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MOBILIDADE » Afinal, vale a pena ter carro em Brasília?

Congestionamento na Estrada Parque Taguatinga: frota de 1,7 milhão obriga a cidade a criar alternativas de mobilidade, como ciclovias, metrô e transporte público

*Por Augusto Fernandes - Bruno Lima

Em 2017, mais de 60 mil veículos foram vendidos no Distrito Federal. Mesmo com o custo de manutenção e o alto preço do combustível, a população busca conforto e comodidade em uma cidade limitada em transporte público e ciclovias

Cerca de 1,4 milhão de automóveis circulam diariamente pelas vias do Distrito Federal. No ano passado, a frota da capital — somados carros, caminhões e motocicletas — alcançou a marca de 1,7 milhão de veículos, média de um para cada dois habitantes. Essa quantidade colabora para problemas de mobilidade. O tráfego intenso resulta em retenções e congestionamentos nos horários de pico. Além disso, a utilização de um transporte próprio acarreta gastos com combustível, manutenção e documentação. Diante disso, fica a dúvida: vale a pena ter carro em Brasília?

Na prática, o brasiliense parece não estar disposto a abrir mão do veículo para usar outros meios de locomoção. De acordo com o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do DF (Sincodiv-DF), o número de emplacamentos em 2018 deve aumentar 10%, em relação a 2017. No ano passado 66 mil automóveis foram comercializados. “A previsão é de que, neste ano, nós alcancemos pelo menos dois dígitos de crescimento nas vendas de carros e algo em torno de 5% de motocicletas. De forma geral, o ano passado apresentou uma melhora de 6% em relação a 2016. Nós estamos em uma constante de alta, e isso nos leva a crer, ao lado da recuperação da economia, que as vendas voltem a alcançar o patamar de 10 anos atrás”, opina a diretora administrativa do Sincodiv-DF, Magali Giocondo.

Segurança
Aspectos como comodidade e agilidade pesam na hora de o brasiliense escolher entre o veículo próprio e o transporte público. É assim com o assistente administrativo Lucas Nickson, 22 anos. “Desde que comprei o meu carro, sempre o uso para me locomover. É muito raro eu optar por metrô ou ônibus. O veículo está à minha disposição na hora em que eu precisar, enquanto, com o transporte público, teria de esperar um bom tempo”, justifica. Ele gasta, em média, R$ 500 por mês pelo conforto. “Usar carro ajuda a melhorar a minha qualidade de vida. O tempo que eu perderia dentro de um coletivo,posso aproveitar em outras atividades”, explica.

A falta de pontualidade dos coletivos fizeram com que Luís Filipe Barreto, 22, deixasse de utilizar o serviço. “Eu sempre andei de ônibus e gostaria de continuar usando, mas, devido a essa questão de horários, eu dou preferência para o meu carro. É muito ruim ficar esperando por um ônibus que eu nem tenho a certeza de que vai passar”, comenta. O tecnólogo em gestão pública diz que a segurança também é levada em conta. “Não que eu esteja completamente a salvo, mas é cada vez mais comum o número de assaltos no transporte público”, conta.

De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, em 2017 foram 2.681 roubos em transportes coletivos no Distrito Federal. O número é o segundo maior em comparação aos últimos quatro anos. Em 2016, ocorreram 3.130 crimes, contra 2.397 em 2015, e 2.254 em 2014.

No caso do comerciante Alisson Melo, 21, ter um automóvel é questão de necessidade. No início do ano, ele comprou um veículo para usá-lo no trabalho. “Antes, eu precisava andar com as minhas mercadorias (guarda-chuvas) nos ônibus e no metrô e sofria preconceito. Incomodava, porque eu ficava esbarrando nas pessoas. Agora, com o carro, eu posso me organizar melhor”, comemora. Ele não pensa em voltar a utilizar os transportes coletivos. “Eu continuaria a ter os mesmos problemas. Sem contar que não preciso mais esperar pelos horários dos ônibus ou do metrô. É mais confortável, porque eu tenho um espaço maior. Quando dependia do transporte público, eu ficava em pé ou sentava em cima das mercadorias”, acrescenta.

Medidas
Apesar do conforto que um carro pode oferecer, especialistas apontam que esse meio de transporte dificulta o trânsito na cidade. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques, o veículo auxilia de forma individual. “Você pode ir para qualquer lugar, a qualquer hora e sem precisar de ninguém. Mas ele não é uma solução para a mobilidade urbana. O espaço que um ônibus com 40 passageiros ocupa é o mesmo de três carros com apenas uma pessoa dentro”, ressalta.

Para Paulo César, muitas pessoas escolhem o carro pelas condições do transporte coletivo de Brasília. “É preciso mais investimento para o transporte público de forma a tornar esse serviço atrativo para a população. Porém, esse serviço não recebe a atenção devida, e as pessoas buscam formas de sair do sistema. Muitos decidem adquirir um automóvel”, avalia.

O secretário de Mobilidade do Governo do Distrito Federal, Fábio Ney Damasceno, destaca que o DF tem uma das maiores frotas do Brasil e a forma como Brasília foi planejada prioriza o uso de automóveis. “As características da cidade são voltadas para se locomover de carro. As avenidas são largas, e as pessoas precisam percorrer longas distâncias”, explica. Segundo ele, a implementação do bilhete único, o sistema de bicicletas compartilhadas, a regularização de aplicativos de transporte particular e a integração entre ônibus e metrô são medidas que incentivam a reduzção do uso do carro. No primeiro semestre do ano, será disponibilizado aos passageiros um sistema para acompanhar os ônibus via GPS para saber o horário exato em que ele passará pelos pontos. “Nós estamos promovendo um conjunto de ações para que a população do DF decida o que é melhor. As pessoas precisam refletir sobre alguns pontos, como conforto, rapidez e economia, para decidir qual transporte utilizar”, diz Fábio.



(*)Augusto Fernandes - Bruno Lima – (Especiais para o Correio) – Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

1 Comentários

  1. A matéria nem sequer mencionou o uso de motos como solução para o problema. O articulista vê apenas carros e bicicletas como agentes do trânsito. O governo precisa de enxergar a moto como solução e incentivar seu uso, facilitando estacionamento e desonerando impostos.

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