Verdadeira e completa operação
deve ser feita por eleitores
O
Brasil começou a ficar mais limpo depois que juízes, procuradores e policiais
federais conseguiram prender políticos poderosos e empresários ricos. Espera-se
que este trabalho continue desvendando tudo de todos, e que a Justiça faça sua
parte, sem cair outra vez nos truques que terminam zerando o trabalho de
pessoas como o juiz Moro, o procurador Janot e todos aqueles que os ajudam.
A
operação Lava-Jato fará o Brasil mais limpo, mas não bastará para construir o
país que desejamos, porque nossos problemas vão além da corrupção no
comportamento dos políticos e empresários: eles são criados, sobretudo, pela
corrupção nas prioridades das políticas que definem como os recursos públicos
são usados e para onde levam nosso país.
Além
da corrupção que a Lava-Jato está tornando visível, temos uma imensa rede de
corrupção invisível: o analfabetismo e a baixa qualidade da educação, que rouba
o futuro das crianças e do Brasil; o sistema precário de saúde, que rouba a
vida e impõe sofrimento a milhões de pessoas; o ineficiente sistema de
transporte público, que impede a mobilidade eficiente e rouba pedaços da vida
de milhões de trabalhadores em seus deslocamentos diários; a violência urbana
que faz com que nossas ruas matem e assustem mais do que as ruas de países em
guerra; um sistema de gestão pública que rouba o valor da moeda, e impede o bom
funcionamento e crescimento de nossa economia.
Podemos
receber um país limpo da corrupção dos políticos e, mesmo assim, não
construirmos o Brasil sem corrupção nas prioridades. Não basta colocar os
corruptos na cadeia, é preciso também colocar na vida pública pessoas decentes,
no comportamento e nas prioridades, capazes de fazer leis que impeçam a
corrupção e que não apenas limpem, mas higienizem eticamente o país e para isso
façam uma revolução educacional no Brasil. Terminada a Lava-Jato, será preciso
que os políticos comecem a consertar as brechas pelas quais o futuro do Brasil
é roubado todos os dias. Para alcançar esse objetivo, teremos de fazer um
concerto das forças nacionais para dar sustentação a um novo projeto nacional.
A
corrupção desvendada pela Lava-Jato é um serviço ao país que nos deixa em
dívida histórica com aqueles que a estão fazendo, mas o trabalho de construir o
Brasil que precisamos, queremos e podemos não é uma tarefa dos juízes,
procuradores e policiais; é responsabilidade dos políticos. Neste momento,
porém, não parecemos estar à altura deste desafio, seja por falta de
preocupação com o país, seja por omissão ou incompetência para liderar o Brasil
em uma nova direção.
Por
isso, a verdadeira e completa Lava-Jato deve ser feita pelos eleitores nas
futuras eleições. Por que os juízes, procuradores e policiais podem colocar
políticos na cadeia, mas são os eleitores que podem colocá-los nas cadeiras de parlamentares.
*Cristovam
Buarque é senador (PDT-DF)- Professor emérito da UNB-DF