Com
troca de acusações entre candidatos, a campanha promete artilharia pesada na
TV...
É
uma maldição eleitoral que se perpetua a cada quatro anos no Distrito Federal.
À medida que a batalha pelo Palácio do Buriti avança, os candidatos começam a
sacar armas com todo tipo de munição. Na mira, os adversários mais fortes. Como
é de praxe, nessa guerra por votos vale tudo. O batalhão de Agnelo Queiroz
(PT), por exemplo, já editou os vídeos nos quais o seu principal oponente, José
Roberto Arruda (PR), recebe 50 000 reais em dinheiro vivo no
esquema de corrupção que ficou conhecido como mensalão do DEM. A ideia é
apresentar o flagrante com narrativa policialesca no horário eleitoral na TV,
que começa no dia 18. Imagens famosas de Arruda preso e abatido, com a barba
por fazer, também estão no QG dos petistas. Do outro lado do front, os soldados
de Arruda preparam sua artilharia. Uma equipe especializada elaborou um dossiê
apontando os pontos fracos de Agnelo, entre eles o nebuloso aumento de
patrimônio — cerca de 10 milhões de reais — durante os três anos em que atuou
como ministro do Esporte no governo Lula. No meio da documentação, constam
escrituras dos imóveis adquiridos pelo petista e sua mulher, Ilze Queiroz, numa
época em que seu contracheque não chegava a 15 000 reais. Entre os estrategistas de Arruda, o dossiê foi batizado de
Chapolin Colorado, uma alusão ao herói mexicano desengonçado de
uniforme vermelho.
O
próximo enfrentamento direto dos candidatos ocorre na quinta (14), no debate da
TV Bandeirantes. Como o atual cenário é propício para uma disputa mais
violenta, não há necessidade de bola de cristal na previsão de um encontro com
pouca carga ideológica e intenso fogo cruzado. Hoje, Arruda desfruta cômodos
30% nas intenções de voto, porcentual que garante sua participação no segundo
turno. Já Agnelo e Rodrigo Rollemberg (PSB) estão tecnicamente empatados em
segundo lugar. “A tendência é que a campanha entre numa escalada de baixaria
porque os principais candidatos têm telhado de cristal”, analisa Paulo Kramer,
cientista político da Universidade de Brasília. Segundo ele, a tradição de embates
mais impetuosos na capital se explica basicamente pelo perfil dos candidatos e
do eleitor do DF.
Na
avaliação da tropa de choque de Arruda, o ideal seria que ele não entrasse num
jogo mais pesado, já que está na dianteira e exibe larga vantagem. Eles esperam
que a guerra fique brutal entre Rollemberg e Agnelo. O governador já recebeu
uma pasta que contém a descrição de todos os pontos fracos do senador que
outrora era seu aliado. Com receio de entrar no campo de batalha e na
expectativa de que Agnelo caia nas pesquisas, o político ainda bate com
delicadeza no petista, principalmente para não criar antipatia no eleitorado
que o vê como um candidato elegante. O primeiro a aconselhar que Rollemberg
deveria apontar as armas para Agnelo foi o senador Cristovam Buarque (PDT), seu
maior apoiador. “Mas com cautela e sabedoria”, frisa Buarque. O conselho não
chega à toa. Ele protagonizou uma disputa histórica na campanha de 1998, quando
sua derrota para Joaquim Roriz (PSC) foi muito explicada pelo fragmento de um debate.
No calor das declarações públicas, o político do PDT disse que o seu oponente
não tinha condições de governar o DF, já que não falava corretamente o
português. Roriz ficou desestabilizado com o golpe e passou a tremer em frente
às câmeras. Muitos eleitores, compadecidos, decidiram votar no mais fraco. “Não
me arrependo de nada. Em Brasília, não dá para fazer campanha só apresentando
propostas”, diz Buarque. Administrador de crises políticas, Paulo Fona também
reforça que programa de governo não é o suficiente para eleger candidato no DF.
“O eleitor vibra com a capacidade que os candidatos têm de apontar as falhas
dos adversários”, afirma Fona.
Arruda
e Agnelo, contudo, têm inimigos extras. O primeiro aguarda uma decisão
definitiva da Justiça para saber se é elegível e se poderá tomar posse, caso
vença o pleito. Isso provoca uma insegurança muito grande no eleitor. O próprio
Arruda já confessou que gasta boa parte do tempo explicando sua situação
jurídica no corpo a corpo por votos. Agnelo, por sua vez, é assombrado por uma
rejeição de 46%, a mais alta entre todos os governadores que tentam a reeleição
no país. “Se esse índice for mantido no fim da primeira semana de propaganda
eleitoral na TV, ele não conseguirá vaga no segundo turno”, profetiza Carlos
Montenegro, proprietário do Ibope.
Nessa
estratégia belicosa, também chamada de tapetão, vale puxar uma memória mais
fresca para concluir que nem sempre o candidato agressivo leva a melhor. Nas
eleições passadas, 440 128 eleitores brasilienses
conduziram ao segundo turno dona Weslian Roriz (PRTB). O
motivo da imensa maioria desses votos estava, seguramente, no mais humano dos
sentimentos: a compaixão.
Fonte: Ulisses Campbel - Revista Veja - 09/08/2014