No silêncio dos tamborins...
Todos nós
brasileiros, mestres na arte de descontrair e achar engraçados até mesmo os
maus momentos e crises de toda ordem, temos a mania de dizer, ao longo dos
tempos, que “o Brasil só começa a funcionar depois do carnaval!” E é verdade.
Não se faz planos, nem projetos, nada se programa, nem mesmo um jantarzinho
entre amigos (a não ser que seja regado a confetes, serpentinas e muitas
gostosuras geladinhas, petiscos e cabeças lindamente enfeitadas, fantasias
improvisadas ou não), para antes do carnaval. Tudo é planejado e marcado “para
depois do carnaval”.
E ele
passou. Este ano, de forma atípica e inovadora, com centenas de milhares de
pessoas aproveitando de graça nas ruas, em animadíssimos e engraçados blocos, a
exemplo do que acontecia só no Rio de Janeiro, Recife e Olinda. Este ano, a
alegria se alastrou de tal forma que até cidades sem nenhuma tradição
carnavalesca atraíram foliões, que encheram praças e ruas de maneira
esfusiante, familiar e saudável.
Os mais
céticos e críticos contumazes não deixaram suas observações de lado, quando
disseram que “só mesmo os brasileiros que, apesar de mergulhados numa crise sem
precedentes, cheios de problemas, não só na política, como também no futuro de
aposentados, pensionistas, práticas de corrupção que nunca param de ser
descobertas, crises econômica, financeira, hídrica, nessa época se esquecem de
tudo e se mostram para o mundo como um povo feliz, com uma economia e política
estáveis, como se nada de traumático e assustador tivesse acontecido e, pior,
está para acontecer”.
Qualidade
ou defeito do povo brasileiro, a verdade é que, pelo menos nessa época, o choro
e ranger de dentes, a decepção e a incerteza quanto ao futuro ficam, nem que
seja por alguns dias, à margem da vida dessa gente maravilhosa, trabalhadora,
que tanto merece momentos de alegria e descontração. Surgem, então, reis,
princesas, super - heróis, gregos e baianas, presidentes (até dos Estados
Unidos) bebesões que querem mamar, pais de família que trocam de lugar com as
esposas e se transformam em “lindas donzelas”. Tudo em nome da alegria de que
tanto precisam, para recarregar as baterias para, na Quarta-Feira de Cinzas,
quando a carruagem se transforma em abóbora, voltar ao clima preocupante de
antes.
Ao varrer
os confetes e serpentinas das ruas, ao silenciar dos tamborins, chocalhos,
surdos e taróis, ao vermos as lindas e esculturais musas descerem de seus
saltos tão altos e trocarem suas fantasias sedutoras, brilhantes e desnudas,
pelo discreto tailleur, creio que é hora de falar sério, de pensar sério, de
guardar a fantasia e assumir outro personagem.
O do
patriota, do otimista, do esperançoso cidadão que, sem medo “de pagar mico”,
torce para que tudo dê certo, para que aqueles que se encontram no comando dos
três poderes encontrem um caminho decente e idealista, com foco apenas na
qualidade de vida e no bem-estar do povo e na estabilidade física e emocional
da nação. Cruzemos os dedos, tenhamos fé e muita esperança.
Que
abandonem o jeito errado de governar e coloquem o Brasil acima de tudo, a
qualquer custo. Que saibam usar a ferramenta certa no lugar certo; técnicos e
pessoas preparadas para o exercício daquela missão, e não pensando em retribuir
a quem lhe favoreceu.
E, assim,
quem sabe, no próximo carnaval, vamos nos divertir sem ter que esquecer nada,
verdadeiramente celebrar a alegria de termos alcançado a plenitude e as
honrosas metas que nosso país tanto precisa alcançar e cumprir.
Vai ter
outro gosto. Disso estamos certos.
Por Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Foto: Edy Amaro
– Especial para o Correio Braziliense