*Por: Mônica de Assis - Maria Eduarda Melo - Ana Cristina Pinho
Desde que começou a ser celebrado no Brasil, o
Outubro Rosa tem sido associado a mensagens-chave, entre as quais a realização
de mamografias de rastreamento, isto é, aquelas feitas de rotina em mulheres sem
sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama. Sob o apelo que uniu marketing
social, sociedades médicas e mercado, o Outubro Rosa vem difundindo mensagens
nem sempre apoiadas nas melhores evidências científicas. Uma delas é a ênfase
na mamografia para a detecção precoce do câncer de mama, estendendo seu uso a
mulheres mais jovens para as quais há mais riscos envolvidos e incerteza quanto
aos benefícios.
Com base em rigorosa revisão, o Ministério da Saúde
recomenda que a mamografia de rastreamento seja feita por mulheres de 50 a 69
anos, a cada dois anos. Essa recomendação é a mesma da Organização Mundial da
Saúde e dos países que fazem rastreamento mamográfico. Esses países utilizam
estratégias comunicativas para informar as mulheres sobre benefícios e riscos
envolvidos e ressaltam o direito da mulher à decisão informada sobre o exame.
Enquanto se apela a exames de modo pouco
criterioso, pouco se fala sobre a prevenção primária do câncer de mama. Apesar
de limitada, já que não se pode mudar aspectos genéticos e da história
reprodutiva da mulher, há sim uma margem de prevenção. Prevenir significa
reduzir a exposição aos fatores modificáveis que elevam o risco da doença, tais
como excesso de peso corporal, particularmente após a menopausa, consumo de
bebida alcoólica e terapia de reposição hormonal.
No Brasil, cerca de um em cada sete casos de câncer
de mama na pós-menopausa pode ser atribuído ao excesso de gordura corporal.
Estima-se que é possível evitar 28% dos casos com alimentação saudável,
atividade física e peso corporal adequado. A amamentação é também fator
protetor e deve ser estimulada. A reposição hormonal, quando indicada para os
sintomas da menopausa, deve ser feita sob rigoroso acompanhamento médico.
Conforme o Vigitel, inquérito anual do Ministério
da Saúde, o percentual de mulheres adultas com excesso de peso no país passou
de 38,5%, em 2006, para 50,5% em 2016. Em relação à obesidade, também houve
aumento de 12,1% para 19,6%, no mesmo período.
O consumo abusivo de bebidas alcoólicas (quatro ou
mais doses, em uma única ocasião, nos últimos 30 dias) foi considerado estável
entre 2012 (10,3%) e 2016 (12,1%). Entretanto, cresceu o consumo em mulheres de
18 a 24 anos, passando de 13,5%, em 2012, para 17,3% em 2016, aumento também
observado em mulheres de 25 a 34 anos.
Quanto à atividade física, a proporção de mulheres
que a praticam em nível recomendado felizmente aumentou (de 26,5%, em 2012, para
29,9% em 2016), mas é ainda variada entre as faixas etárias e insuficiente. As
chances de desenvolver câncer de mama na pós-menopausa são 13% menores em
mulheres que praticam mais atividade física quando comparadas àquelas que pouco
praticam.
Tudo isso deve ser trazido ao debate sobre câncer
de mama no Brasil. O envelhecimento populacional aumentará naturalmente a
incidência da doença, pelo aumento do risco de câncer com o avançar da idade.
Por outro lado, a oferta indiscriminada de mamografias de rastreamento também
aumentará a incidência à custa do sobrediagnóstico (excesso de diagnóstico de
câncer de comportamento indolente que não evoluiria a ponto de ameaçar a vida).
Diante disso, como podemos reduzir o risco de câncer de mama e aumentar a margem
de proteção contra a doença? Quais mudanças são necessárias na sociedade para
promover adesão a práticas mais saudáveis?
A mulher continua a ter papel fundamental na
descoberta do câncer de mama, mesmo quando é amplo o acesso à mamografia. Por
isso se estimula que a mulher observe suas mamas no dia a dia, sem técnica
específica de autoexame, e fique atenta à presença de nódulo fixo e geralmente
indolor, alterações na pele e no mamilo, pequenos nódulos nas axilas ou pescoço
e saída de líquido anormal das mamas. A mulher informada é parte do
enfrentamento do câncer de mama. A maior consciência sobre esse problema em
suas várias dimensões e o suporte das políticas públicas de saúde devem estar
na pauta da mobilização, incluindo, mas transcendendo a realização de exames.
(*) Mônica de Assis - sanitarista do
Instituto Nacional do Câncer (Inca) » Maria Eduarda Melo -
nutricionista do Inca » Ana Cristina Pinho - diretora-geral do Inca
Fonte: Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google