Moro, vitorioso e aclamado; Temer, constrangido - Diante do presidente Michel Temer
e de Moreira Franco, o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava
Jato, disse que o combate à corrupção não pode andar para trás e pediu o fim do
foro privilegiado para autoridades. “Não são aceitáveis retrocessos”, disse
Moro. O discurso aconteceu no evento Brasileiros do Ano, promovido pela revista
IstoÉ, em que Moro foi o principal homenageado.
“É necessária a revisão do instituto do foro
privilegiado. Primeiro porque ele é contrário ao princípio fundamental da
democracia que é o princípio do tratamento igual”, disse o magistrado.
APLAUSOS – “Eu falo isso com
bastante conforto porque eu como juiz também sou detentor desse foro
privilegiado e eu não vejo nenhum problema que ele seja retirado dos juízes. Eu
não quero esse privilégio para mim”, disse Moro.
Neste momento o juiz foi aplaudido efusivamente
pela plateia. O presidente Michel Temer e o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Moreira Franco, sentados a poucos passos de Moro, não aplaudiram.
Antes do discurso de Moro, Temer, os ministros
Moreira Franco e Henrique Meirelles e o presidente do Senado, Eunício Oliveira,
foram os únicos a não se levantar para aplaudir o juiz. Os outros 20 nomes no
palco ficaram de pé.
MOREIRA BLINDADO – No mês passado o
presidente sancionou medida provisória aprovada pelo Congresso que deu status
de ministro a Moreira Franco e assim garantiu foro privilegiado ao aliado.
Tanto Temer quanto Moreira Franco são investigados
pela Operação Lava Jato. No palco ainda havia outros citados por delatores da
operação, como o ministro Helder Barbalho, o presidente da FIESP, Paulo Skaf, e
o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), escolhido como o Brasileiro do Ano na
Política.
Moro também se dirigiu diretamente a Temer pedindo
que o governo pressione o Supremo Tribunal Federal a não mudar o entendimento
em relação à possibilidade da prisão de um condenado em segunda instância.
APOIO À PF – Moro fez o mesmo com o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao dizer que é importante manter
investimentos na Polícia Federal. “Me parece que alguns investimentos são
necessários para o refortalecimento da Polícia Federal”, disse. “Na próxima
quinta-feira haverá uma cerimônia em Curitiba em que serão devolvidos para a
Petrobras recursos recuperados nesses casos criminais da ordem de mais de R$
600 milhões”, disse. “Então investir no combate à corrupção é algo que eleva a
economia.” Moro também disse que é preciso diminuir o
loteamento de cargos públicos e reformar os tribunais de contas.
MORO RIU – Questionado pela Folha
sobre defender a Lava Jato ao lado de Temer e outros envolvidos no escândalo,
Moro riu. “Vou ficar devendo uma resposta”, disse.
Sobre a revisão pelo STF da possibilidade de rever
o cumprimento de pena após decisão em segunda instância, o juiz disse que
“ainda acha incerto que vão rever”. “Outros ministros também podem mudar de
posição, então não acho assim tão certo [que revertam o entendimento]”,
afirmou. Perguntado a quais ministros se referia, Moro declinou. “Vou ficar
devendo essa resposta.”
GILMAR É CONTRA – Na segunda-feira (4), o
ministro Gilmar Mendes, do STF, disse que a prisão após condenação em segunda
instância não é obrigatória e que é preciso desconfiar se o Ministério Público
tentar ocupar um vácuo de poder.
Em 2016, o Supremo decidiu que a pena poderia
começar a ser cumprida depois que um tribunal referendasse a primeira decisão.
Gilmar, naquela época votou a favor da execução provisória da pena, mudou de
opinião e agora defende que o réu recorra em liberdade.
“Seria possível prender-se. Mas não dissemos que
era obrigatória a prisão”, destacou o ministro durante evento em Brasília.
****
Nota
da redação do Blog – Tribuna da Internet - Temer, Moreira, Barbalho,
Meirelles & Cia. tiveram o constrangimento de ouvir Moro ser aplaudido ao
desmoralizá-los, criticando o foro privilegiado e a liberdade dos réus até
trânsito em julgado. Para eles, foi insuportável ser obrigado a ouvir Moro como
último orador. E o mais paradoxal foi que isso acontecesse numa festa da IstoÉ,
a única revista que apóia incondicionalmente o governo atual. Foi uma ironia do
destino, que Temer e sua turma tiveram de engolir. (C.N.)
Wálter
Nunes e Thais Bilenky
Folha