Pintado entre 1870 e 1875, o retrato é um clássico
na obra de Édouard Manet - Exposição traz a Brasília alguns dos quadros
mais importantes da coleção do Masp. Entre as pinturas, há obras de Renoir,
Manet e Picasso
O Museu de Arte de São Paulo (Masp)
pode até não comportar adjetivos que o encaixem em um período específico da
história da arte, mas não há como deixar de notar a excelência da coleção
quando se trata da produção do fim do século 19 e da primeira metade do
20.
Esculturas de Edgar
Degas fazem parte do núcleo dedicado ao corpo
Pinçadas entre as 8
mil peças que compõem o acervo do Masp, as cerca de 100 obras escolhidas pela
dupla estão ali para falar não de escolas e épocas, mas da eterna necessidade
humana de se representar. O tema atravessa praticamente toda a história da arte
e é na pintura religiosa do Renascimento italiano que Moura e Migliaccio
decidiram iniciar essa narrativa visual que traz a Brasília algumas das obras
mais importantes do museu paulistano.
“A figura humana é um tema que
atravessa as várias histórias da arte, é um tema muito comum, com o qual todo
mundo se relaciona e que nos permite fazer esses cinco núcleos de interpretação
da coleção que são momentos de encontro das obras”, explica Moura. “Essa
exposição nasce do desejo do museu de se reinventar a partir de sua própria
história.”
A pintura de Amadeo Modigliani também está na
exposição
Representações
Dividida em três espaços, Entre nós tem
início com dois núcleos intitulados Presenças e Retratos. No primeiro, pinturas
e esculturas religiosas dialogam com várias maneiras de representação
espiritual. Lado a lado, um Ecce homo de Tintoretto, um São Francisco de El
Greco e um São Sebastião de Pietro Perugino falam dos ideais clássicos da
representação do corpo e estabelecem uma ponte atemporal com uma Virgem de
Copacabana de contornos cusquenhos e autor desconhecido e uma série de
estatuetas ibeji do povo Yorubá, ambas obras dos séculos 18 e 20.
“Esse núcleo tem a ver com a
representação ou a presentificação da figura humana no contexto religioso ou
espiritual. A gente chama de presenças porque algumas dessas imagens têm
caráter votivo. Outras têm caráter de presentificar mais que representar”, diz
Moura. Enquanto telas como a de Perugino carregam o desejo de representar um
corpo escultural, à maneira mais clássica da tradição renascentista, as
esculturas africanas têm a função de dar presença a um corpo ausente, de
presentificar alguém que se foi.
Na sala seguinte estão alguns dos nomes
mais importantes da arte europeia em uma série de retratos cujos detalhes muito
revelam sobre o pintor e o retratado. Em Retrato de jovem aristocrata, Lucas
Cranach, conhecido por eternizar os líderes da reforma protestante da Alemanha
renascentista, carrega o retratado de símbolos: uma coroa de flores para
indicar as bodas, um anel e um broche para marcar a procedência do rapaz, e a
barba rala, indício da pouca idade do modelo. É um trabalho diferente dos
retratos naturalistas de Frans Hals e dos traços barrocos de Anthony van Dyck e
Peter Paul Rubens, expostos na mesma sala ao lado de Francisco Goya y Lucientes
e Diego Velázquez.
Multiplicidade
Os franceses de diferentes escolas
também estão presentes, com destaque para a Angélica acorrentada, de
Jean-Auguste Dominique Ingres, e para dois retratos de Jean-Baptiste Camille
Corot e Gustave Courbet. Uma dama negra montada em um cavalo traz o
impressionismo de Édouard Manet para completar o passeio pela história da arte.
Aqui, os curadores inseriram um pequeno mimo: ainda que um tanto deslocado em
meio aos retratos, A educação faz tudo, do barroco Jean-Honoré Fragonard,
imprime um ar de frivolidade para o conjunto.
Na galeria seguinte, o século 20 se faz
especialmente presente em Corpos, com esculturas e pinturas que entram nos
campos das experiências das vanguardas — há um belíssimo Picasso da fase
cubista analítica e um enorme retrato de Modigliani — ou simplesmente investigam
a figura humana, seja no ambiente doméstico, seja no ateliê como modelo vivo ou
o nu, tema eterno da história da pintura. Da Arlesiana, de Vincent van Gogh,
aos corpos bem torneados do Pobre pescador, de Paul Gaugin, de O negro Cipião,
de Paul Cézanne, e da banhista de Pierre-Auguste Renoir, passando pelas
esculturas das bailarinas de Edgar Degas, a mostra oferece uma diversidade
didática, mas sem exageros.
Os brasileiros estão presentes,
principalmente, nas figuras de Vicente do Rego Monteiro, com um menino de
formas marajoaras produzido durante a fase parisiense do artista, Djanira,
Belmiro de Almeida, Almeida Júnior e Antonio Parreiras. No subsolo, o visitante
vai se deparar com uma arte na qual o popular e o engajamento social tomam a
dianteira. Ali, boa parte dos artistas são latino-americanos e falam de
realidades sociais. “É uma exposição de estudo, mas não para especialistas e
sim para o público em geral, e que traz essas questões argumentativas
conceituais do museu diverso e múltiplo, que está na essência do projeto atual
do Masp”, avisa Rodrigo Moura.
8 mil
Número de peças que compõem o acervo do
Masp - Entre
nós — A figura humana no acervo do Masp
Exposição: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Visitação até 18 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h.
(*) » Nahima Maciel – Fotos:
Divulgação – Correio Braziliense