Me dá um prosecco, aí?
Por Liana Sabo
Desde que o bom e velho monge beneditino Dom Pérignon, no início do século 18, largou esquecidas no fundo da adega da Abadia de Hautvilliers, a 146 quilômetros de Paris, algumas garrafas de vinho branco que sofreram dupla fermentação e resultaram num néctar pleno de borbulhas, o mundo nunca mais foi o mesmo. A descoberta feita pelo padrezinho cego encantou e alegrou a vida, por isso é nessa época do ano — de confraternização e festa — que ela é mais consumida.
A bebida passou a se chamar champagne, nome da
região onde é produzida. Muitos anos mais tarde, os produtores franceses
obtiveram uma vitória política e geográfica nos tribunais internacionais. A
decisão não permite, por exemplo, que se chame champanhe o espumante produzido
fora da região de Champagne. Há no Brasil uma única exceção: o champanhe gaúcho
Peterlongo, que já completou cem anos, e obteve o registro antes de os
franceses embargarem o nome.
Os demais vinhos brancos gaseificados se chamam
espumantes; o dos espanhóis, cavas; o dos alemães, seeker e o dos italianos,
prosecco se for feito em duas regiões das colinas do Vêneto (Valdobbiadene e
Conegliano), que recentemente conquistaram direito à denominação de origem
controlada.
Semana passada ao bebericar um espumante à beira da
piscina de águas quentes no interior de Goiás, minha sobrinha Adriana se
espantou muito ao saber que prosecco é nome de uva. “Por que a senhora não
escreve uma crônica explicando isso?”, disse ela. “Muita gente não sabe que prosecco
é uva”, proposta que coloco em execução justo nessa fase de alto consumo. Nunca
na história deste país se produziu tanto vinho, uma bebida relativamente nova
se comparada com a cerveja, que tem mais de seis mil anos.
Até quem nunca tomou vinho antes tem agora à
escolha milhões de garrafas nos supermercados e nas lojas. O Brasil já
conquistou um lugar de destaque entre os grandes produtores de espumante do
mundo. De minha parte, tenho gostado cada vez mais dos rosés, uma das
categorias que vêm apresentando alguns dos melhores resultados. E com
diferentes estilos.
Para que fique bem claro e não venha a frustrar a
proposta de Adriana: o Brasil e todo o mundo não podem mais fabricar prosecco —
como era denominada a uva glera —, um registro que agora só os italianos
possuem. Isso me faz lembrar (mal comparando) uma famosa frase do folclórico
presidente do Corinthians, Vicente Matheus, cuja morte completou 20 anos,
quando disse que “gostaria de agradecer à Antarctica pelas Brahmas que nos
mandaram”.
(*) Liana Sabo – Jornalista, Colunista do
Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google