Brasília,
muito além da Esplanada
*Por
Leany Barreiro Lemos - Bruno Cruz
A divulgação dos dados do IBGE sobre o PIB 2015 e as Contas Regionais levaram alguns a afirmarem, de maneira completamente equivocada, que o Distrito Federal (DF) é uma economia sem produção, que vive dos salários da sua elite burocrática. A administração pública é relevante? Claro. Afinal, Brasília é a capital do país. Mas tais afirmações não descrevem a dinâmica da economia local e estão, também, eivadas de preconceitos contra a cidade. Trazemos aqui um quadro diferente da “cidade-parasita”, tão ao gosto de analistas de ocasião, que não conseguem enxergar Brasília como a grande metrópole que é.
Nossa economia representa 3,6% do total das atividades nacionais. É a
oitava do país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, os estados do
Sul e Bahia. O PIB per capita do DF é o mais elevado do Brasil — 2,5 vezes a
média nacional. Os salários altos de uma elite do funcionalismo explicariam
sozinhos a alta renda? Não. Se a administração pública no DF fosse igual à de
São Paulo, ainda assim teríamos um PIB per capita mais alto do que o paulista.
E continuaria sendo o maior do Brasil. Estudo da Codeplan demonstra que o
diferencial de renda entre o setor público e o privado explica somente 20% da
desigualdade salarial no DF. O que explicaria o resto?
A taxa de escolarização da mão de obra é certamente um fator: ela é a
mais alta do país. Educação tem correlação direta com renda. O DF conta com 1/3
da população acima de 25 anos com mais de 11 anos de estudo, praticamente um
ensino médio completo. A segunda colocada é a região metropolitana de Curitiba,
com pouco mais de 1/5. A qualificação da mão de obra no DF também se destaca
pelo número de doutores. Segundo o CNPq, o DF tem quase 181 doutores por
100.000 habitantes. O Rio de Janeiro, segundo colocado, tem metade disso.
Brasília também foi considerada, pelo IBGE, a Grande Metrópole Nacional.
Segundo a Regic/IBGE, nossa cidade polarizava, em 2007, uma área equivalente a
298 municípios e uma população de quase 10 milhões de habitantes. No coração de
uma região que cresce de forma consistente pelo agronegócio, Brasília
consolida-se como uma grande provedora de serviços.
A alta qualificação da mão de obra e altíssima conectividade da
população à internet (primeiro lugar em acessibilidade de telecomunicações no
país) fazem com que o DF seja a sexta maior economia no setor de informação e
comunicação em valor adicionado bruto. Recentemente, Brasília foi incluída na
rede de Cidades Criativas da Unesco, categoria Design. A concentração de uma
juventude conectada, com alta qualificação e cosmopolita, inspira a criação de
clusters de profissionais para uma economia criativa. Segundo dados da Firjan,
a participação da economia criativa no DF é a terceira maior no Brasil, atrás
apenas de SP e RJ, com 3,7% do valor adicionado gerado em Brasília.
O sucesso de duas edições da Campus Party e a instalação do parque tecnológico
Biotic, aceleradoras e uma gama de startups mostram a dinâmica e vitalidade do
setor na nossa capital.
Há também por aqui uma cultura empreendedora. No Índice de Cidades
Empreendedoras 2016 (IBGE), Brasília tem o melhor índice de custo do Brasil e
segundo melhor ambiente regulatório. Já no Ranking de Competitividade dos
Estados 2017, da CLP, estamos em quarto lugar geral, depois apenas de São Paulo,
Santa Catarina e Paraná. Somos primeiro lugar nos indicadores de
Sustentabilidade Ambiental e Capital Humano, e avançamos consistentemente desde
2015 nos indicadores de Segurança Pública, Potencial de Mercado,
Sustentabilidade Social, Eficiência da Máquina Pública e Inovação. Nesse último
quesito, o aumento do gasto em Pesquisa & Desenvolvimento nos fez subir
oito posições no ranking em apenas dois anos.
O estudo da Macroplan Desafios da Gestão Estadual, recentemente
publicado pela revista Exame, nos coloca em terceiro lugar geral, e demonstra
que temos avançado nos indicadores de Instituições, de Segurança e de
Infraestrutura, o que torna o DF o melhor lugar para a Juventude viver no país
— e, certamente, um polo de atração para empreendedores. É mais fácil, sempre,
se apegar aos estereótipos. Mas Brasília é uma cidade vibrante, dinâmica,
econômica e culturalmente, que, inspirada em seu arrojo modernista, se
consolida como polo e referência nacionais. Com Esplanada, sim, mas para muito
além dela.
(*) »Leany Barreiro Lemos - Pós-doutora em ciência política por
Oxford e Princeton, e está secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do
Distrito Federal
(*)»Bruno Cruz - Doutor em economia pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica) e está diretor de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos da Codeplan
Fotos/Ilustração: Blog - Google