Com a redução progressiva dos níveis de água nos reservatórios que
abastecem o Distrito Federal, o que vai aflorando à vista de todos é, além de
velhos troncos de árvores retorcidas, a história de uma sucessão de crimes
políticos e ambientais que resultaram numa gravíssima e crescente crise hídrica
que ameaça inviabilizar o próprio futuro de Brasília.
“Quando a
maré baixa é que descobrimos quem estava nadando nu”. A frase do megainvestidor
americano Warren Buffett serve perfeitamente, como um traje de mergulhador,
para o grave problema da escassez de água no DF.
Os níveis
de água baixaram pondo a descoberto agora a aliança perversa que, por décadas,
foi estabelecida entre o oportunismo político, a ganância empresarial, o
analfabetismo ambiental e o descaso da própria população. Culpar o aquecimento
global, os caprichos dos regimes de chuvas, o El Niño e outros fenômenos
climáticos é tudo que podem fazer e querem os sujeitos desse crime anunciado
para se livrarem do veredito severo das novas gerações e de todos aqueles que
têm consciência da importância da preservação dos biomas para a vida humana.
A partir da
década de 1980, com a emancipação política do Distrito Federal, tem início um
acelerado processo de devastação e degradação do cerrado, para abrir caminho à
ocupação urbana desordenada comandada por governantes e políticos locais em
conluio com desembargadores, juízes e empreiteiros espertalhões.
Durante
décadas, essa turma enxergou na invasão de terras públicas e particulares,
mesmo aquelas protegidas por lei, como Área de Proteção Ambiental (APA), a
moeda política e econômica ideal que permitiria a perpetuação do modelo: um
lote, um voto.
Sob a
batuta desses dirigentes inescrupulosos, governadores e deputados distritais
criavam novos assentamentos e incentivavam a invasão de outros. Dando cobertura
legal a essas autoridades, juízes e desembargadores concediam enxurradas de
liminares, impedindo fiscalização e derrubadas de invasões.
No apoio
logístico, a CEB e a Caesb vinham logo atrás, ligando, com presteza incomum,
luz e água nos assentamentos irregulares, para dar a ocupação como fato consumado.
Documentos de IPTU eram providenciados às pressas para dar alguma legalidade ao
crime.
Grileiros e
empreiteiros faziam a festa e a fortuna com a farra das terras. O que resultou
desses anos loucos e irresponsáveis muitos, hoje, puderam perceber e sentir na
pele. O assoreamento, a poluição e o soterramento de nascentes, o desmatamento
de matas ciliares, a impermeabilização dos solos e outros danos irreparáveis ao
meio ambiente foram o que ficou de herança da irresponsabilidade política que,
por incrível que pareça, ainda persiste de modo velado e com a mesma força
destruidora.
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A frase que
foi pronunciada
“Acreditar em algo e não o viver é desonesto.”
(Mahatma Gandhi)
Interação
Por falar em água, a Caesb precisa abrir uma linha telefônica e
configurar o WhatsApp para a população informar sobre vazamentos.