O governador Rollemberg assina hoje um acordo com o
presidente Temer para a liberação dos recursos usados na execução da obra.
Especialistas apresentaram, em audiência pública, um cenário preocupante para o
abastecimento da capital
*Por Pedro Grigori,
Após um mês da entrega do plano
emergencial para captação de água do Lago Paranoá, o governador Rodrigo
Rollemberg (PSB) vai, hoje à tarde, ao Palácio do Planalto, assinar com o
presidente da República, Michel Temer, um acordo para a liberação de R$ 55
milhões do Ministério da Integração Nacional. O recurso será usado na execução
da obra. A boa notícia foi recebida no mesmo dia em que o Ministério Público do
DF e dos Territórios (MPDFT) promoveu uma audiência pública para que
especialistas e representantes do governo debatessem com a população a situação
hídrica na capital. Ainda em clima de alerta, a Agência Reguladora de Águas
(Adasa) disse que vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça do DF (TJDFT),
que deu um ultimato de 60 dias para que o órgão desenvolva um Plano de Gestão
Hídrica e Metas de Eficiência Hídrica e estabeleça prazo para o fim do
racionamento de água.
Há um ano, os reservatórios de Santa
Maria e do Descoberto estavam com o volume máximo. Hoje, apresentam níveis de
47,56% e 43,71 %, respectivamente — índices que preocupam o professor Henrique
Marinho Leite, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de
Brasília. “Caso se mantenha a climatologia e o consumo apresentado em 2016, em
janeiro de 2018, o volume do Descoberto chegará a 0%, e o de Santa Maria estará
inferior a 5%”, projeta. O professor destaca que os limites do racionamento
devem ser revistos. “O nível de chuva no DF vem caindo ano após ano. Hoje, o
governo deve ter em mente que a variabilidade climática esperada para Brasília
não deve passar de 1.000 milímetros.”
Após o veranico, entre fevereiro e
março, a expectativa da Adasa para um cenário sustentável é a pior possível.
“Se conseguirmos chegar ao nível de 80%, ou até 70%, até abril, conseguiremos
passar pelo período de seca com abastecimento de água”, afirma Paulo Salles,
presidente da Adasa. Sobre o ultimato da Justiça para o estabelecimento de um
prazo para o fim do racionamento, Paulo Salles é incisivo: é inviável. “Não tem
como darmos um prazo com data. A situação hídrica do DF voltou a apresentar
agravantes após a interrupção das chuvas nas últimas semanas”, informou.
O governador Rodrigo Rollemberg (PSB)
participou da abertura da mesa de debate e pediu para os brasilienses mudarem a
cultura de gasto desenfreado de água. Rollemberg também voltou a declarar que a
ocupação desordenada do solo e a grilagem de terras públicas são as principais
responsáveis pela situação hídrica da cidade e garantiu que está buscando
soluções para o problema. “Estamos discutindo no âmbito do governo um decreto
que permita à Caesb instalar redes de água e hidrômetros em áreas não
regularizadas. Hoje, 35% da captação feita no DF é perdida. Não por ineficiência
da Caesb, mas por furto de água.”
A liberação da verba para a captação de
água do Paranoá ajudará no abastecimento feito hoje pelos reservatórios do
Descoberto e de Santa Maria/Torto. A obra deve começar imediatamente, com
conclusão prevista para até setembro. O projeto emergencial prevê a captação de
700 litros de água por segundo do lago.
Alerta
Mesmo com a nova captação, Sérgio José
Bezerra, subsecretário de Proteção e Defesa Civil do DF, não descarta uma piora
na situação. Ele informou que, no próximo mês, serão feitos planos de ação para
minimizar um possível colapso no abastecimento. “Trabalhamos sempre com o pior
cenário possível. Neste caso, seria para gerar um fornecimento rápido de água
por meio de caminhões-pipa.” Sérgio alertou também para perigo no consumo de
água não tratada. “Em situações de colapso, teremos que nos precaver para que
os cidadãos não consumam líquidos de córregos ou rios, para evitar situações
semelhantes às de outras cidades que enfrentaram o desabastecimento e tiveram
epidemias de doenças, como a leptospirose e salmonela.”
(*) Pedro Grigori* - Estagiário sob supervisão
de Sibele Negromonte – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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