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Brasília, 57 anos

Brasília completa 57 anos. A capital do Brasil nasceu sob o signo da esperança — nova, moderna de vanguarda. Veio ao mundo com a vocação de conjugar o verbo irradiar. Daqui soprariam ventos que inspirariam e levariam a contemporaneidade aos quatro cantos do país.

A arquitetura arrojada e o plano urbanístico davam provas de que a nação arcaica, com a cabeça na colônia, ficaria para trás. Daria a vez a mudanças por que os cidadãos ansiavam. Assim foi. A cidade exportou música, teatro, negócios, inteligência, modelo de saúde, exemplo de assistência social. Exportou, sobretudo, civilidade.

Um dos carimbos do avanço foi o respeito à faixa de pedestres. Há 20 anos, ignorar as linhas traçadas no asfalto parecia destino nacional. Não é. O Governo do Distrito Federal deu as mãos ao Correio Braziliense para promover a virada. Campanhas inteligentes conquistaram o cidadão e revolucionaram o costume. Hoje, Brasília serve de guia às demais unidades da Federação.

Mas a capital dos brasileiros perdeu o rumo. A urbe, que nasceu para irradiar, incorporou o verbo refletir. Em vez de manter o olhar voltado para  frente, olhou para trás. Contaminou-se do passado que sonhávamos deixar enterrado na poeira do atraso. O bebê, que veio ao mundo com enxoval digno da realeza, não o renovou com o passar do tempo. A roupa ficou pequena. O descaso atingiu a saúde, a educação, a cultura, a segurança, o asfalto, o transporte público.

Impõe-se retomar a vocação que deu à luz Brasília. Em português claro: urge voltar à utopia. A capacidade de sonhar é o que nos distingue dos animais irracionais e nos faz ir além da luta pela sobrevivência. A propósito, vale lembrar Aristóteles. O mestre grego faz a distinção entre história e literatura. “A história”, diz ele, “narra o que os homens foram. A literatura, o que os homens queriam ser.”

Os brasileiros querem que sua capital faça a leitura do tempo: fazer o que deixou para trás no século 20 e investir nos desafios do século 21. De um lado, fiscalizar. De outro, planejar. Fechamos os olhos a invasões, puxadinhos e corrosão do patrimônio. O resultado mais trágico é a crise hídrica. Nosso destino está nas mãos de São Pedro.

Criança que cresce precisa de roupas maiores. A população aumentou, mas a educação, a saúde, os transportes, a segurança não acompanharam o inchaço. Viraram fantasmas do que eram. E agora? O que queremos ser? O futuro vai demandar respostas sintonizadas não só com o aqui e o agora, mas também com o depois. Assim, adultos e crianças usufruirão as benesses desse belo patrimônio da humanidade.


Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog Google

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