Tamboril. que é o que tem o maior número de casas preservadas”,
relata. Ele foi um dos pioneiros convidados da celebração. As comemorações seguem
pelo Brasil até 30 de novembro.
Papel importante
Em 80 anos de atividade, o Iphan
contribuiu para a preservação da identidade nacional. “O iphan é um motor para
o desenvolvimento sustentável, com respeito às diversidades culturais. Nós
buscamos trazer à luz a memória de todos os participantes da construção de
Brasília”, disse, em discurso, Kátia Bogéo, presidente do instituto. Para ela,
“no momento que o país vive, com uma crise forte, o Iphan, na sua força de 80
anos, chega como uma instituição respeitada mundialmente e que traz esse legado
que tem que ser visto pela sociedade”.
Ana Claudia Lima Alves é historiadora e
pesquisadora aposentada do instituto. Para ela, o reconhecimento histórico de
locais como a Vila Planalto é importante para a permanência da história da
cidade. “Se não fosse tombado, você não teria mais aquelas coisas. O lugar, com
certeza, seria alvo de especulação imobiliária e a história desapareceria.”
Os roteiros são um importante registro da história
de Brasília, assim como o documentário. Para o professor José Walter, a
preservação do patrimônio é apenas o primeiro passo para manter a história
viva.
“Quando a gente fala em preservar, não é só uma questão de patrimônio. Vamos preservar as pessoas, o modo de vida, melhorando a qualidade, buscando
políticas sociais de apoio para que essas pessoas continuem narrando essas
histórias.”
(*) Priscila Miranda - Estagiária sob
supervisão de Sibele Negromonte – Correio Braziliense – Fotos:
Arquivo-Pessoal – Arquivo/IPHAN-DF -