Frequentadores
subiram na ponte e para pedir a proteção do laguinho: a água do local está
muito baixa
*Por Ricardo Daehn
Mobilização e
afetividade marcaram uma iniciativa que partiu de grupo de rede social e trouxe
alento para um verdadeiro organismo vivo do Parque da Cidade: na forma de abraço
simbólico no Lago dos Pedalinhos, cerca de 60 participantes protestaram contra
a situação de penúria do local. O nível da água está tão baixo que o lago corre
o risco de secar. “O lago está morrendo de sede. Está abandonado. Temos que
mudar esta situação, rever esse descaso. O lago transmite harmonia, beleza e
tranquilidade aos frequentadores”, observa o servidor público Fábio Freitas, 52
anos. Morador da Asa Sul, ele chega a frequentar o parque até cinco vezes por
semana. Fabio aderiu ao chamado do grupo Parque da Cidade — Amigos e
Frequentadores.
Muita gente aderiu à manifestação de ontem,
espontaneamente, enquanto o organizador do evento, Raimundo Pereira, convocava
pedestres e ciclistas com um megafone. De mãos dadas, o grupo se reuniu sobre a
ponte, aos gritos de “salvem o laguinho”. Professor de educação física,
Raimundo, 61, mantém contato com mais de mil pessoas numa rede que se mobiliza
para apontar acertos e erros da administração do local.
“Entendemos que são vários os órgãos de governo
responsáveis pela área pública do parque, com ações da Novacap, do SLU e da
Caesb. Não há enfrentamento com a gente; ao contrário, em prol do parque, todos
tentam tocar a mesma música. Mas não podemos deixar de cobrar por causa do
alarmante nível em que a água chegou. Tudo piorou, inclusive na época de chuvas
do ano passado, com os peixinhos nadando de lado”, observa Raimundo.
Adepta de caminhadas no circuito que passa pela ponte
dos pedalinhos, a dona de casa Elvira Maroja, 56 anos, conta que, desde 1992,
nunca tinha visto o local do jeito que está. “Deu muita satisfação de não ver
mais tudo tão abandonado. Antes, dava para ver o fundo do lago em determinados
pontos”, comentou, sublinhando a substancial melhora, com iniciativas pontuais
da administração.
Secretário-adjunto de Esporte, Turismo e Lazer, Jaime
Recena esteve no local da manifestação e comentou sobre iniciativas para sanar
situações graves, como a falta de água no laguinho. “Nas duas últimas semanas,
tomamos medidas e, com elas, o nível de água não baixará mais. A cada ano,
temos uma conta de água estimada em R$ 500 mil. Por isso, apostamos na
construção de um poço artesiano e trabalhamos junto com a Adasa para isso,
ainda mais com a crise hídrica em curso. Estamos em meio a processo de
licitação e prevemos a inauguração do poço, no segundo semestre. A ideia é
trazer sustentabilidade e economia para os cofres públicos: os custos serão
infinitamente menores”, destaca o secretário.
Firmeza
nas promessas
“Esperamos que as
promessas se realizem. Às vezes, na ênfase das reclamações, se vê uma melhora
que, depois, cai no esquecimento. Mas com frequentadores fazendo campanha,
houve reação. Quando se chama a atenção, há quem veja com mais carinho algumas
questões”, comentou a analista judiciária aposentada Alba Alfarie. Acostumado a
práticas de caminhadas no local, o marido de Alba, Eurico Moreira, 61 anos,
nunca dispensou o hábito de observação de peixes. “Passo horas e horas olhando
os peixes. Tem muita variedade: carpa, jaú, tilápia; isso, fora as tartarugas.
Aqui, a umidade é melhor; de ontem para hoje, até melhorou a questão do nível
da água, estava mais seco ainda.”
“O lago não é apenas um acessório contemplativo.
Espécimes estão vivendo e sobrevivendo aqui. É preciso se planejar. Há até a
possibilidade de o lago secar. Então, temos que preparar uma despesca. Uma
transferência dos peixes para outro local”, explica o aposentado Edinaldo
Mesquita Carvalho, 72 anos, morador da Asa Sul e frequentador do parque.
(*) Por Ricardo Daehn – Foto: Luis Nova-Esp-CB/.D.A.Press. –
Correio Braziliense