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Um presente para Brasília

Acima, a foto da sonhada ciclovia, toda sinalizada e sombreada pelas arvóres. Ao lado, uma imagem original de um canteiro central

*Por Jane Godoy

Um presente para Brasília

Ciclistas pedalam depois do sol descendo o Eixo Monumental. As luzinhas vermelhas de seus capacetes e debaixo do celim das bikes enfeitam a noite e alertam os motoristas para que aumentem a atenção e respeitem aqueles atletas que têm nas pistas de Brasília o único espaço para seus treinos individuais ou em grupo.

Nos lagos Sul e Norte, “criaram” uma ciclovia, no acostamento, pintando faixas e desenhando bicicletas no chão, além das palavras “atenção” nos lugares mais críticos e perigosos, ou seja, nas esquinas.

Os ciclistas entram em pânico quando alguém faz o retorno e parece jogar o carro para a direita, onde está a tal “pista” para que eles possam pedalar. O pior nisso tudo é que alguns descuidados ou sem civilidade vão mesmo em curva aberta, indicando que tomarão o acostamento, bem antes do lugar determinado para virar a esquina.

Os atletas acenam freneticamente, assobiam e gesticulam, quase como a pedir socorro aos intrépidos mal-educados e, pensam eles, donos das ruas.

Aquela “ciclovia” é, na verdade, uma camuflagem para disfarçar um problema que existe, que já foi sabiamente resolvido em várias partes do mundo, mas que em Brasília é só cosmético. Aqui, ciclistas atletas ou de lazer com suas famílias são atropelados, derrubados, desrespeitados e ficam assustados com aquela situação. Eu mesma, que sempre adorei pedalar e o fazia com meus filhos quando pequenos e adolescentes, desisti de fazê-lo por causa dos perigos que corremos. Os motoristas de ônibus, então, adoram assustar os ciclistas e tirar “finos” nas magrelas.

Como ex-praticante de ciclismo, cuja bike foi doada devido ao perigo que se tornou andar de bicicleta pelos acostamentos, fico embevecida quando os vejo em grandes grupos, pedalando sadiamente, se preparando para campeonatos ou somente para se confraternizarem e praticarem juntos um esporte tão gostoso, depois de um dia exaustivo de trabalho ou estudo.

Com suas roupas coloridas, capacetes e luvas, garrafinhas d’água, lá se vão eles em revoada, espremidos naqueles acostamentos ou na pista do Eixo Monumental, sem que ninguém os proteja, confiando apenas nos pisca alertas dos capacetes e das bicicletas.

Aí, deixo de lado o devaneio e o temor maternal por eles, e volto meu olhar para aqueles enormes canteiros centrais nas EPDBs, nos eixos rodoviários Sul e Norte, e Eixo Monumental, entre outros tantos. Fecho meus olhos e começo a imaginar ciclovias construídas no centro desses canteiros centrais, entre as centenas de árvores, contornando-as é claro, deliciosamente, numa medida de preservação e respeito à natureza. Ali, todos estarão seguros e, na maior parte do percurso, à sombra das árvores, em uma pista criada para eles, com medidas, inclinações e curvas estudadas e bem planejadas. Isso poderá ocorrer em todo o Distrito Federal de forma harmoniosa, prática e segura.

Quanto aos retornos nas pistas, a ciclovia poderá mergulhar em passagem de nível, não interrompendo o trânsito de carros nem das bicicletas, o que deixará a pista de ciclismo pitoresca e bonita, conforme podem ver no projeto que sugeri ao nosso ilustrador Maurenilson, sobre foto tirada por mim no Lago Sul.

Isso é um privilégio só de Brasília, que dispõe de tantos canteiros centrais que só servem de depósito de bitucas de cigarro que os incendeiam na seca e, nas chuvas, ficam intransitáveis e enlameados.

Poderão ser colocados recantos para descanso, com canteiros floridos à sua volta, bebedouros em pontos estratégicos, espaços cimentados fora da ciclovia para um eventual conserto ou troca de pneu, sem prejudicar os que estão pedalando. Quanto às árvores, um bom estudo poderá determinar o máximo de linha reta entre elas, evitando muitos meandros na pista, preservando-as na sua totalidade.

Uma pesquisa de impacto ambiental tornará a ciclovia facilmente viável por não se sacrificar nenhuma árvore, ao contrário: elas vão enfeitar e amenizar o treino daqueles atletas. Penso, também, no quanto as famílias poderão se exercitar e aproveitar os fins de semana ao lado dos filhos, numa pista tão criteriosamente estudada.

Acho até que vou readquirir uma bicicleta, já que, assim como na ilustração, não precisaremos ter medo de ser atropelados por aí, caso aceitem nosso presente.

Informo aos leitores que, antes de materializar essa proposta, conversei longamente com Ronaldo Martins Alves, presidente da ONG Rodas da Paz, que se entusiasmou com a ideia e me incentivou a expor meu pensamento ao governador. Estou certa de que, com essa medida, Brasília será equiparada aos países desenvolvidos que se preocupam e viabilizam a prática segura de esporte tão saudável.

Que vai embelezar a cidade e beneficiar a todos os ciclistas, isso vai!!! Afinal, sonhar é de graça e faz um bem danado.


(*) Jane Godoy – Colunista - Fotos: Jane Godoy/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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